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ANÁLISE
Sob o signo da continuidade
Mesmo fora da disputa, Lula é o protagonista de sua própria sucessão
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao ratificar a vantagem do
tucano José Serra sobre a petista Dilma Rousseff, agora de dez
pontos percentuais, o Datafolha reforça uma evidência incontornável. O protagonista da
sucessão de Lula é, por ora, o
próprio Lula. Mesmo privado
pela Constituição de frequentar a cédula de 2010, o presidente é o pivô da eleição.
No topo da pesquisa, com
38%, Serra tornou-se um candidato sui generis. Representa
a oposição. Mas não se opõe a
Lula. Na segunda colocação,
com 28%, Dilma tenta provar-se capaz de caminhar com as
próprias pernas. Mas não logrou livrar-se de seu vício. É
"lulodependente". A sucessão é
guiada pelo signo da continuidade. Dilma leva à vitrine o que
foi feito. Serra aferra-se à cantilena de que pode fazer mais.
Para compreender o que está
por vir, o observador deve prestar atenção a um dado periférico da pesquisa. O Datafolha informa, desde dezembro, que há
na praça algo como 14% de eleitores que reúnem três características básicas. Declaram que,
com certeza, votariam no candidato apoiado por Lula. Não
são, ainda, eleitores de Dilma.
Nem sabem que ela é candidata. O grosso desse eleitorado está assentado no Nordeste. É
gente pobre, com pouco ou nenhum acesso à informação.
Pois bem, suponha-se que esses eleitores, ao tomar conhecimento da existência de Dilma,
optem por votar nela. A candidata de Lula vai a 42%.
Foi precisamente com esse
percentual de votos (42%) que
Lula prevaleceu sobre Serra no
segundo turno de 2002. Em
2006, Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin, também no segundo round, com 44,5%.
Não é por outra razão que
Serra joga suas fichas no estreitamento de relações com Aécio
Neves, o grão-duque do tucanato de Minas Gerais. Pretende
retirar das urnas de São Paulo e
de Minas, os dois maiores colégios eleitorais do país, os votos
que lhe faltarão no Nordeste.
Convém observar o destino
de Ciro Gomes, pseudocandidato do PSB. O Datafolha informa que Ciro (9%) virou uma espécie de sub-Marina Silva
(10%). Não são negligenciáveis
as chances de que Ciro seja empurrado para fora do tabuleiro.
Para onde vão os seus votos?
O Datafolha informa que,
sem Ciro, Serra sobe quatro
pontos. Vai a 42%. Dilma sobe
dois (30%). Marina também escala dois (12%). Juntas, teriam
42%. Ou seja, se a eleição fosse
hoje, Serra teria, sozinho, o
mesmo tamanho de Dilma e
Marina somadas. Daí o protagonismo de Lula.
Para seduzir os 14% que se
dispõem a votar no nome indicado pelo presidente popular, o
"oposicionista" Serra terá de
operar uma mágica: vender a
ideia de que é mais continuísta
que a própria Dilma.
JOSIAS DE SOUZA escreve o blog "Josias de
Souza - Nos Bastidores do Poder" no endereço
www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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