São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006

PT teme abordar ataques na campanha; tucanos admitem estrago eleitoral, mas prometem reagir com gravações de criminosos

Caso PCC abre "guerra fria" entre PT e PSDB

MALU DELGADO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Estado de São Paulo podem provocar uma espécie de guerra fria entre PSDB e PT na campanha eleitoral. Os tucanos têm a dimensão do estrago que a crise na segurança pública causará à campanha de Geraldo Alckmin à Presidência. Do outro lado, o PT quer expor as fragilidades da gestão de Alckmin, mas acha delicado explorar o último episódio de forma ostensiva na campanha no rádio e na TV.
Já temendo o uso eleitoral dos ataques do PCC, tucanos de São Paulo falavam ontem em utilizar supostas fitas contendo diálogos de integrantes da facção criminosa com ameaças ao ex-governador Geraldo Alckmin e a deputados estaduais do PSDB.
Segundo avaliações da cúpula do PT, o episódio dificulta ainda mais a largada da campanha de Alckmin. Mas, por se tratar de um tema complexo, que envolve responsabilidades tanto dos Estados quanto da União e a vida da população, usar a crise em São Paulo como trunfo político é ignorar, conforme a definição de um petista, "que o telhado é de vidro".
Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dirigentes petistas mostram disposição para trazer o debate sobre segurança pública para a campanha eleitoral, com intuito de expor as fragilidades da gestão do adversário tucano, mas sem usar de forma ostensiva as imagens da última onda de ataques do PCC.
Para os petistas, a crise em São Paulo é auto-explicável. "O PSDB e o PFL vão apanhar da população, não tenha dúvida. Nem precisa partir da gente. Surfar na crise é inadequado", disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP). "Isso não é tema para capitalização política. Segurança pública é um problema de Estado", definiu um petista envolvido nos debates da campanha.
No campo oposto, dirigentes do PSDB afirmam que só irão divulgar na campanha os diálogos entre criminosos com ameaças aos tucanos caso adversários radicalizem nas imagens do "pânico no Estado". A Folha ouviu o mesmo relato de quatro parlamentares e de um assessor de Alckmin que afirmam ter ouvido parte dos diálogos, interceptados pela Polícia Federal e cedidos à Polícia Civil paulista. Em um deles, um suposto líder do PCC dá uma ordem para que Geraldo Alckmin seja "liqüidado". Segundo os tucanos, ele falava em um celular de dentro de um dos presídios do Estado.
Contudo, o próprio secretário da Segurança paulista, Saulo de Castro Abreu Filho, teria minimizado a importância dos personagens envolvidos nos diálogos.

Lula
A Folha apurou que tanto o presidente Lula quanto o presidente do PT, Ricardo Berzoini, já deram orientações para as equipes de comunicação de como tratar o episódio. "Não vamos tratar isso de maneira oportunista, não vamos centrar na análise dos episódios [a ação do PCC]. Mas vamos tratar o aspecto político, o gerenciamento. Como pode falar em choque de gestão um governo que não é capaz de impedir celular dentro dos presídios?", provoca Berzoini.
Berzoini não nega nem admite que os ataques em São Paulo poderão ser utilizados na TV: "Não há ainda definição de estratégia de campanha. Não diria o que é possível e o que é impossível. Só posso dizer que vamos propor um debate de alto nível sobre política de segurança nos Estados".
O presidente do PT criticou o fato de o governo estadual ter negociado com os líderes do PCC para que as rebeliões fossem cessadas. "Isso é absurdo. Chegar a esse ponto significa na prática abrir precedente para rebeliões periódicas, com atentados à sociedade. Se houve negociação é um escândalo de grandes proporções."
Lula deixou claro a auxiliares que o governo federal teria que agir de forma isenta na crise em São Paulo. O presidente fez questão da viagem do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a São Paulo para colocar-se à disposição do governador Cláudio Lembo. Havia um temor no Palácio do Planalto de que qualquer demora na ação federal pudesse ser confundida com a disputa eleitoral.
A recusa de Lembo em aceitar o auxílio da União (o governador disse que a crise estava sob controle) foi apontada pelo PT como um trunfo concreto do presidente Lula, que pode ser abertamente utilizado na campanha. "A oferta foi de boa fé. Senão tivesse sido feita, diriam que Lula abandonou São Paulo", disse Chinaglia.
O governo federal também se prepara para reagir contra eventuais críticas tucanas. O Ministério do Planejamento já tem na mão os números do investimento em segurança pública feitos via Ministério da Justiça. Em 2002, o governo federal executou R$ 761,2 milhões do Orçamento para o setor. A projeção para 2006 é de quase o dobro: R$ 1,4 bilhão.

Grampo de 2002
Deputados ligados a Alckmin também ameaçavam utilizar outra fita, fruto de grampo telefônico, esse da campanha de 2002, em que um suposto líder do PCC dizia que a facção deveria trabalhar contra a candidatura do tucano. Naquela ocasião parte do comando da campanha era favorável a levar o material ao programa de TV do candidato, mas acabou prevalecendo a decisão do próprio Alckmin e de sua equipe de comunicação contra a veiculação.
Ontem os tucanos paulistas estavam pessimistas com relação aos possíveis danos causados pela crise da seguranças nas campanhas de Serra e Alckmin. "Agora será o mensalão contra o pânico em São Paulo", dizia um deles.
Eles também não poupavam a comunicação do governo Cláudio Lembo, que teria sido lenta em informar a população, o que provocou uma onda de boatos.


Texto Anterior: Propaganda: TSE suspende anúncios do PSDB em 2007
Próximo Texto: Dos EUA, Mercadante critica governo paulista; em viagem, Serra nada fala
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.