São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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ENTREVISTA DA 2ª

Renata Covas Lopes diz que PSDB é a antítese do PMDB paulista, mas apóia a aliança nacional

Filha de Covas ataca aliança com Quércia

RAIO-X
Nome
Renata Covas Lopes

Nascimento
10 de julho de 1955

Profissão
Formada em direito, mas é dona de casa

Atividade política
Integrante do Diretório Nacional do PSDB

Situação familiar
Casada com um engenheiro da Codesp e mãe de dois filhos

Hobbies
Leitura e internet

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL


A "família Covas" procura bombardear a possibilidade de o PSDB se aliar em São Paulo ao PMDB e abrir espaço para que Orestes Quércia saia candidato da coligação ao Senado.
Essa postura tem tido como porta-voz Renata Covas Lopes, 46, filha do ex-governador Mário Covas (1930-2001) e integrante do Diretório Nacional do PSDB.
Ela afirma que seu partido surgiu em 1988 por se opor aos "métodos" de Quércia -então governador de São Paulo- e que seria agora um contra-senso aceitar a hipótese de tal aliança.
Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.
 

Folha - A proposta de coligação com o PMDB recebeu no sábado 433 votos na Convenção Nacional do PSDB. Isso a deprimiu?
Renata Covas Lopes -
De jeito nenhum. Há uma posição de minha família e de muita gente que pensa como nós. Reagimos segundo a disciplina partidária. Dez dias antes da convenção, protocolamos uma moção contrária à aliança com o PMDB, mas só em São Paulo. Outras moções haviam sido encaminhadas no mesmo sentido, como a da organização da juventude do partido e a do diretório do bairro do Tatuapé.

Folha - Mas as coligações estão agora verticalizadas. As regionais seguem a receita da coligação na esfera nacional.
Covas Lopes -
Sim, mas as coligações no plano regional não são obrigatórias. Nunca fomos contrários à aliança nacional. A bancada do PMDB tem auxiliado bastante o governo no Congresso. O problema é São Paulo. É o que eu tenho insistido e repetido. Sei também que o acordo no plano nacional só foi fechado depois de muitas precauções pelo José Serra. Ele não aceitou qualquer vice. Ele foi buscar dentro dos quadros do PMDB uma pessoa de caráter, séria, compromissada com programas. Um perfil bem diferente da direção do PMDB daqui.

Folha - Como a sra. votou na Convenção Nacional de sábado?
Covas Lopes -
Votei a favor da coligação com o PMDB em torno da candidatura presidencial de José Serra.

Folha - A sra. mencionou sua família. Dentro do PSDB a expressão "família Covas" designa de forma velada uma tendência, um grupo organizado. É isso?
Covas Lopes -
Não sei qual o tamanho desse grupo e não estou muito preocupada em saber. Em verdade, nós, que temos esse sobrenome, temos também uma responsabilidade. Tomamos muito cuidado com o que falamos, com o que fazemos. Nosso único legado é um nome. Acreditamos que era necessário colocar nossa posição em razão desse nome, dessa responsabilidade. Acho que compartilham dessa postura pessoas que, dentro do partido, fazem política com caráter, com seriedade, com ética.

Folha - Vamos dar nome aos bois. O personagem exorcizado por seu grupo dentro do PMDB se chama Orestes Quércia. Há alguma mágoa de sua família pela deselegância com que ele se referiu no passado ao governador Mário Covas?
Covas Lopes -
Não é nada pessoal, de forma alguma. É algo político. A idéia de criar o PSDB nasceu em 1988, aqui em São Paulo, em função de uma divergência de postura com relação a Quércia e a outras lideranças ainda hoje no PMDB. Em termos políticos não há condições de nos misturarmos com ele. Somos a antítese dele.

Folha - Defina essa divergência, por favor.
Covas Lopes -
Ela diz respeito ao comportamento ético. Meu Deus do céu! É olhar o governo dele e olhar o governo do PSDB. Caso a convivência com os métodos de Quércia fossem para nós aceitáveis, nós teríamos permanecido no PMDB. Se saímos para criar um outro partido é porque a convivência era impossível.

Folha - Os tucanos que articulam essa aliança em São Paulo mencionam sua viabilidade política.
Covas Lopes -
Não há justificativa para "aliança", "parceria" ou seja lá o que for. Não há argumento forte que justifique a coligação no plano regional.

Folha - Não seria por acaso incorporar o tempo de televisão que o PMDB traria para a chapa encabeçada por Geraldo Alckmin?
Covas Lopes -
Não creio. O PSDB, aliado ao PFL, já tem 33% do horário eleitoral gratuito. Não precisamos dos minutos à disposição do PMDB do Quércia. Qual o outro argumento que poderia ser evocado?

Folha - Digamos que poderia ser conveniente atrair Orestes Quércia, para que ele não caia nos braços de Paulo Maluf.
Covas Lopes -
Que ele caia nos braços de quem quiser. Só não quero é que ele caia nos meus. Será que há pessoas com medo que ele nos critique pela televisão? Que critique, então. Eu prefiro isso à possibilidade de ele estar ao meu lado e me elogiando. Eu ficaria envergonhada de sair à rua para pedir voto, com o Quércia ao lado da gente.

Folha - Caso se feche a coligação e surja para o Senado uma chapa com José Aníbal ou Romeu Tuma e mais o Quércia, você não votaria no Quércia?
Covas Lopes -
Eu não acredito que isso poderá acontecer. O PSDB tem homens sérios, que pensam no partido e no Estado. Não é possível que algo assim aconteça. Seria uma afronta.

