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ELIO GASPARI
Em campanha
O doutor Armínio Fraga, presidente do Banco Central, já está
em campanha para ocupar o Ministério da Fazenda. Não há indicações de que esteja atropelando
o professor Pedro Malan. Está
apenas limpando os trilhos.
Admitindo-se que Malan deixe o ministério (coisa que só ele e
FFHH sabem se vai acontecer),
Fraga é um nome provável para o
cargo, mas julgá-lo favorito é exagero.
2002
Fará bom negócio quem acreditar que o governador Mário
Covas é sincero quando diz que
não pretende disputar a Presidência da República.
Covas sabe quais são as suas
reais condições de saúde. Seu
câncer de bexiga foi retirado e
não se sabe de más notícias nessa
área. Sua qualidade de vida, contudo, foi afetada.
Está obrigado a limitações que
levariam qualquer pessoa a avaliar o tamanho do piano que deveria carregar se fosse eleito.
Quando o PSDB diz que Covas
é seu candidato, está apenas fingindo.
Casos de cadeia
Saldos da administração Renan Calheiros no Ministério da
Justiça:
Ao longo deste ano a União
deixou de repassar verbas para a
construção de presídios em São
Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Coisa de R$ 10 milhões,
que resultariam na criação de
3.000 novas vagas nas prisões
desses Estados.
Enquanto isso, liberaram-se
outros R$ 10 milhões para a construção de uma penitenciária masculina em Alagoas.
Ela terá 280 vagas e custará R$
17,2 milhões. Será o metro quadrado de cadeia mais valorizado
do mundo.
Gosto do café
Depois de refinanciar as dívidas dos cafeicultores, com jeito de
quem não quer nada, volta-se a
discutir no governo uma maneira
de se torrar o dinheiro da Viúva
para subsidiar empresários.
Trata-se de armar um leilão fechado para a venda de 1 milhão
de sacas de café a empresas brasileiras fabricantes e exportadoras
de café solúvel.
Sempre que aparece a expressão "leilão fechado", alguma coisa de ruim está para acontecer.
Nesse caso, trata-se de uma maneira complicada (e fechada) de
ajudar a capitalização das empresas brasileiras de solúvel. Elas
compram o café do governo a
prazo e o trocam no mercado a
um preço um pouco maior, à vista.
Essa acrobacia esteve para ser
feita no início do ano, mas desandou.
Caso ela seja feita, pede-se apenas uma coisa: que os ministros
encarregados de azeitar o percurso do leilão fechado compareçam
a um programa de auditório e entreguem aos empresários, diante
das câmeras, um cheque equivalente ao valor da ajuda que lhes
darão.
Uma burocracia que come cestas
Mais uma jóia da reunião
anual da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais, a Anpocs.
A economista Lena Lavinas,
do Ipea, comparou dois programas sociais em operação no país.
Um é o Prodea, o Programa de
Distribuição Emergencial de Alimentos, do governo federal, criado em 1993 e hoje integrado ao
Comunidade Solidária. Distribui
cestas básicas em comunidades
carentes. O outro é o Cesta do Povo, mantido pelo governo da Bahia. Vende gêneros alimentícios a
preços subsidiados em 409 pontos do Estado.
A professora Lavinas foi buscar uma resposta para a seguinte
pergunta: o que funciona melhor,
a distribuição de comida ou a
transferência de renda (por meio
do subsídio)?
Dois em cada 10 brasileiros
não ganham o suficiente para
comprar a comida necessária a
uma nutrição adequada. Um programa alimentar que atingisse os
32 milhões de necessitados custaria R$ 8,4 bilhões ao ano. Noutra
conta, com R$ 4,5 bilhões seria
possível suprir as necessidades de
70% dos necessitados.
Em 1998 o Prodea distribuiu
28,5 milhões de cestas básicas em
2.200 municípios (contra 3,1 milhões em 1995). Mesmo sabendo-se que a quantidade de calorias de
cada cesta foi reduzida em mais
ou menos 20%, são bons números e atingem cerca de 20% das
famílias carentes.
A eficiência é outra questão.
Em 1997 o programa gastou quase metade dos seus recursos pagando sua folha de pessoal. Dos
R$ 20 gastos com cada cesta, R$ 9
foram gastos com pessoal. Ou seja, o programa come a mesma
quantidade de dinheiro que usa
para levar comida a quem tem fome.
