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ENTREVISTA DA 2ª
Renata Covas Lopes diz que PSDB é a antítese do PMDB paulista, mas apóia a aliança nacional
Filha de Covas ataca aliança com Quércia
RAIO-X
Nome
Renata Covas Lopes
Nascimento
10 de julho de 1955
Profissão
Formada em direito, mas é dona de casa
Atividade política
Integrante do Diretório Nacional do PSDB
Situação familiar
Casada com um engenheiro da
Codesp e mãe de dois filhos
Hobbies
Leitura e internet
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A "família Covas" procura
bombardear a possibilidade de o
PSDB se aliar em São Paulo ao
PMDB e abrir espaço para que
Orestes Quércia saia candidato da
coligação ao Senado.
Essa postura tem tido como
porta-voz Renata Covas Lopes,
46, filha do ex-governador Mário
Covas (1930-2001) e integrante do
Diretório Nacional do PSDB.
Ela afirma que seu partido surgiu em 1988 por se opor aos "métodos" de Quércia -então governador de São Paulo- e que seria
agora um contra-senso aceitar a
hipótese de tal aliança.
Eis os principais trechos de sua
entrevista à Folha.
Folha - A proposta de coligação
com o PMDB recebeu no sábado
433 votos na Convenção Nacional
do PSDB. Isso a deprimiu?
Renata Covas Lopes - De jeito nenhum. Há uma posição de minha
família e de muita gente que pensa como nós. Reagimos segundo a
disciplina partidária. Dez dias antes da convenção, protocolamos
uma moção contrária à aliança
com o PMDB, mas só em São
Paulo. Outras moções haviam sido encaminhadas no mesmo sentido, como a da organização da
juventude do partido e a do diretório do bairro do Tatuapé.
Folha - Mas as coligações estão
agora verticalizadas. As regionais
seguem a receita da coligação na
esfera nacional.
Covas Lopes - Sim, mas as coligações no plano regional não são
obrigatórias. Nunca fomos contrários à aliança nacional. A bancada do PMDB tem auxiliado bastante o governo no Congresso. O
problema é São Paulo. É o que eu
tenho insistido e repetido. Sei
também que o acordo no plano
nacional só foi fechado depois de
muitas precauções pelo José Serra. Ele não aceitou qualquer vice.
Ele foi buscar dentro dos quadros
do PMDB uma pessoa de caráter,
séria, compromissada com programas. Um perfil bem diferente
da direção do PMDB daqui.
Folha - Como a sra. votou na Convenção Nacional de sábado?
Covas Lopes - Votei a favor da
coligação com o PMDB em torno
da candidatura presidencial de
José Serra.
Folha - A sra. mencionou sua família. Dentro do PSDB a expressão
"família Covas" designa de forma
velada uma tendência, um grupo
organizado. É isso?
Covas Lopes - Não sei qual o tamanho desse grupo e não estou
muito preocupada em saber. Em
verdade, nós, que temos esse sobrenome, temos também uma
responsabilidade. Tomamos
muito cuidado com o que falamos, com o que fazemos. Nosso
único legado é um nome. Acreditamos que era necessário colocar
nossa posição em razão desse nome, dessa responsabilidade. Acho
que compartilham dessa postura
pessoas que, dentro do partido,
fazem política com caráter, com
seriedade, com ética.
Folha - Vamos dar nome aos bois.
O personagem exorcizado por seu
grupo dentro do PMDB se chama
Orestes Quércia. Há alguma mágoa
de sua família pela deselegância
com que ele se referiu no passado
ao governador Mário Covas?
Covas Lopes - Não é nada pessoal, de forma alguma. É algo político. A idéia de criar o PSDB nasceu em 1988, aqui em São Paulo,
em função de uma divergência de
postura com relação a Quércia e a
outras lideranças ainda hoje no
PMDB. Em termos políticos não
há condições de nos misturarmos
com ele. Somos a antítese dele.
Folha - Defina essa divergência,
por favor.
Covas Lopes - Ela diz respeito ao
comportamento ético. Meu Deus
do céu! É olhar o governo dele e
olhar o governo do PSDB. Caso a
convivência com os métodos de
Quércia fossem para nós aceitáveis, nós teríamos permanecido
no PMDB. Se saímos para criar
um outro partido é porque a convivência era impossível.
Folha - Os tucanos que articulam
essa aliança em São Paulo mencionam sua viabilidade política.
Covas Lopes - Não há justificativa para "aliança", "parceria" ou
seja lá o que for. Não há argumento forte que justifique a coligação
no plano regional.
Folha - Não seria por acaso incorporar o tempo de televisão que o
PMDB traria para a chapa encabeçada por Geraldo Alckmin?
Covas Lopes - Não creio. O
PSDB, aliado ao PFL, já tem 33%
do horário eleitoral gratuito. Não
precisamos dos minutos à disposição do PMDB do Quércia. Qual
o outro argumento que poderia
ser evocado?
Folha - Digamos que poderia ser
conveniente atrair Orestes Quércia, para que ele não caia nos braços de Paulo Maluf.
Covas Lopes - Que ele caia nos
braços de quem quiser. Só não
quero é que ele caia nos meus. Será que há pessoas com medo que
ele nos critique pela televisão?
Que critique, então. Eu prefiro isso à possibilidade de ele estar ao
meu lado e me elogiando. Eu ficaria envergonhada de sair à rua para pedir voto, com o Quércia ao
lado da gente.
Folha - Caso se feche a coligação e
surja para o Senado uma chapa
com José Aníbal ou Romeu Tuma e
mais o Quércia, você não votaria no
Quércia?
Covas Lopes - Eu não acredito
que isso poderá acontecer. O
PSDB tem homens sérios, que
pensam no partido e no Estado.
