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CAMPO MINADO
Declaração foi feita por Gilmar Mauro durante evento em São Paulo; no Sul, Stedile atacou o presidente Lula
"Ainda somos pacíficos", diz líder do MST
VIRGILIO ABRANCHES
DA REDAÇÃO
O coordenador nacional do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Gilmar
Mauro afirmou ontem que acredita que o movimento, apesar da
onda de invasões que tem promovido desde o mês passado, ainda é
muito "pacífico" e "lento". Ontem, o MST completou 81 invasões no país desde 10 de março.
"Diante de tamanhas injustiças
sociais que nós temos no país, nós
ainda somos muito pacatos, lentos, até tranqüilos", disse Mauro
em evento promovido por cinco
deputados estaduais do PT paulista na Assembléia Legislativa do
Estado. O encontro fez parte das
comemorações do aniversário de
20 anos do MST, que foi fundado
em janeiro de 1984.
"Outros países já viveram situação muito semelhante à nossa e
chegaram até a viver guerras civis.
O que nós queremos é fazer um
alerta: ou se avança numa perspectiva de resolver os problemas
sociais, ou o caos se estabelece. E
nesse sentido eu acho que ainda
somos pacíficos", disse Mauro.
O evento teve a participação de
cerca de 250 pessoas, a maioria integrantes de acampamentos e assentamentos do MST.
Representando o governo, estavam o ex-ministro da Segurança
Alimentar e atual assessor especial da Presidência, José Graziano,
e o superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) de São Paulo,
Raimundo da Silva.
Durante o evento, o líder do
MST evitou ataques ao governo e
fez questão de frisar: "A "jornada
de luta" não é contra o governo
Lula. A "jornada de luta" é contra o
latifúndio. Não temos a intenção
de desestabilizar o governo".
No entanto, houve um ponto
em que Graziano e Mauro entraram em choque. Foi quando foi
abordado o papel do agronegócio
no país, defendido pelo assessor
do presidente Lula e atacado pelo
líder do movimento.
"O setor exportador tem interesse em aumentar o mercado interno, em aumentar salários e
postos de trabalho. Esse setor não
é inimigo da reforma agrária. É
um erro político e estratégico
classificá-lo assim. Há espaço para a convivência", disse Graziano.
"O que aconteceria se aplicássemos o modelo do agronegócio de
forma cega? (...) Vamos ampliar
as favelas e os problemas sociais
dos grandes centros urbanos. Esse modelo não comporta povo",
retrucou Mauro.
Ao final, Graziano amenizou o
problema: "Não creio que o MST
veja o agronegócio como inimigo.
Tenho certeza de que irá rever essas invasões indiscriminadas".
O assessor da Presidência também admitiu que o governo Lula
enfrenta problemas para fazer a
reforma agrária. E culpou o governo anterior. "O Incra não tem,
hoje, as condições necessárias para fazer a reforma agrária. Foram
dez anos de sucateamento do Incra. É o que está impedindo a reforma agrária que o presidente
Lula gostaria de fazer." Depois,
Graziano afirmou que o governo
irá cumprir a meta de assentar 115
mil famílias neste ano.
Stedile ataca governo
Ao contrário de seu colega Gilmar Mauro, que evitou atacar a
gestão Lula durante evento do
MST, o coordenador nacional do
movimento João Pedro Stedile,
que no início do mês previu um
"abril vermelho" no país, reforçou o tom crítico ao governo federal e ao presidente.
"Elegemos o Lula para mudar o
país, e não para puxar o saco dos
banqueiros", disse, para vibração
de cerca de 300 integrantes e simpatizantes do MST que acompanhavam o discurso na Assembléia
Legislativa do Rio Grande do Sul.
De acordo com Stedile, "só um
idiota não pede para mudar a política econômica". Ele ainda definiu a elite brasileira como "estúpida e nojenta". "Milhões de desempregados neste país pedem
para ser explorados e nem isso
eles [a elite] sabem fazer."
Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência
Folha em Porto Alegre
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