|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Discrição marca trabalho de Souza
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, 57, o procurador que
pediu ao STF (Supremo Tribunal
Federal) a condenação de 40 pessoas, entre as quais dois ex-ministros do governo Luiz Inácio Lula
da Silva e vários deputados, é discreto, disciplinado, goza do respeito dos colegas e tem fama de
exigente e centralizador.
Em 30 de março, ele entregou ao
STF a denúncia criminal, fruto de
seu maior desafio profissional,
após nove meses de investigação,
um deles dedicado quase que exclusivamente a esse trabalho. Trata-se de uma peça jurídica de 136
páginas em que acusa políticos,
empresários e publicitários de crimes como corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
Há pouco mais de cinco anos,
um grave problema de saúde causou uma reviravolta em sua vida:
sofreu infarto quando descansava
com a família no litoral do Paraná
e, no hospital, teve 17 paradas cardíacas. Assustado, pensou em se
aposentar. Desistiu, mas mudou
radicalmente os hábitos.
Antonio Fernando caminha todas as manhãs nas proximidades
de sua casa, no Lago Sul, bairro de
classe alta de Brasília. Às vezes está na companhia de um dos três
filhos.
Para entregar a denúncia ao ministro Joaquim Barbosa, no STF,
montou uma operação para guardar o seu sigilo, há duas semanas.
Só anunciou a iniciativa dez dias
depois, quando a CPI dos Correios já tinha aprovado seu relatório final.
Assim, ele pretendeu evitar especulações de que fora influenciado pelos parlamentares ou os influenciara. Também tem dito que
jamais aceitará interferência do
governo no seu trabalho.
Quando o empossou, em 30 de
junho do ano passado, o presidente Lula enalteceu a importância da independência do procurador-geral e prometeu nunca lhe
pedir que "engavetasse" uma investigação. Naquele momento, a
crise política começava a surgir.
Ele substituiu Claudio Fonteles,
de quem é amigo, e ficará dois
anos no cargo.
O procurador é católico praticante como o antecessor, embora
não deixe a convicção religiosa refletir tanto no seu trabalho. Em
tom de brincadeira, os colegas o
comparam ao papa Bento 16 e dizem que Fonteles equivale a João
23, por ser mais carismático.
Antonio Fernando preservou
um bom relacionamento com os
membros das CPIs dos Correios e
dos Bingos, mas destoa do estilo
deles, porque mantém silêncio
sobre a condução do inquérito
criminal do mensalão.
A discrição é também uma marca de seu relacionamento com
jornalistas. Sempre que era indagado sobre um novo fato apurado
pelas CPIs, recusava-se a comentá-lo e dizia que o resultado das
suas investigações surpreenderia
os mais incrédulos.
Em 1994, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que condenasse o
presidente do Senado, Humberto
Lucena (PMDB-PB), à perda do
mandato por uso de gráfica oficial
para imprimir material eleitoral.
Pela primeira vez, um político
"graúdo" seria cassado. O parecer
dele foi aceito pelos ministros do
TSE, mas uma lei aprovada às
pressas pelo Congresso anistiou
Lucena.
Antonio Fernando foi considerado ousado demais e amargou
por muitos anos antipatia no
meio político, particularmente no
PMDB. Um sinal da resistência de
políticos ao nome dele é que o Superior Tribunal de Justiça o incluiu três vezes em lista para nomeação de novo ministro, em
1996, 1998 e 2001. Foi preterido
em todas elas.
Natural de Fortaleza, ele estudou direito na Universidade Federal do Paraná e entrou no Ministério Público Federal em março de 1975. Nega pretensões de
novo mandato de procurador-geral ou de nomeação para ministro
do STF ou do STJ.
Texto Anterior: Procurador cogitou pedir a prisão dos 40 denunciados Próximo Texto: Crise no governo/O presidente: Para oposição, Lula agora é o alvo principal Índice
|