São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO TUCANATO

Em nota, Gregorio Marin Preciado atribui acusações ao "carregado ambiente político no Brasil"

Ex-sócio de Serra nega ter sido privilegiado

DA REDAÇÃO

O empresário espanhol Gregorio Marin Preciado, contraparente e ex-sócio do presidenciável tucano, José Serra, num terreno em São Paulo, divulgou nota ontem em que afirma não ter sido privilegiado na negociação em que o Banco do Brasil lhe concedeu uma redução de dívida de, pelo menos, R$ 73,719 milhões.
"Segundo documentos em poder de minha empresa, muitos feitos pelo próprio banco, em julho de 1994, a dívida já havia dobrado, em dólar. Um ano depois, alcançava US$ 22 milhões e, em março de 1999, atingia US$ 140 milhões. Sem que tivéssemos recebido nenhum outro empréstimo, nossa dívida aumentou 46 vezes em dólares", diz Marin.
A Folha divulgou no último dia 10 que Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha de Serra, ajudou a favorecer em 1995 as empresas Gremafer e a Aceto, de propriedade de Marin. Ricardo Sérgio foi diretor do BB de 95 a 98.
O primeiro empréstimo foi equivalente a US$ 2,5 milhões, em agosto de 93. O segundo empréstimo, equivalente a US$ 2,8 milhões, saiu no final de 95. A dívida disparou por causa dos juros altos e da falta de pagamento. Chegou a passar de R$ 61 milhões em novembro de 98, quando o BB desistiu de ajudar as empresas -uma data que coincide com a saída de Ricardo Sérgio da instituição.
Em novembro de 95 a diretoria do BB aprovou uma redução de R$ 16,453 milhões na dívida das empresas de Marin. Além disso, concedeu novo empréstimo no valor de US$ 2,8 milhões.
Em 1998, o Banco do Brasil resolveu liquidar as operações e fazer uma nova recomposição. Infladas pelos encargos e juros altos, a dívida da Gremafer e da Aceto estava em R$ 61,380 milhões. Marin conseguiu um abatimento de R$ 57,266 milhões e passou a dever apenas R$ 4,114 milhões.
De acordo com o empresário, "negociações semelhantes foram feitas com outros bancos, só que privados, na mesma época, em condições melhores do que as acordadas" com o BB.
Marin diz que "jamais" ofereceu o terreno que possuía em sociedade com Serra como "garantia nas negociações e renegociações" da dívida. Afirma que o "terreno foi vendido antes do ajuizamento de execução pelo banco. A Folha publicou que o BB protocolou um pedido de arresto na Justiça em 25 de julho de 1995, e que a venda havia sido realizada em 19 de setembro de 95, segundo registros de cartório. Marin e Serra foram informados sobre essas datas obtidas pelo jornal. No dia seguinte, o pré-candidato disse que a venda fora feita em 25 de abril de 95.
Sobre ter sido representante da empresa espanhola Iberdrola durante privatização de empresas estatais de energia elétrica, declarou que sua "atuação consistiu em ajudar a trazer para o Brasil capitais estrangeiros produtivos".
Leia a seguir a íntegra da nota:
 
"Tomando conhecimento na Espanha, onde me encontro por conta de dolorosos problemas familiares, de reportagens publicadas pela Folha, venho prestar os seguintes esclarecimentos:
1) Minha empresa, a Gremafer, atuante desde 1970, tomou emprestado no Banco do Brasil recursos no valor correspondente a US$ 5,3 milhões. Tive problemas para liquidar a dívida, deixando pendente um valor de US$ 3 milhões em fevereiro de 1994;
2) Segundo documentos em poder de minha empresa, muitos feitos pelo próprio banco, em julho de 1994 a dívida já havia dobrado -em dólar. Um ano depois, alcançava US$ 22 milhões. E, em março de 1999, atingia US$ 140 milhões. Sem que tivéssemos recebido nenhum outro empréstimo, nossa dívida aumentou "46 vezes em dólares!';
Alguém que quisesse fazer uma leitura política de privilégio em relação a Gremafer/Aceto, ao se debruçar sobre os mesmos números poderia se convencer do contrário. As draconianas regras do sistema bancário se assemelham mais a uma perseguição para quem tenta sobreviver após se enredar nelas do que a um benefício ou a um privilégio;
3) Jamais ofereci em garantia nas negociações ou renegociações um terreno que possuí em sociedade com o senador José Serra, terreno esse que foi vendido antes do ajuizamento de execução pelo Banco do Brasil, ao contrário do que publicou a Folha;
4) Negociações semelhantes foram feitas com outros bancos, só que privados, na mesma época, em condições inclusive, ressalte-se, melhores do que as acordadas com o Banco do Brasil;
Todos os processos passaram, como só poderia ser, pelas diversas instâncias técnicas do banco numa tramitação absolutamente regular. Não fomos atingidos por nenhuma regra que não tenha sido aplicada a outros clientes;
5) Todos os documentos comprobatórios destas afirmações estão à disposição das autoridades competentes;
6) Quanto à Iberdrola, minha atuação consistiu em ajudar a trazer para o Brasil capitais estrangeiros produtivos em conformidade com minha função e missão institucional.
Lamento apenas que o carregado ambiente político no Brasil acabe criando condições para produção e geração de acusações infundadas como as que atingiram minha empresa e a mim.
Gregório Marin Preciado"


Texto Anterior: No Ar - Nelson de Sá: Tudo ecumênico
Próximo Texto: Marin fundou subsidiária que atuou em leilões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.