|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2006 / USO DA MÁQUINA
Primeiro Emprego beneficia ONGs de petistas
Programa do governo federal fez repasses de R$ 56,6 milhões a 13 entidades que têm dirigentes ligados ao partido do presidente
Nas outras 16 entidades em
que petistas não aparecem
como dirigentes, bolo foi de
R$ 39,6 mi; governo nega
favorecimento na escolha
ROGÉRIO PAGNAN
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerada um fracasso como política de inserção de jovens no mercado de trabalho, o
Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego do governo Lula se revela um sucesso como fonte de recursos para
ONGs ligadas ao PT. Dos
R$ 96,2 milhões repassados pelo governo federal entre 2004 e
2006, 59% foram para entidades representadas por petistas.
As 13 ONGs ligadas ao partido do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva receberam R$
56,6 milhões para capacitar e
inserir jovens de 16 a 24 anos
no mercado de trabalho. Outras 16 entidades, em que petistas não estão como dirigentes,
receberam R$ 39,6 milhões.
O Ministério do Trabalho e
Emprego informou que esse
programa capacitou 62.992 jovens, entre 2003 e 2006, dos
quais 12.249 foram inseridos
no mercado de trabalho. O Ministério se negou, entretanto, a
fornecer a lista desses jovens.
O levantamento feito pela
Folha tomou como base as entidades "âncoras" divulgadas
pelo Ministério do Trabalho
como as responsáveis pelo gerenciamento dos recursos do
programa nos Estados. A informação dos repasses de verbas é
do site Contas Abertas. Cada
"âncora" reúne pelo menos outras dez ONGs nos Consórcios
Sociais da Juventude.
O secretário de Políticas Públicas de Emprego, Remígio
Todeschini, nega haver distinção na escolha das entidades, e
diz que os critérios para assinatura de convênios no governo
Lula são mais rigorosos que no
anterior. "Eu não peço filiação
partidária. Eu abro até meu sigilo telefônico aqui da secretaria para poder ver isso", disse.
Amigos
O líder no ranking de repasses do Ministério do Trabalho,
com R$ 10,38 milhões, é o Juventude Sampa, que atua na cidade de São Paulo. O consórcio
é liderado pelo Instituto do
Grêmio Politécnico para Desenvolvimento da Educação,
que tinha como diretor o petista Gilberto Álvares Giusepone
Júnior, candidato a deputado
federal como Prof. Giba.
O petista se afastou do instituto para disputar as eleições,
segundo a assessoria da Poli.
Em terceiro lugar das entidades que mais receberam recursos está a Oxigênio, dirigida pelo companheiro de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC Francisco Dias Barbosa, o
Chicão. A ONG recebeu R$ 7,4
milhões, entre 2004 e 2005.
No consórcio Geração Cidadã, liderado pela Asmoreji (Associação dos Moradores da Região do Jardim Independência), de Embu (SP), a ex-presidente e hoje tesoureira da entidade, Tereza Ruas Amorim, é
fundadora do PT na cidade.
A Asmoreji, que tenta construir uma quadra de esportes
há 25 anos, recebeu R$ 3,9 milhões em 2005. Webdesigner e
telemarketing foram dois cursos oferecidos pelo consórcio.
Uma das monitoras contratadas para a capacitação dos jovens em informática foi a doméstica Ana Paula da Silva, 27,
que confessou nunca ter dado
aula. "Eu sei ligar e desligar o
computador", disse.
Ana Paula disse ter fornecido
seus dados para que o consórcio justificasse o pagamento de
uma empresa de informática, a
Microlins, que aparece no site
da Asmoreji como "parceira".
Casos como esse foram relatados pelo TCU (Tribunal de
Contas da União) em 2004. O
tribunal recomendou na época
uma fiscalização mais rígida
por parte do Ministério.
Um dos poucos casos que o
TCU investigou e apontou irregularidades também envolvia
petistas. O Consórcio Social da
Juventude de Curitiba (PR) tinha como entidade "âncora" a
Fundação Estadual da Cidadania, dirigida por um ex-chefe-de-gabinete e um ex-tesoureiro
do deputado estadual Ângelo
Vanhoni (PT). A entidade foi
acusada de reter quase 87% dos
R$ 2 milhões enviados pelo governo para que fossem compartilhados com ONGs parceiras.
Os documentos estão sob análise do Ministério do Trabalho.
Outra investigada foi a Ágora
(Associação para Projetos de
Combate à Fome), que coordenava o consórcio no Distrito
Federal e foi fundada por petistas. O tribunal apontou irregularidades e pediu a devolução
do dinheiro aos cofres públicos.
Texto Anterior: Eleições 2006/Alagoas: Dupla de usineiros lidera disputa no Estado pela 1ª vez Próximo Texto: Empregada doméstica diz ter recebido R$ 4.000 por aulas como webdesigner Índice
|