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ENTREVISTA - MAYNARD MARQUES SANTA ROSA
Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país
General pivô de polêmica defende que ditadura de 1964 foi autoritária, mas não totalitária, e deixou imprensa "amplamente livre"
RESPONSÁVEL até fevereiro deste ano pelo
Departamento de Pessoal do Exército, o
general Maynard Marques Santa Rosa, 65,
disse à Folha que está em andamento um
processo para transformar o Brasil numa "ditadura
totalitária comunista" e que o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é parte dessa estratégia.
Ele afirma que "com certeza" há exagero quando
se fala em tortura na ditadura militar (1964-85).
"Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou
russo? Não existe, porque não se deixava sair [da
prisão]. Então, foi a bondade, entre aspas, dos torturadores que permitiu que saíssem [no Brasil]."
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O general foi duro em relação
à pré-candidata Dilma Rousseff
ao dizer que a Comissão da Verdade, criada pelo PNDH, só seria correta "se você perguntasse a Dilma quantas pessoas ela
assaltou, torturou, matou..."
Quanto à eleição, diz não estar
animado: "Na Dilma, não voto
de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra".
Santa Rosa foi exonerado
após a Folha ter publicado e-mail em que ele classificou a
Comissão da Verdade de "comissão da calúnia integrada
por fanáticos". Ficou encostado no Comando da Força até
passar para a reserva, em 31 de
março. Segundo diz, "95% do
Exército" pensa como ele. A diferença é que Santa Rosa é um
dos raros casos de militar que
diz o que pensa em público.
FOLHA - Qual é sua opinião sobre o
governo Lula?
MAYNARD MARQUES SANTA ROSA -
Acho o presidente uma pessoa
simpática, tem empatia com o
público e sensibilidade em detectar os anseios da massa. O
que é diferente da linha governamental que ele segue. Está
rodeado de pessoas impregnadas de preconceito e ideologia.
O governo tem várias caras.
Ideologicamente, é intolerante,
autoritário. Para ser mais preciso, tem anseio totalitário.
FOLHA - O Lula?
SANTA ROSA
- O governo. O presidente, não. Não sei se ele é
usado ou se ele usa esse grupo
para promover seus interesses.
FOLHA - O que caracteriza o autoritarismo do governo?
SANTA ROSA
- A intolerância
com opiniões contrárias. Quem
examinar o Programa Nacional
de Direitos Humanos vai interpretar o que digo. Aquilo é um
tratado ideológico de extrema
intolerância, onde se pretende
regular uma sociedade inteira.
Adota o tal princípio da transversalidade. Na medida em que
se têm intenções que transcendem Legislativo e Judiciário,
são pretensões que transcendem até preceitos da Constituição, portanto, totalitárias.
FOLHA - Em que parte o 3º PNDH
transcende Legislativo e Judiciário?
SANTA ROSA
- Quando propõe a
institucionalização de mecanismos ilegais. Ingerir no processo judicial de reintegração
de posse transcende a lei e na
estimulação da degradação dos
costumes à revelia da tradição
cristã que temos, ao estimular a
homoafetividade.
FOLHA - Totalitarismo não é o contrário, exigir que todos tenham o
mesmo comportamento?
SANTA ROSA
- Querer consertar
isso com outra penada mais totalitária é que é o erro. Temos
de deixar fluir a natureza, inclusive nas relações sociais.
FOLHA - Os dois planos elaborados
no governo FHC já não continham
basicamente os mesmos pontos.
SANTA ROSA
- O primeiro plano
não choca ninguém. Embora
tenha bandeiras polêmicas,
obedece ao princípio da naturalidade, não faz a sociedade civil engolir pontos que não lhe
pertencem, diferentemente do
de agora, fabricado de fora.
FOLHA - De fora? De onde?
SANTA ROSA
- Se você pesquisar
a similitude entre a Constituição venezuelana, e também a
equatoriana e a boliviana, que
são clones adaptados aos seus
países, vai verificar qual é a origem. Isso tudo é uma composição organizada, é uma conspiração internacional.
FOLHA - Durante seus 49 anos no
Exército, o sr. conheceu muitos gays
nas Forças Armadas?
SANTA ROSA
- Não, existe uma
rejeição inata da estrutura militar contra isso. O problema é
que existe uma articulação, no
sentido de transformar a sociedade, colocar uma nova cultura
goela abaixo na classe média, e
isso é apenas uma fase preliminar para depois se implementar o que se quiser.
FOLHA - E o que se quer?
SANTA ROSA
- Uma ditadura totalitária.
FOLHA - Comunista?
SANTA ROSA
- Exatamente. Primeiro, transformar os costumes da sociedade, para, por último, implementar o sistema
totalitário. Falar isso no século
21 é quase uma aberração.
