São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

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JANIO DE FREITAS

Entre Renan e a China


Mais do que o presidente do Congresso, os chamados oposicionistas é que estão aliviados com as férias

O COQUETEL de uma dose de Renan com outra de Lula pode ser meio indigesto, mas é o que existe para brindar o último dia de atividade dos congressistas, cujo desempenho no primeiro semestre os fez merecedores, com mínimas exceções, de partir para as férias escolares.
Neste último dia, Renan, o inesgotável, personifica a única expectativa disponível. A Mesa Diretora do Senado vai decidir se manda à Polícia Federal, para exames pedidos pelo Conselho de Ética, os documentos da alegada defesa de Renan. Há fértil especulação sobre novos golpes do senador, para obter mais retardamento do processo com pedido de vista por um dos senadores a ele associados. Ou mesmo obter o encaminhamento de anulação do processo, sob o argumento do seu advogado de que o Conselho de Ética não tem poderes para recorrer à PF (se bem que, no caso, a remessa seria da Mesa, e não do conselho).
A batalha no Senado, a propósito, já começou ontem entre oposição e aliados de Renan, quase todos governistas, mas esquenta mesmo na manhã de hoje. Com um aspecto lateral, na expectativa, mais interessante do que o central: caso ocorra nova manobra contra o andamento do processo, que atitude a oposição de PSDB e DEM vai tomar -se, afinal, tomar- para sair do papel patético que Renan lhe impôs até agora?
Mais do que Renan, e inversamente à impressão difundida, os ditos oposicionistas é que estão aliviados com as férias, que põem meia pausa nesta encrenca em que a tibieza dos oposicionistas não os deixa com imagem muito melhor que a do Pelotão Renan. Já para o próprio Renan, a mim parece -outra vez inversamente à impressão difundida- que a protelação com o recesso não lhe atenua a situação em nada.
As manobras com que Renan obteve sucessivos retardamentos do processo só renderam, todas, acirramento cumulativo da opinião pública contra sua permanência como presidente do Senado, senão mesmo como senador. É verdade que a imprensa brasileira não quer ter memória, mas o recesso será pouco para favorecer muito Renan Calheiros. A tendência é maior acúmulo de animosidade.
Sobre efeito cumulativo na opinião pública, por favor consultar Lula, que desde a abertura do Pan tem os dados mais recentes a respeito. Ou algum dos professores "especialistas", como os jornais deram de dizer, que analisaram o ocorrido no Maracanã. Por exemplo, o professor Marco Antonio Villa, que integra a leva mais recente dos "cientistas" que a imprensa ascende à notoriedade para explicarem o país ao país. O professor constatou que Lula, como "não sabe conviver com a vaia", mostrou que "não sabe conviver com a adversidade". O que deixou o eminente professor "muito preocupado", porque se houver "um problema com a China", problema de relacionamento, Lula não saberá "o que fazer" em tal situação de adversidade.
É o caso de ficarmos também "muito preocupados". Embora não propriamente com Lula, com a China ou com a vaia.


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