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Supremo inova para acelerar o julgamento do mensalão
Processo foi totalmente digitalizado, e testemunha chegou a ser intimada pelo telefone
Especialistas temem que crimes prescrevam a partir de 2011, pois tribunal terá de ouvir 641 testemunhas, algumas delas no exterior
FLÁVIO FERREIRA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O STF (Supremo Tribunal
Federal) está adotando medidas incomuns para acelerar o
andamento da ação penal sobre
o mensalão, para evitar que os
crimes prescrevam a partir de
agosto de 2011, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Entre as principais providências tomadas estão a digitalização total do processo (o que
ocorreu pela primeira vez no
STF) e a determinação de que
recursos apresentados não
causem a interrupção do andamento da causa. Até a intimação de uma testemunha por telefone foi permitida no caso.
A luta contra o tempo se tornou mais difícil neste mês, pois
chegou a hora de providenciar
os depoimentos de 641 testemunhas de defesa -algumas
delas vivem no exterior. A ação
tem 39 réus, que são acusados
de formação de quadrilha, corrupção ativa ou passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta, peculato e falsidade ideológica.
Segundo especialistas em direito penal ouvidos pela Folha,
há risco de que os crimes de
formação de quadrilha prescrevam a partir de 28 de agosto
de 2011, dependendo das penas
aplicadas aos réus e outras circunstâncias do processo.
O marco para a contagem
dos prazos é o dia 28 de agosto
de 2007, data em que o STF
aceitou a denúncia da Procuradoria Geral da República. Os
prazos de prescrição são calculados a partir das penas dos crimes: como a punição para os
delitos de formação de quadrilha vai de um a três anos de prisão, estes são os que podem
prescrever mais cedo. Dos 39
réus do caso, 24 são acusados
desse crime e podem ser beneficiados com a prescrição.
Urgência
O ministro Joaquim Barbosa, o relator, aponta a urgência
do processo a cada despacho.
Em decisão de outubro passado, ele afirmou: "Em face das
peculiaridades da presente
ação penal, em que a celeridade
e a máxima diligência na condução dos atos instrutórios assumem verdadeiro aspecto
cautelar [de urgência] (...) determino que a eminente juíza
delegatária, titular da 10ª Vara
Federal do Distrito Federal, designe, para a próxima semana
(...) a audiência de oitiva da testemunha de acusação (...) podendo contatar a testemunha
por telefone, como por ela mesma autorizado".
O golpe mais eficaz contra o
retardamento do caso foi dado
pelo STF ao decidir que os recursos dos advogados contra
despachos intermediários
-como sobre pedidos de provas- não paralisam a ação penal. Em geral, são essas oportunidades de recorrer ao longo
dos processos que são aproveitadas por parte dos advogados
para atrasar o fim das causas.
Desde o início da ação, as defesas já apresentaram ao STF
sete recursos contra as decisões intermediárias do tribunal, mas mesmo assim o processo seguiu normalmente.
A informática também foi
usada para agilizar a ação. Pela
primeira vez no STF foi tomada
a decisão de colocar em meio
digital todos os autos -até sexta, os 91 volumes da ação tinham mais de 19 mil páginas. A
medida evita a perda de tempo
com o leva-e-traz dos autos que
poderia ocorrer com os pedidos
de vistas das dezenas de advogados que atuam no caso. Após
a informatização, os defensores
dos réus receberam senhas do
STF e podem consultar os autos pela internet.
Um meio pouco comum também foi usado para colher depoimentos: os relatos de parte
delas foram registrados em vídeo e foram enviados ao STF
em DVDs para transcrição. O
tribunal vai delegar a tarefa de
ouvir as testemunhas aos juízes
de 1ª instância que atuam nas
cidades onde elas vivem.
O ex-ministro José Dirceu e
o empresário Marcos Valério
de Souza informaram ao STF
que não abrirão mão dos depoimentos de testemunhas de defesa que vivem em Portugal.
Para baratear o processo, o ministro Joaquim Barbosa vem
pressionando os réus a desistirem das testemunhas ou a financiarem a viagem delas.
Cristiano de Mello Paz já desistiu de uma testemunha em
Nova York. Há ainda testemunhas solicitadas no Uruguai, na
Argentina e nas Bahamas.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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