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ANÁLISES
As resistências que existem ao nome de Toffoli
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As críticas no meio jurídico à
escolha de José Antonio Toffoli
têm em comum uma certeza: a
de que Lula, que não gosta de
decidir por pressão da mídia ou
de torcidas organizadas, escolheria seu ex-advogado de campanhas eleitorais.
A oposição a Toffoli se sustenta em três alegações: ausência do notável saber jurídico
exigido para o cargo; critério
político-partidário da escolha,
pela proximidade do advogado
com Lula e José Dirceu, e juventude do aspirante (alguns
juízes até ontem referiam-se a
ele como "esse menino").
A questão da idade é discutível -e, por ironia, pode até ter
influência na sua escolha agora.
Quando ingressaram no Supremo Tribunal Federal, os ministros Celso de Mello e Marco
Aurélio de Mello, por exemplo,
tinham poucos anos a mais do
que Toffoli tem hoje.
Especulou-se que, por ser
Toffoli ainda jovem, Lula poderia indicar para a cadeira de Direito um ministro do STJ (alimentando o mito de que os tribunais teriam "cotas no Supremo") e reservar para o advogado-geral a vaga de Eros Grau,
com a aposentadoria compulsória prevista para 2010.
A teoria esquece que, se aprovada a PEC da Bengala, que estende o limite de idade dos ministros a 75 anos, Grau poderá
continuar ministro e com bengala por mais cinco anos.
O presidente Fernando Henrique Cardoso nomeou Gilmar
Mendes, que também foi advogado-geral da União. Recorde-se que o notório saber jurídico
do atual presidente do STF não
impediu que sua escolha fosse
duramente bombardeada pela
oposição, também por razões
políticas. Ou seja, o que vale para tucanos também valeria para
petistas, pode-se argumentar.
A vinculação anterior ao PT
também não seria inédita, pois
cita-se o ministro Carlos Ayres
Britto, que disputou eleição pelo partido antes de vestir a toga.
As críticas mais sóbrias reforçam o aspecto da inexperiência de Toffoli em tribunais
e uma alegada imaturidade. As
mais contundentes partiram de
procuradores e promotores,
diante de seu recente parecer
contra o poder de investigação
do Ministério Público.
Essa opinião foi interpretada
como um aceno para agradar
aos ministros mais conservadores do STF, pois contrariava
parecer anterior de sua lavra, e
uma tentativa de enfraquecer,
mais adiante, a ação penal do
mensalão -o que ele nega.
À parte as resistências, a nomeação de Toffoli resultará de
livre escolha da maior autoridade da nação, como determina
a Constituição. São poucos os
que imaginam que o Senado,
em crise, seja rigoroso ao sabatiná-lo. E menos ainda os que
apostam que essa indicação
apressará o projeto que muda a
forma de escolha dos ministros
do STF, o que reforçaria o sistema de freios e contrapesos, impedindo que o Executivo se sobreponha aos demais.
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