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"Achei que era diária, botava no bolso sem explicar", diz reitor
Professor da Unifesp, Ulysses Fagundes Neto afirma que se equivocou ao usar cartão corporativo, mas não agiu de má-fé
Ao se explicar sobre gastos pessoais em viagens ao exterior, acadêmico diz que não vê razão para se afastar do cargo nem para punição
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O reitor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
Ulysses Fagundes Neto, 62, que
usou R$ 12 mil do cartão corporativo em compras pessoais no
exterior, disse ontem ter cometido um "equívoco", pois achava que tinha autonomia para
gastar e que entendia não se
tratar de dinheiro público.
"Eu me equivoquei. Achava
que era como uma diária, um
dinheiro que você bota no bolso
e não tem de explicar. Errei por
falta de informação. Por isso,
devolvi o valor integral numa
demonstração de boa-fé e de
respeito ao trato com o dinheiro público", afirmou o reitor.
De 2006 até janeiro de 2008,
ele gastou R$ 84,8 mil do cartão. Durante a Copa do Mundo
de 2006, foram R$ 2.473 em lojas da Nike e da Adidas na Alemanha. Na Espanha, comprou
R$ 1.411 em cerâmicas. Nos
EUA, mais R$ 5.084 em produtos eletrônicos. E na China, outros R$ 2.035 em malas.
Fagundes Neto, que é professor da Unifesp, reclamou de erros divulgados pela imprensa.
"Falam que comprei malas nos
Estados Unidos. Não foi. Foi na
China. E comprei porque as minhas arrebentaram em Hong
Kong. E esse [R$ 2.035] é o preço da Samsonite."
Questionado se está arrependido por ter usado dinheiro público em despesas pessoais, respondeu: "Não é que eu me arrependa, é que eu não fiz por má-fé. As regras não eram claras,
principalmente em 2006. O
ano foi muito confuso".
O reitor disse ter devolvido
os R$ 84,8 mil aos cofres públicos. Os últimos R$ 37 mil foram
ressarcidos anteontem. "Agora
vou entrar com recurso para
ser reembolsado, sei que tinha
direito à maior parte."
Ao falar sobre o cargo dele na
Unifesp, Fagundes Neto mudou o tom. De forma pausada,
disse que o caso não justifica
seu afastamento da reitoria
nem eventual punição -o Ministério Público Federal informou que a devolução do dinheiro não o livra de eventual
ação por má gestão pública.
"Pedir a minha saída da reitoria não se justifica porque
não houve má-fé. Punição formal eu não espero, mas a moral
eu já sofro. Estou pagando um
preço incalculável por um prejuízo sem dolo [intenção]."
O reitor declarou ainda não
temer uma invasão de seu gabinete, a exemplo do que ocorreu
na Universidade de Brasília,
onde os estudantes derrubaram a cúpula da instituição.
"Isso está maculando minha
vida pessoal, não a minha vida
acadêmica. O que tem acontecido é que, em minhas relações,
tenho de dar satisfações. As
pessoas me cobram, às vezes,
até de forma irônica. E tive de
falar para a minha mãe, uma
coisa difícil", afirmou o reitor,
que não aceitou revelar o salário dele como servidor público.
Fagundes Neto disse ter sido
notificado para depor na CPI
dos Cartões. "Vou e responderei a todas as questões."
Clima
A entrevista do reitor ocorreu num anfiteatro da Unifesp.
O clima foi tenso. Enquanto o
reitor falava com os jornalistas,
era possível ouvir, mesmo à distância, os batuques e gritos dos
alunos. "Ulysses ladrão, cadê a
educação?", repetiam.
A entrevista foi acompanhada por funcionários e amigos do
reitor que, a cada resposta dele,
torciam: "é isso", "muito bem".
Do lado de fora, dezenas de
seguranças impediam a entrada de alunos.
O coordenador do Diretório
Central dos Estudantes, Mateus Lima, um dos poucos que
assistiram à entrevista, disse
ser ingenuidade o reitor crer
que a devolução apaga o erro.
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