A Cesta baiana funciona de
forma diversa. Atinge 1 milhão de
famílias, aproximadamente um
terço da população do Estado.
Não dá comida e tem uma estrutura burocrática simples. Vende
os gêneros a preço subsidiado.
Comparando-se o preço dos alimentos da Cesta do Povo com os
do Prodea resulta que, com R$ 20,
compra-se, na Bahia, 24% mais
calorias do que pelo programa federal.
Conclusão da professora Lavinas:
"Se a distribuição de alimentos
do Prodea fosse substituída pelo
seu equivalente em renda, o governo federal estaria transferindo
um maior benefício no acesso alimentar às famílias beneficiárias
que alocassem essa renda na Cesta do Povo."
Ela ressalva que a experiência
baiana não pode ser estendida a
todo o país, mas pergunta se não
seria o caso de se discutir a desativação do Prodea, colocando-se
no seu lugar um programa que,
em vez de dar comida, transferisse renda.
Uma coisa é certa, com os R$
20 que o governo federal gasta em
cada cesta, os cidadãos poderiam
comprar a mesma quantidade de
alimentos nos balcões do varejo
de pelo menos três capitais. A
professora pesquisou os preços
de Belo Horizonte, Curitiba e Salvador. Verificou que a cesta federal e o balcão empatavam em Salvador, eram ligeiramente mais
caros em Belo Horizonte e mais
baratos em Curitiba.
Uma última informação da
professora Lavinas, destinada a
ilustrar quem acredita que necessitado e vagabundo são coisas parecidas: a taxa de atividade dos
chefes de famílias que não comem o suficiente para se nutrir é
de 75%, a mesma dos outros chefes de família, independente da
renda que tenham.
A ekipe prometeu e não entregou
Poucas vezes uma ekipekonômika produziu um fracasso semelhante ao das contas externas
brasileiras neste ano. Os doutores
que a cada semana dão aulas de
matemática e modos aos nativos
assinaram um acordo com o FMI
comprometendo-se a produzir
um superávit comercial de US$ 11
bilhões. Fecharão o ano com um
déficit de US$ 1 bilhão.
Quando se trata de tungar os
trabalhadores, os sábios da ekipekonômica cumprem todas as metas do Fundo. Quando se trata de
mostrar resultados no conjunto
da economia, fracassam e olham
para a escumalha como se a culpa
fosse dela.
A balança comercial é um dos
melhores indicadores da saúde
de um país. Se ele importa mais
do que exporta, tem problemas.
Os EUA estão nessa situação, mas
emitem dólares, não reais. Desde
1995, a cada ano o governo prometeu uma balança comercial
equilibrada. Chegou a delirar
com promessas de superávits.
Produziu apenas ruína. Entre
1997 e 1998, no auge do populismo cambial, acumulou-se um déficit de US$ 14,5 bilhões.
No início deste ano, quando o
FMI assumiu a gerência das contas nacionais, tanto os seus técnicos quanto a ekipe acharam razoável anunciar ao mundo que o
Brasil poderia fechar 1999 com
um superávit de US$ 11 bilhões.
Agora é o caso de perguntar
aos doutores Stanley Fischer e Pedro Malan o que é que aconteceu
com o número.
Era mentira? Nesse caso tudo
bem. Não é a primeira vez.
Era leviandade? Nesse caso,
novamente, tudo bem. Não será a
última.
Foi uma estimativa errada?
Nesse caso a conversa fica séria.
Tanto o FMI quanto a ekipekonômica deveriam ter a boa educação de se dirigir ao mercado e à
escumalha para explicar onde erraram as previsões.
Não se tratou de um erro pequeno. Se o Brasil estivesse com
um superávit comercial de US$
5,5 bilhões (metade do prometido), seria possível supor que se
começava a reverter a tendência
estabelecida em 1995, pela qual o
governo de FFHH gera empregos
no exterior (sobretudo nos Estados Unidos) e desemprego em
Pindorama.
O saldo comercial era a meta
saudável do acordo com o FMI e
foi integralmente à breca. Todas
as outras, que custam sofrimento,
desemprego e recessão, foram
cumpridas à risca.
Em maio, o ministro Pedro
Malan reconheceu que a meta
acertada com o FMI era inviável.
Em junho prometeu um superávit de US$ 4 bilhões. Um mês depois, reviu o acordo com o FMI,
deixando tudo por US$ 3 bilhões.
