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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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REFORMA NO AR

Manutenção da paridade de reajuste entre ativos e inativos causa discórdia entre José Dirceu e João Paulo

Relatório opõe governo e base na Câmara

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Na véspera da apresentação do relatório da reforma da Previdência na Câmara, o governo e sua base aliada ainda estavam divididos em relação ao texto final.
Enquanto o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e deputados governistas defendiam a paridade dos reajustes entre servidores ativos e inativos, o governo é contra a proposta.
A manutenção da paridade para os atuais servidores é um ponto que não agrada aos governadores nem ao Palácio do Planalto, principalmente aos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Apesar disso, a versão do parecer mantida até ontem pelo relator da reforma, José Pimentel (PT-CE), previa a paridade. Até as 11h de hoje, porém, que é o horário previsto para a leitura do parecer, o conteúdo pode ser alterado.
"A proposta não é igual à original. Todos os servidores, inclusive os magistrados que estão no serviço público, terão a paridade e muito possivelmente a integralidade [aposentadoria igual ao salário da ativa]", disse João Paulo.
O deputado e os líderes dos partidos aliados ao governo escutaram de Dirceu que a paridade deveria ficar fora do relatório porque sofre também a oposição da maioria dos governadores.
Apesar disso, os deputados disseram a Dirceu, num café da manhã na casa de João Paulo, que já tinham se comprometido com em defender a paridade.
"A base aliada decidiu reafirmar a posição de que quer incluir no relatório a paridade e a integralidade. Dirceu ficou de conversar com Lula e dizer que é essa a nossa posição", afirmou o deputado Nelson Pellegrino (BA), líder da bancada do PT. "Ficamos quatro meses sendo informados do que o governo quer e do que vai fazer. Decidimos dizer ao governo o que a base aliada quer e o que vai fazer", disse Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo.
"Se vão fazer isso, saibam que somos contra e que deixamos isso claro", teria dito Dirceu, de acordo com o relato de presentes.
Ainda segundo os deputados, o ministro afirmou que dificilmente convenceria Lula da necessidade da paridade. O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) fez ontem uma defesa técnica da paridade, afirmando que ela beneficiaria os Estados (veja texto ao lado).
O posicionamento dos aliados ontem teve origem na quarta da semana passada, quando o governo autorizou os deputados a negociar a paridade e a integralidade para atuais e futuros servidores (proposta do Judiciário).
A reação contrária dos governadores e o consequente recuo do governo causou um mal-estar entre os congressistas, que se sentiram preteridos na negociação.

Resistência
Com isso, parte da base aliada começou a organizar uma "resistência" ao recuo. Numa reunião anteontem, João Paulo solicitou a 36 deputados federais do setor governista do PT que não vacilassem na posição.
A bancada do partido se reuniu ontem com Dirceu e Berzoini para tentar resolver esse e outros pontos. Os ministros ouviram dos petistas reclamações acerca da condução política da reforma.
Eles dizem que nenhuma das emendas apresentadas pelo partido foi considerada. E reclamam que só ontem foram procurados pelo governo. (RB E FK)


Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, enviado a Brasília


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