Folha - No PMDB nacional há pessoas com imagem positiva, diferenciada. Não haveria peemedebistas parecidos por aqui?
Covas Lopes -
Creio que sim. Mas a liderança do PMDB de São Paulo é de Orestes Quércia. Qualquer aliança regional só seria possível com a participação dele.

Folha - Por falar em alianças: em 1994 e depois em 1998 o PSDB se aliou ao PFL, partido dentro do qual muitos tucanos achavam que havia flores que não se cheiram. A coligação saiu porque alguns taparam o nariz e foram em frente.
Covas Lopes -
Não posso aceitar esse argumento. Política não é algo que nos obrigue a engolir sapos. Não concordaria com isso. O PFL poderia até trazer personagens com os quais divergíamos. Mas ele tinha uma cara muito nítida. Sabíamos com quem estávamos lidando. E mais: não somos a antítese do PFL. Mas somos a antítese, o oposto do PMDB de São Paulo. É tudo aquilo que a gente rechaçou, meu Deus do céu! Não dá agora para fechar os olhos.

Folha - O que as pessoas que pensam como a sra. podem fazer?
Covas Lopes -
Aquilo que tenho feito, que é conversar, tentar convencer as pessoas, pedindo para que elas se manifestem. Precisaremos com certeza reagir.

Folha - Na convenção regional, marcada para o dia 29, o partido poderá se dividir com relação a essa hipótese de aliança?
Covas Lopes -
Quero crer que a posição majoritária dentro do partido é idêntica à minha. Espero que essa aliança não se efetive porque, com toda a clareza, nós não a desejamos, e não porque essa mesma aliança não seja eventualmente conveniente para Orestes Quércia.

Folha - A proposta dessa aliança não saiu do nada. Caso o governador Geraldo Alckmin não a desejasse, as negociações com certeza já teriam sido abortadas.
Covas Lopes -
Nunca ouvi o governador se pronunciando a favor dessa aliança.

Folha - Mas ele falou contra?
Covas Lopes -
Não sei se alguém já perguntou a ele. Quero crer que o governador, por quem tenho muito apreço, seja um homem de posições firmes. Mesmo assim, ele terá sempre meu respeito, mesmo que assuma uma postura contrária à minha. Quem não gosta de divergência não faz parte de partido político. Mas repito: não acredito que Geraldo Alckmin defenda essa aliança.

Folha - Por que, então, ele não opôs um veto inequívoco a essa forma de articulação?
Covas Lopes -
Provavelmente porque, se vetar, ele transmitiria a impressão de que está querendo que sua vontade prevaleça sobre todos os demais, sem que haja discussões internas.

Folha - Essa posição já fechada que a sra. exprime é a da "família Covas" ou ela é mais ampla?
Covas Lopes -
Muitos pensam da mesma forma. Essa posição vem se avolumando.

Folha - José Serra não era o candidato presidencial do governador Mário Covas, que queria Tasso Jereissati. Se estivesse vivo e presente na Convenção de sábado, a seu ver ele teria votado no Serra?
Covas Lopes -
Com certeza. A última manifestação política de meu pai foi em favor do Tasso. Mas a candidatura dele não se viabilizou. O candidato do partido é hoje José Serra. Eu agora vou para as ruas e pedir votos para ele.

Folha - Falemos de Geraldo Alckmin. No que ele está sendo melhor ou pior que Mário Covas?
Covas Lopes -
Acho que deveremos agradecer a Deus o fato de o Geraldo ter sido escolhido como vice de meu pai. Ele foi um companheirão, muito gentil. E é um sucessor à altura de Mário Covas. Cada um tem o seu estilo. Geraldo é um governador correto, sério.

Folha - Como a sra. reage ao fato de a ocorrência dos sequestros ter aumentado de forma tão abrupta no atual governo?
Covas Lopes -
É um problema que vem de há muito. Foi um dos temas predominantes na campanha de 1998, quando Covas se reelegeu. O aparato de segurança está reforçado, bem equipado. Mas a criminalidade e a violência persistem.

Folha - Que ressalvas a sra. faz ao desempenho administrativo de Fernando Henrique Cardoso?
Covas Lopes -
Foi um bom governo, temos muito o que comemorar. Foi uma presidência diferenciada. Muito ficou para ser feito. Mas ninguém é um Deus todo poderoso.

Folha - Poderia dar um exemplo de algo a ser comemorado?
Covas Lopes -
Posso citar o exemplo até de minha empregada, que trabalha comigo há quase 14 anos. A escola dos filhos está melhor, ela tem telefone em casa, o padrão dela subiu. Ela consome mais do que consumia antes. Valeu a pena.

Folha - A sra. e seu irmão serão candidatos a algum cargo?
Covas Lopes -
Não. Nenhum dos dois o será.

Folha - Foi porque chegaram agora a essa conclusão, ou porque Covas assim o quis, antes de morrer?
Covas Lopes -
As pessoas são generosas, cobram muito de nós sairmos candidato. Mas temos um nome tão sério que precisamos ter muito cuidado. Se formos candidatos poderemos ser considerados até um pouco oportunistas, porque votariam em nós como se estivessem votando também nele, em Mário Covas.

Folha - O que a sra. espera da política, em termos mais amplos?
Covas Lopes -
Gostaria de atrair a juventude para que ela seja mais engajada na vida partidária. Política não pode ser algo das gerações mais velhas. Meu filho, de 22 anos, já está no PSDB. É membro do Diretório Regional. A política é o meio que temos para melhorar as coisas em nosso país. Nem todos os jovens sabem disso.



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