São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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Preso por negociar dossiê diz que dinheiro veio do PT

Partido e revista pagariam por supostas evidências contra Serra, afirma advogado

Gedimar Pereira Passos não revelou à Polícia Federal nome de petista de quem teria recebido parte dos recursos com que foi detido

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

O advogado Gedimar Pereira Passos -preso anteontem em São Paulo, onde receberia um dossiê contra José Serra, candidato do PSDB ao governo do Estado- disse à Polícia Federal que recebeu de um representante do PT o dinheiro para comprar os documentos. Ele disse não saber o nome do petista, mas o descreveu à PF.
Outra parte do dinheiro veio, segundo Passos, de uma revista cujo nome também não revelou, e que pagaria pelo acesso ao dossiê para publicar uma reportagem com exclusividade.
O dossiê -uma fita de vídeo, um DVD e seis fotos- foi elaborado pelo empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, apontado como chefe da máfia dos sanguessugas. A função de Passos na operação, segundo disse ele à PF, seria a de conferir a "autenticidade" do material.
Por conta da negociação, Vedoin foi preso anteontem. A Justiça Federal o acusou de ocultar provas e chantagear pessoas envolvidas com a máfia dos sanguessugas.
O dossiê mostra Serra em 2001, então ministro da Saúde, participando da entrega de 41 ambulâncias em Cuiabá (leia texto na pág. A6). Esses veículos, pagos com verbas federais, foram vendidos a municípios pela máfia dos sanguessugas, que costumava superfaturar as unidades (veja quadro).
Há ainda fotos, sem data, em que o candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, aparece cumprimentando uma pessoa identificada pela PF como Sinomar Martins Camargo, representante da empresa Santa Maria, que pertencia aos sanguessugas e fornecia ambulâncias. Assessores de Alckmin afirmaram que as imagens são do 48º Congresso Estadual dos Municípios, em 2004.
Trevisan portava também, em uma pasta azul, uma lista com 12 prefeituras. Ao lado de cada uma foram listados valores de R$ 64 mil a R$ 66 mil.
Com Passos foram apreendidos, segundo a PF, US$ 139 mil e R$ 410 mil em dinheiro. O empresário Valdebran Padilha da Silva, filiado ao PT de Mato Grosso, também foi preso. Ele, que seria o outro comprador do dossiê, estava com US$ 109 mil e mais R$ 758 mil. A polícia não autorizou a divulgação de imagens do dinheiro.
Ontem a PF deteve pela segunda vez Paulo Roberto Trevisan, tio de Vedoin, após a Justiça decretar sua prisão. Anteontem, a PF havia dito que ele era primo de Vedoin. Trevisan, encarregado de levar o dossiê a São Paulo, foi detido pela primeira vez quando embarcaria de Cuiabá para a capital paulista, na quinta-feira à noite, e liberado depois. Ele seria recebido por Valdebran e Passos no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Inicialmente, segundo Passos, Vedoin teria pedido R$ 20 milhões pelo dossiê. O preço foi então reduzido a R$ 2 milhões, de acordo com o depoimento.


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