São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 2006

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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS

Em janeiro, relatório sobre Wanderval Santos apontou "promiscuidade" em verbas para RN

Conselho suspeitou de emenda de mensaleiro

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

O Conselho de Ética da Câmara já havia apontado no início deste ano uma "promiscuidade" na apresentação de emendas ao Orçamento -no valor de cerca de R$ 3 milhões- pelo deputado federal Wanderval Santos (PL-SP). Integrante da lista de 62 nomes encaminhados pela Polícia Federal à Câmara, Santos foi excluído da investigação pelo corregedor Ciro Nogueira (PP-PI).
Conforme relatório do conselho, Santos destinou emendas a duas entidades não-governamentais de municípios do Rio Grande do Norte ligadas a seu ex-assessor Francisco Martins, que deixou o gabinete do parlamentar em março, informou a assessoria do deputado, para ser candidato.
De autoria do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), o relatório aprovado pelo Conselho de Ética (por 10 votos a 3) em 20 de janeiro passado pediu a cassação de Santos porque ele foi apontado como beneficiário de R$ 150 mil do esquema montado por Marcos Valério. O dinheiro foi sacado por um funcionário do seu gabinete de conta no Banco Rural. Em março, Santos foi absolvido.
Além de discorrer sobre o esquema do mensalão, Alencar citou como agravante da conduta de Santos a elaboração de uma emenda de R$ 2,8 milhões para a Fundação Maria Fernandes dos Santos, de Martins (RN), e de R$ 220 mil para Fundação Hipólito Pereira dos Santos, em Serrinha dos Pintos (RN).
O relator diz que a "promiscuidade é sugerida" pelo fato de um deputado de São Paulo apresentar uma emenda para municípios do interior do Rio Grande do Norte.
Francisco Martins, o ex-assessor, disse à Folha que a Fundação Maria Fernandes dos Santos apenas leva o nome de sua avó e que a Hipólito Pereira dos Santos é "de um tio de seu pai". Procurador da primeira fundação, Wilton José Jacomi disse que a presidente da entidade, Márcia Maria dos Santos, é irmã de Martins.
Segundo o procurador, a emenda de Santos prevê a liberação de R$ 2,7 milhões, e não de R$ 2,8 milhões, para compra de ônibus para transporte escolar, construção de uma biblioteca, compra de um microônibus com equipamento de informática, de cadeiras de roda, aquisição de freezer para pescadores e até de um trator para conservação de estrada.
"Nada foi liberado. Ainda estamos fazendo os projetos para que o dinheiro chegue", afirmou o procurador.
Conforme a PF, além de prefeituras que recebiam dinheiro do Orçamento para compra de ambulâncias superfaturadas, o esquema Sanguessuga incluía o repasse de verbas para entidades não-governamentais.
O delegado Tardelli Boaventura, que conduz as investigações, disse que a PF ainda analisa o sistema de apresentação de emendas de deputados de um Estado para projetos em outro Estado. Tardelli disse, porém, que não investiga congressistas.
Além de dinheiro para a fundação no município de Martins, Santos destinou uma emenda de R$ 280 mil para compra de tratores à prefeitura, segundo seu ex-assessor. "O prefeito de lá é do PL, é do sistema dele [do deputado]."
O prefeito Haroldo Ribeiro Teixeira (PL) nega ter relação com o deputado. "O assessor [Martins] nasceu aqui e consegue algumas emendas para nós. Não sei de que deputado", disse.
Teixeira afirmou ainda que assumiu o cargo em junho do ano passado após a cassação da eleita em 2004, Maria José Fernandes. Ele afirma que a ex-prefeita, não localizada pela reportagem, repassou R$ 700 mil de verbas federais à Fundação Maria Fernandes para compra de alimentos e colchonetes, mas a transferência está sob investigação do Ministério Público Federal.
No caso da outra fundação, a Hipólito Pereira dos Santos, os R$ 220 mil da emenda de Santos vão para compra de medicamentos, ambulância e cadeiras de rodas. No telefone indicado pela Prefeitura de Serrinha dos Pintos como sendo o da entidade ninguém atendia o telefone.


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