FOLHA - Após 21 anos de ditadura,
a democracia não é irreversível?
SANTA ROSA
- Não acho. O povo
não reage, está numa situação
letárgica. Nosso povo não tem
opinião, e quem tem se cala. Estamos anestesiados.
FOLHA - No seu e-mail contra o plano não havia nada disso.
SANTA ROSA
- O nosso foco era a
defesa da instituição militar.
FOLHA - Nosso? De quem?
SANTA ROSA
- Meu. O foco militar era porque, se se conseguisse abrir a Comissão da Verdade,
o resto seria facilmente alastrado. Houve uma reação institucional à qual até o próprio ministro [Nelson Jobim] aderiu,
reconhecendo que iria causar
uma desarmonia grande. Então, ele contrapôs aquele protesto que levou o presidente a
flexibilizar a redação do plano.
FOLHA - Que nota o sr. dá para o
ministro Nelson Jobim?
SANTA ROSA
- Para o momento,
é o melhor que se tem. É preparado, foi ministro do STF, da
Justiça, tem relacionamentos
de alto nível e é inteligente. O
Ministério da Defesa é uma necessidade, faz parte da modernidade do Estado.
FOLHA - Como o sr. define o regime
de 1964?
SANTA ROSA
- Um regime emergencial, um mal que livrou o
país de um mal maior.
FOLHA - E a tortura?
SANTA ROSA
- Nunca foi institucionalizada, é um subproduto
do conflito. A tortura começou
com os chamados subversivos.
Inúmeros foram justiçados e
torturados por eles próprios,
porque queriam mudar de opinião. A tortura nunca foi oficial.
FOLHA - O sr. critica que o plano está transportando para o país um regime autoritário, mas não foi justamente o de 1964?
SANTA ROSA
- Foi autoritário,
mas não totalitário.
FOLHA - Qual é a diferença?
SANTA ROSA
- A imprensa, por
exemplo, foi amplamente livre.
FOLHA - Como?!
SANTA ROSA
- Só teve censura
no momento de pico, a partir
do AI-5 [1968]. Se não houvesse
um enrijecimento político naquela oportunidade, poderia se
perder o controle. Considero
isso tudo um mal, mas um mal
menor e necessário.
FOLHA - O sr. aceita um militar torturando uma pessoa indefesa, um
jovem, uma mulher, desarmados?
SANTA ROSA
- Nenhum militar
torturou ninguém. Se houve,
foi no Dops [Departamento de
Ordem Política e Social, oficialmente vinculado à polícia].
FOLHA - Não é covardia matar pessoas e torturar rapazes e moças, algumas grávidas, depois de presas?
SANTA ROSA
- Sinceramente,
não sei de nenhum caso. O que
existe é produto de imaginação.
FOLHA - O sr. tem dúvida? A própria ex-ministra Dilma Rousseff foi
presa e torturada.
SANTA ROSA
- Ela diz que foi torturada, mas... Só no Brasil, a
pessoa que sobrevive, e está
com boa saúde, alega a tortura
para ganhar os benefícios, sejam políticos ou de pensão.
FOLHA - É mentira que houve tortura?
SANTA ROSA
- Com certeza absoluta. Vocês conhecem algum
ex-torturado cubano? Ou russo? Ou chinês? Não existe, porque não se deixava sair [da prisão]. Então foi a bondade, entre
aspas, dos torturadores que
permitiram que saíssem [no
Brasil]. Institucionalmente, legalmente, não houve [tortura].
Não posso afirmar que, fora do
controle, não tenha havido.
FOLHA - Não é justo, portanto, ter
uma Comissão da Verdade para
apurar se houve ou não houve?
SANTA ROSA
- Seria justo se os
dois lados dissessem a verdade.
Se você perguntar a Dilma
Rousseff quantas pessoas ela
assaltou, torturou, matou...
FOLHA - Até onde se sabe, ela não
matou ninguém.
SANTA ROSA
- É o que ela alega.
Sabe-se que tem vítima.
FOLHA - Qual é a sua opinião sobre
José Serra? Ele foi presidente da
UNE, exilado no Chile...
SANTA ROSA
- É um administrador competente, um gestor público excelente, tanto que, se
voltar para São Paulo, se reelege. Mas eu estou me atendo ao
produto do trabalho dele.
FOLHA - E a Marina Silva?
SANTA ROSA
- Tem uma visão da
Amazônia igual à da Fundação
Ford, igual à dos americanos. É
uma visão internacionalista.
FOLHA - O sr. vota em quem?
SANTA ROSA
- Na Dilma não voto de jeito nenhum, mas não é
fácil engolir o Serra.
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