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Obras do PAC esbarram em conservação da Amazônia
Segundo ONG, 322 zonas de alta biodiversidade estão sob ameaça na floresta
Unidade de conservação
proposta por Marina Silva
foi tirada de plano federal
porque poderia impedir
barragens futuras no Xingu
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Ao serem colocados sobre a
mesa, fica claro o choque. Os
planos de infra-estrutura para
a Amazônia, quando totalmente implantados, vão ameaçar as
áreas prioritárias para a conservação da floresta, que já estão desenhadas pelo próprio
governo federal.
O alerta vem sendo dado por
cientistas e ambientalistas desde o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). No ano passado, um levantamento da ONG Conservação Internacional apontou que
322 áreas de grande importância para a biodiversidade -ou
seja, onde seria recomendável
criar unidades de conservação- estão sob influência direta de estradas, hidrelétricas,
portos ou gasodutos. Cinco estradas cortarão essas regiões
sensíveis, aponta o documento.
As obras também influenciam diretamente terras indígenas e unidades de conservação já criadas. Em todas elas, há
risco de aumento do desmate.
Neste ano, um relatório ainda inédito do IAG, um grupo de
consultores contratados pelo
Ministério do Meio Ambiente
para avaliar o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, fez críticas à forma como as obras de infra-estrutura
vêm sendo planejadas.
O documento, obtido pela
Folha, diz: "Apesar de todas as
diretrizes estabelecidas em documentos governamentais (...),
a efetividade do planejamento
racional de infra-estrutura na
Amazônia, sobretudo de estradas e hidrelétricas, ainda não
está assegurada".
Segundo Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
a ciência tem mostrado que
grandes obras de infra-estrutura, em especial estradas, são vetores claros de desmatamento.
"Se o governo quer acelerar
as obras, seja para a integração
sul-americana, seja para a geração de energia, precisaria ter
um novo paradigma de economia florestal. Só que ainda não
descobrimos como tirar valor
da floresta em pé", diz.
"É muito difícil prever que
rumo o presidente Lula vai dar
para a política ambiental [após
a saída de Marina Silva]", afirma Ima Vieira, diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Xingu
A julgar pelos cortes feitos
por Lula e pela Casa Civil no
PAS (Plano Amazônia Sustentável), no entanto, a balança
pende para o lado das obras -e
não da floresta. Uma das principais unidades de conservação
cuja criação foi proposta ao plano por Marina Silva, a Reserva
Extrativista do Médio Xingu,
no Pará, foi vetada porque poderia atrapalhar a criação de
barragens adicionais da usina
hidrelétrica de Belo Monte.
Dilma Rousseff cuida diretamente desse projeto, considerado crucial para que o país não
tenha um apagão de energia
elétrica na próxima década.
Tudo indica que, depois da
crise envolvendo o licenciamento das usinas do rio Madeira, Belo Monte seja a bola da
vez. A região do Xingu concentra um grande número de terras indígenas, e os índios já impediram construção da usina
20 anos atrás, quando ela se
chamava Cararaô.
O projeto, agora, volta a ser
discutido pelos índios. Na segunda-feira, representantes de
várias etnias se reúnem em Altamira para debater os possíveis impactos da megausina -e
de outras- sobre suas terras.
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