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Diretor-geral da PF prende seu principal subordinado
Suspeito de beneficiar irmão com informações, Romero Menezes nega irregularidades
Ministério Público Federal pediu a prisão do número 2 da PF em conseqüência da Operação Toque de Midas, que investiga o grupo EBX
Valter Campanato - 25.out.2006/ABr
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O delegado Romero Menezes, que colocou o cargo à disposição
LEONARDO SOUZA
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal prendeu
ontem o diretor-executivo da
própria corporação, o delegado
Romero Menezes, suspeito de
beneficiar o irmão com informações privilegiadas. Ele recebeu voz de prisão dentro do
edifício-sede da PF, em Brasília, pelo diretor-geral do órgão,
Luiz Fernando Corrêa.
A prisão temporária do número dois da PF foi pedida pelo
Ministério Público Federal do
Amapá, num desdobramento
da Operação Toque de Midas,
que investiga a participação do
grupo EBX, do empresário Eike
Batista, num suposto esquema
de fraudes em licitações de estradas de ferro no Amapá.
A Procuradoria apura se Romero vazou informações da
operação, deflagrada em julho,
quatro dias após a prisão de Daniel Dantas na Satiagraha. Por
causa da suspeita de vazamento, a Toque de Midas foi antecipada. Além de Romero, o Ministério Público também pediu
prisões temporárias, concedidas pelo juiz Anselmo Gonçalves da Silva (da 1ª Vara Federal
de Macapá), do irmão dele, José Gomes de Menezes Júnior, e
de Renato Camargo dos Santos,
diretor da MMX, empresa subsidiária da EBX. Eles são suspeitos de incorrer nos crimes
de advocacia administrativa,
corrupção passiva privilegiada
e tráfico de influência.
Os pedidos de prisão temporária (de cinco dias) seriam, sobretudo, para evitar que Romero pudesse de alguma forma
prejudicar as investigações.
Menezes Júnior tem uma
empresa de limpeza e conservação contratada do grupo
EBX. Ele planejava prestar
também serviços de segurança
privada. Quem normatiza e
concede autorização para a
atuação de empresa de segurança privada é a PF. Segundo a
Folha apurou, Menezes Júnior
teve conversas gravadas na
operação nas quais se referia ao
irmão como alguém que poderia resolver os problemas de
sua empresa e de seus clientes.
Nenhuma conversa de Romero
teria sido interceptada.
Uma das suspeitas do Ministério Público é que Romero teria tentado exercer influência
na Comportos (Comissão Nacional de Segurança Pública
nos Portos) em benefício do irmão. O órgão é responsável por
regulamentar a segurança portuária e é ligado à Senasp (Secretaria Nacional de Segurança
Pública), que até 2007 era dirigida por Corrêa, antes de assumir a direção geral da PF.
A PF cumpriu mandados de
busca e apreensão na sala de
Romero na sede da PF, em sua
casa e na Senasp. Às 9h50, Corrêa, ao lado dos diretores Daniel Lorenz (Inteligência) e Roberto Troncon (Combate ao
Crime Organizado), informou
Romero do mandado de prisão.
Numa conversa tensa, Romero
negou participação em irregularidade e colocou o cargo à disposição, o que foi aceito.
À tarde, constrangidos,
Troncon e Anderson Rui Fontel, superintendente da PF no
Amapá, deram entrevista, mas
não detalharam a investigação.
"A PF tem atuado com vigor e
imparcialidade em todos os
momentos, principalmente
nos difíceis, como esse", disse
Troncon, negando que a prisão
vá manchar a imagem da instituição. "No entender da PF,
não seria necessária [a prisão].
Mas Justiça e Ministério Público entenderam [que sim]."
Além do inquérito na PF, haverá processo administrativo
disciplinar, que pode resultar
na demissão de Romero.
Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
outros membros do governo, o
ministro Tarso Genro (Justiça)
relatou que a PF estava contrariada com a prisão. Segundo a
versão de Corrêa, transmitida
por Tarso, era o caso de investigação interna, não de prisão.
Colaborou KENNEDY ALENCAR ,
da Sucursal de Brasília
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