Agora negocia-se uma nova meta, com um déficit de US$ 1 bilhão. A diferença entre o prometido e o entregue ficou em US$ 12
bilhões.
Tanto o doutor Stanley Fischer, babalorixá do FMI, quanto
o doutor Malan, cambondo da
ekipe, deveriam responder à seguinte pergunta:
"O que nos aconteceria se tivéssemos feito uma coisa dessas
numa empresa privada?"
Uma história de cavalheiros
No livro "Uma Vida", no qual
o advogado Plinio Doyle contou
suas memórias a Rachel Valença,
há uma história que dá prazer
contar. Numa época em que funciona uma CPI do Judiciário e o
presidente do Supremo Tribunal
Federal ampara seus votos contrapondo a bibliografia do seu
contracheque à jurisprudência da
prestação de seu carro, vale revisitar o mundo de Plinio Doyle.
Advogado e companheiro de
banca de San Tiago Dantas, nos
anos 50 Doyle comprou um apartamento em Petrópolis. Eram
dois por andar, e o outro pertencia ao ministro Orozimbo Nonato, do Supremo Tribunal Federal.
Orozimbo ia muito pouco a
Petrópolis, e Esmeralda, a mulher
de Doyle, sonhava com mais espaço. Um dia souberam que o
apartamento seria vendido.
Doyle não teve coragem de
procurar um ministro do Supremo Tribunal Federal para propor-lhe uma transação comercial.
O assunto foi conduzido pelas
duas mulheres e fechado pelo
preço que Orozimbo Nonato pagara ao comprá-lo.
Plinio Doyle reuniu uma das
melhores bibliotecas do país, com
25 mil volumes. Ela foi comprada
pela Fundação da Casa de Rui
Barbosa.
Curso Madame Natasha de piano e português
Madame Natasha tem horror a
música. Ela protege os desafortunados do idioma e são poucos os
seus momentos de felicidade. Ela
acaba de ter uma grande satisfação, ao saber que o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) apresentou ao Congresso um projeto de
lei destinado a proteger o idioma
nacional.
Rebelo argumenta:
"Estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária de
estrangeirismos -como "holding", "recall", "franchise", "coffee-break", "self-service'- e de aportuguesamentos de gosto duvidoso. Em geral despropositados
-como "startar", "printar", "bidar", "atachar", "database"."
O maior mérito do deputado
está na abertura da discussão. Salta aos olhos que o anarcoglotismo
vigente poderá produzir uma geração de brasileiros que se expressam com palavras de uma
língua que não conhecem (o inglês), ao mesmo tempo em que
não conseguem se expressar no
idioma que conhecem.
Rebelo propõe que a Academia Brasileira de Letras se torne
guardiã do idioma e que o uso indevido de palavras estrangeiras
seja punido com multas.
A dose parece forte, mas isso
não impede, por exemplo, que
FFHH recomende aos seus ministérios o uso do idioma português. (A rede do Ministério da
Educação na Internet, por exemplo, chama-se Web MEC.)
Na França o governo vigia os
estrangeirismo com grande rigor.
Já na Alemanha, instalou-se a bagunça.
Tomara que em Pindorama se
possa chegar a algum meio-termo.
Novo e ruim
O que está aparecendo de novo
na política americana é coisa
preocupante. O mais destacado
pré-candidato do Partido Republicano é George Walker Bush,
governador do Texas, filho do ex-presidente George Bush e neto do
senador Prescott Bush. Vindo de
uma família do patriciado da Nova Inglaterra, o jovem Bush seguiu os passos do pai e fez fortuna
no Texas. Estudou em Yale, mas
ganhou dinheiro com petróleo e
até com esportes.
Tendo berço, fortuna e poder,
George W. Bush referiu-se aos
habitantes da Grécia como os
"greecians" (em vez de "greeks").
Isso equivaleria a dizer, em português, que Homero foi um poeta
grécio.
Classificado
Foi posto à venda o apartamento que Nelson Rockefeller
montou em 1934, logo depois de
seu primeiro casamento. Fica na
cobertura da esquina da 5ª Avenida com a rua 62, em Nova York. A
família quer US$ 19,5 milhões,
mas o preço parece salgado.
São dois andares (inclusive a
cobertura), com sala redonda, 17
cômodos, seis banheiros e quatro
lareiras. O apartamento vagou
em abril, quando Tod, a primeira
mulher de Rockefeller, morreu
aos 91 anos.
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