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MÁFIA DOS SANGUESSUGAS
Em janeiro, relatório sobre Wanderval Santos apontou "promiscuidade" em verbas para RN
Conselho suspeitou de emenda de mensaleiro
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)
O Conselho de Ética da Câmara
já havia apontado no início deste
ano uma "promiscuidade" na
apresentação de emendas ao Orçamento -no valor de cerca de
R$ 3 milhões- pelo deputado federal Wanderval Santos (PL-SP).
Integrante da lista de 62 nomes
encaminhados pela Polícia Federal à Câmara, Santos foi excluído
da investigação pelo corregedor
Ciro Nogueira (PP-PI).
Conforme relatório do conselho, Santos destinou emendas a
duas entidades não-governamentais de municípios do Rio Grande
do Norte ligadas a seu ex-assessor
Francisco Martins, que deixou o
gabinete do parlamentar em março, informou a assessoria do deputado, para ser candidato.
De autoria do deputado Chico
Alencar (PSOL-RJ), o relatório
aprovado pelo Conselho de Ética
(por 10 votos a 3) em 20 de janeiro
passado pediu a cassação de Santos porque ele foi apontado como
beneficiário de R$ 150 mil do esquema montado por Marcos Valério. O dinheiro foi sacado por
um funcionário do seu gabinete
de conta no Banco Rural. Em
março, Santos foi absolvido.
Além de discorrer sobre o esquema do mensalão, Alencar citou como agravante da conduta
de Santos a elaboração de uma
emenda de R$ 2,8 milhões para a
Fundação Maria Fernandes dos
Santos, de Martins (RN), e de R$
220 mil para Fundação Hipólito
Pereira dos Santos, em Serrinha
dos Pintos (RN).
O relator diz que a "promiscuidade é sugerida" pelo fato de um
deputado de São Paulo apresentar
uma emenda para municípios do
interior do Rio Grande do Norte.
Francisco Martins, o ex-assessor, disse à Folha que a Fundação
Maria Fernandes dos Santos apenas leva o nome de sua avó e que a
Hipólito Pereira dos Santos é "de
um tio de seu pai". Procurador da
primeira fundação, Wilton José
Jacomi disse que a presidente da
entidade, Márcia Maria dos Santos, é irmã de Martins.
Segundo o procurador, a emenda de Santos prevê a liberação de
R$ 2,7 milhões, e não de R$ 2,8
milhões, para compra de ônibus
para transporte escolar, construção de uma biblioteca, compra de
um microônibus com equipamento de informática, de cadeiras
de roda, aquisição de freezer para
pescadores e até de um trator para
conservação de estrada.
"Nada foi liberado. Ainda estamos fazendo os projetos para que
o dinheiro chegue", afirmou o
procurador.
Conforme a PF, além de prefeituras que recebiam dinheiro do
Orçamento para compra de ambulâncias superfaturadas, o esquema Sanguessuga incluía o repasse de verbas para entidades
não-governamentais.
O delegado Tardelli Boaventura, que conduz as investigações,
disse que a PF ainda analisa o sistema de apresentação de emendas de deputados de um Estado
para projetos em outro Estado.
Tardelli disse, porém, que não investiga congressistas.
Além de dinheiro para a fundação no município de Martins,
Santos destinou uma emenda de
R$ 280 mil para compra de tratores à prefeitura, segundo seu ex-assessor. "O prefeito de lá é do PL,
é do sistema dele [do deputado]."
O prefeito Haroldo Ribeiro Teixeira (PL) nega ter relação com o
deputado. "O assessor [Martins]
nasceu aqui e consegue algumas
emendas para nós. Não sei de que
deputado", disse.
Teixeira afirmou ainda que assumiu o cargo em junho do ano
passado após a cassação da eleita
em 2004, Maria José Fernandes.
Ele afirma que a ex-prefeita, não
localizada pela reportagem, repassou R$ 700 mil de verbas federais à Fundação Maria Fernandes
para compra de alimentos e colchonetes, mas a transferência está
sob investigação do Ministério
Público Federal.
No caso da outra fundação, a
Hipólito Pereira dos Santos, os R$
220 mil da emenda de Santos vão
para compra de medicamentos,
ambulância e cadeiras de rodas.
No telefone indicado pela Prefeitura de Serrinha dos Pintos como
sendo o da entidade ninguém
atendia o telefone.
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