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Juízes querem lei eleitoral mais dura, mostra pesquisa
Mensalão influenciou resultado, diz presidente da Associação de Magistrados do Brasil
Para 55% dos quase 3.000 ouvidos, o exame de contas de campanha é ruim; 95,4% propõem nova tipificação dos crimes eleitorais
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
O escândalo do mensalão,
que trouxe à tona um esquema
paralelo de financiamento de
campanha, motivou os magistrados a defenderem um endurecimento na legislação eleitoral, com penas mais pesadas e
fiscalização mais rígida.
Esta é a avaliação que Rodrigo Collaço, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), faz da pesquisa
sobre magistratura, lançada
durante o 19º Congresso Brasileiro de Magistrados, em Curitiba. O levantamento foi coordenado por Maria Tereza Sadek, professora de Ciência Política da USP.
Dos quase 3.000 juízes de todo o país ouvidos, 55% disseram que o exame de contas dos
partidos políticos e dos candidatos é ruim e 42,2% também
consideraram ruins os meios
de repressão ao abuso do poder
político ou econômico na campanha. "Depois do mensalão e
do caixa dois, a magistratura
constatou que as prestações de
contas apresentadas não correspondiam à realidade. Acho
que essa avaliação é uma autocrítica, de que algo precisa mudar", afirmou Collaço.
Ainda sobre a Justiça Eleitoral, a maior parte dos magistrados (30,5%) avaliou como regular o controle da propaganda
eleitoral. Um dos problemas recorrentes, disse Collaço, refere-se à reeleição. "Muitas vezes
é difícil saber quando começa a
campanha e quando termina a
atividade do governo. É preciso
criar mecanismos que deixem
isso mais transparente."
Questionados sobre temas
políticos, a maioria dos entrevistados defendeu uma atualização da tipificação de crimes
eleitorais (95,4%) -por exemplo, caixa dois não era considerado crime-, a limitação de
custos de campanha (92,5%), o
aumento das hipóteses de inelegibilidade (91,7%) e a proibição da possibilidade de reeleição para o mesmo cargo no Poder Executivo (69,7).
Garantias fundamentais
O advogado Salo de Carvalho,
professor da PUC do Rio Grande do Sul, afirmou ontem ter ficado "assustado" com o resultado da pesquisa na área do direito penal. "O que me assustou
foi a questão da impunidade estar vinculada a garantias fundamentais. Pela pesquisa, a forma
de atingir uma melhor eficiência seria romper com essas garantias, como, por exemplo,
com a amplitude de habeas corpus", afirmou Carvalho.
Quando questionados sobre
os fatores que provocam a impunidade no país, os juízes responsabilizaram o excesso de
recursos judiciais (86,1%), a demora no encerramento do processo (83,9), as deficiências da
investigação policial (74,1%), a
falta de vagas no sistema prisional (71,9%) e a falta de comunicação entre polícias, Ministério
Público e Judiciário (70%).
Questão cultural
No quesito propostas, a
maioria defendeu temas polêmicos, como a diminuição da
maioridade penal (61%), que
atualmente é de 18 anos, o aumento do tempo de internação
de menores infratores (75,3%)
e penas mais severas para agentes políticos acusados de corrupção e improbidade administrativa (89,3%).
Para o advogado constitucionalista Luis Roberto Barroso,
um dos palestrantes de ontem,
a impunidade é uma questão
cultural no Brasil. "Apesar de
ser proibido, por exemplo, as
pessoas levam cachorros para a
praia, deixam carros na calçada. O poder público não consegue tirar nem cachorro da praia
quanto mais ladrão dos morros", afirmou.
Cerca de 2.000 juízes participam do congresso, que começou na quarta e termina no sábado. Cada um pagou R$ 400
para participar do evento.
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