Não é possível que algo assim
aconteça. Seria uma afronta.
Folha - No PMDB nacional há pessoas com imagem positiva, diferenciada. Não haveria peemedebistas parecidos por aqui?
Covas Lopes - Creio que sim.
Mas a liderança do PMDB de São
Paulo é de Orestes Quércia. Qualquer aliança regional só seria possível com a participação dele.
Folha - Por falar em alianças: em
1994 e depois em 1998 o PSDB se
aliou ao PFL, partido dentro do
qual muitos tucanos achavam que
havia flores que não se cheiram. A
coligação saiu porque alguns taparam o nariz e foram em frente.
Covas Lopes - Não posso aceitar
esse argumento. Política não é algo que nos obrigue a engolir sapos. Não concordaria com isso. O
PFL poderia até trazer personagens com os quais divergíamos.
Mas ele tinha uma cara muito nítida. Sabíamos com quem estávamos lidando. E mais: não somos a
antítese do PFL. Mas somos a antítese, o oposto do PMDB de São
Paulo. É tudo aquilo que a gente
rechaçou, meu Deus do céu! Não
dá agora para fechar os olhos.
Folha - O que as pessoas que pensam como a sra. podem fazer?
Covas Lopes - Aquilo que tenho
feito, que é conversar, tentar convencer as pessoas, pedindo para
que elas se manifestem. Precisaremos com certeza reagir.
Folha - Na convenção regional,
marcada para o dia 29, o partido
poderá se dividir com relação a essa hipótese de aliança?
Covas Lopes - Quero crer que a
posição majoritária dentro do
partido é idêntica à minha. Espero que essa aliança não se efetive
porque, com toda a clareza, nós
não a desejamos, e não porque essa mesma aliança não seja eventualmente conveniente para
Orestes Quércia.
Folha - A proposta dessa aliança
não saiu do nada. Caso o governador Geraldo Alckmin não a desejasse, as negociações com certeza já
teriam sido abortadas.
Covas Lopes - Nunca ouvi o governador se pronunciando a favor
dessa aliança.
Folha - Mas ele falou contra?
Covas Lopes - Não sei se alguém
já perguntou a ele. Quero crer que
o governador, por quem tenho
muito apreço, seja um homem de
posições firmes. Mesmo assim,
ele terá sempre meu respeito,
mesmo que assuma uma postura
contrária à minha. Quem não
gosta de divergência não faz parte
de partido político. Mas repito:
não acredito que Geraldo Alckmin defenda essa aliança.
Folha - Por que, então, ele não
opôs um veto inequívoco a essa
forma de articulação?
Covas Lopes - Provavelmente
porque, se vetar, ele transmitiria a
impressão de que está querendo
que sua vontade prevaleça sobre
todos os demais, sem que haja
discussões internas.
Folha - Essa posição já fechada
que a sra. exprime é a da "família
Covas" ou ela é mais ampla?
Covas Lopes - Muitos pensam da
mesma forma. Essa posição vem
se avolumando.
Folha - José Serra não era o candidato presidencial do governador
Mário Covas, que queria Tasso Jereissati. Se estivesse vivo e presente na Convenção de sábado, a seu
ver ele teria votado no Serra?
Covas Lopes - Com certeza. A última manifestação política de
meu pai foi em favor do Tasso.
Mas a candidatura dele não se viabilizou. O candidato do partido é
hoje José Serra. Eu agora vou para
as ruas e pedir votos para ele.
Folha - Falemos de Geraldo Alckmin. No que ele está sendo melhor
ou pior que Mário Covas?
Covas Lopes - Acho que deveremos agradecer a Deus o fato de o
Geraldo ter sido escolhido como
vice de meu pai. Ele foi um companheirão, muito gentil. E é um
sucessor à altura de Mário Covas.
Cada um tem o seu estilo. Geraldo
é um governador correto, sério.
Folha - Como a sra. reage ao fato
de a ocorrência dos sequestros ter
aumentado de forma tão abrupta
no atual governo?
Covas Lopes - É um problema
que vem de há muito. Foi um dos
temas predominantes na campanha de 1998, quando Covas se reelegeu. O aparato de segurança está reforçado, bem equipado. Mas
a criminalidade e a violência persistem.
Folha - Que ressalvas a sra. faz ao
desempenho administrativo de
Fernando Henrique Cardoso?
Covas Lopes - Foi um bom governo, temos muito o que comemorar. Foi uma presidência diferenciada. Muito ficou para ser feito. Mas ninguém é um Deus todo
poderoso.
Folha - Poderia dar um exemplo
de algo a ser comemorado?
Covas Lopes - Posso citar o
exemplo até de minha empregada, que trabalha comigo há quase
14 anos. A escola dos filhos está
melhor, ela tem telefone em casa,
o padrão dela subiu. Ela consome
mais do que consumia antes. Valeu a pena.
Folha - A sra. e seu irmão serão
candidatos a algum cargo?
Covas Lopes - Não. Nenhum dos
dois o será.
Folha - Foi porque chegaram agora a essa conclusão, ou porque Covas assim o quis, antes de morrer?
Covas Lopes - As pessoas são generosas, cobram muito de nós
sairmos candidato. Mas temos
um nome tão sério que precisamos ter muito cuidado. Se formos
candidatos poderemos ser considerados até um pouco oportunistas, porque votariam em nós como se estivessem votando também nele, em Mário Covas.
Folha - O que a sra. espera da política, em termos mais amplos?
Covas Lopes - Gostaria de atrair a
juventude para que ela seja mais
engajada na vida partidária. Política não pode ser algo das gerações mais velhas. Meu filho, de 22
anos, já está no PSDB. É membro
do Diretório Regional. A política é
o meio que temos para melhorar
as coisas em nosso país. Nem todos os jovens sabem disso.
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