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Foi a decisão "mais difícil", diz Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, segundo suas próprias palavras, tomou ontem "a decisão
mais difícil" de seus quase dois
anos e meio de governo. Como
dissera, cortou na carne ao formalizar a saída do poderoso José Dirceu da Casa Civil, a primeira etapa
de uma reforma do primeiro escalão e de medidas anticrise.
Estão previstas a saída de outros
ministros para que retomem
mandatos na Câmara, a tentativa
de recompor diálogo com a oposição e a reunificação do dividido
PT sob o comando formal de Dirceu no futuro.
Dirceu foi o principal estrategista da chegada do PT ao poder central, defendendo uma inflexão ao
centro (moderação econômica e
política), como alianças com partidos conservadores. O escândalo
do "mensalão", com raízes nessas
alianças, derrubou o ministro que
começou o governo como o mais
importante auxiliar de Lula e que,
após 30 meses, virou seu maior
problema. Dirceu sobreviveu, enfraquecido, ao caso Waldomiro
Diniz, no início de 2004.
No último domingo, quando o
presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), deu a sua segunda entrevista à Folha, na qual bombardeou fortemente Dirceu e a cúpula do PT ligada a ele, Lula deu início a um complicado processo de
negociação com o ministro.
Na noite de domingo, Dirceu
chegou às 18h à Granja do Torto
preparado para "o pior", como
dissera. Tinha razão. O presidente
disse a ele que seu afastamento,
ainda que temporário, era a melhor solução -desde que o ministro concordasse. Presente, o
presidente do PT, José Genoino,
afirmou que era "confissão de
culpa". Dirceu também. Lula, então, aquiesceu.
Mas o depoimento de Jefferson
na Câmara na terça-feira foi a gota d'água. O petebista disse: "Dirceu, se você não sair daí rápido,
você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula".
Contrariado com o misto de ultimato e recado, Dirceu dormiu
nesse dia disposto a não deixar o
governo, mas, na manhã seguinte,
ao ver a repercussão do depoimento apontando-o como o principal fator de desgaste do governo, tomou a iniciativa de dizer a
Lula "não dá mais". Ontem, negociou as formalidades de sua saída
e os próximos passos do governo
para combater a crise num clima
de muita emoção.
Ao final do pronunciamento à
imprensa, no qual disse que deixava no governo parte da "alma"
e do "coração", o ministro fez
uma reunião com os principais
funcionários da Casa Civil. Chegou a marejar os olhos ao receber
abraços de auxiliares que choravam. Depois, recebeu as visitas do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador
José Sarney (PMDB-AP).
PT e reeleição
Dirceu retornará à Câmara dos
Deputados, onde deporá em todas as investigações parlamentares, da CPI dos Correios ao Conselho de Ética da Câmara. Não deverá ter posição formal de liderança nem deverá reassumir a
presidência do PT, mantendo-se
licenciado do posto, hoje nas
mãos de José Genoino. Principal
petista depois de Lula, Dirceu é a
voz mais influente dentro da estrutura partidária do PT.
Lula gostaria que ele voltasse a
presidir o PT formalmente, candidatando-se a presidente do partido nas eleições deste ano. No
médio prazo, sua principal missão será coordenar novamente a
campanha à reeleição de Lula e
montar um plano eleitoral para o
PT nas eleições de 2006.
No curto prazo, Dirceu comandará no Congresso a estratégia de
defesa do governo na CPIs dos
Correios e do Mensalão.
Além de Dirceu, a Folha apurou
que também deverão retornar à
Câmara os ministros Aldo Rebelo
(Coordenação de Governo),
Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e Ricardo Berzoni (Trabalho), de acordo com decisão
transmitida ontem por Lula. O
presidente estuda ainda substituir
os ministros Humberto Costa
(Saúde), Romero Jucá (Previdência) e Henrique Meirelles (presidente do Banco Central).
Lula e os principais auxiliares
tentaram chegar ontem a uma decisão final sobre o substituto de
Dirceu, que se afasta em definitivo do cargo. Ao final do dia, havia
a versão de que o presidente já havia optado pelo governador do
Acre, Jorge Viana (PT), mas que
preferia anunciar isso na segunda-feira. Noutra versão, apareciam como cotados o ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e
o prefeito de Aracaju, Marcelo
Déda. A hipótese de Antonio Palocci Filho (Fazenda) ocupar o
posto voltou a ser lembrada, mas
era menor que as anteriores.
A intenção de Lula é extinguir a
Coordenação Política, mas, dependendo da escolha do sucessor
de Dirceu, ela pode ser mantida,
preferencialmente com o PT.
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