São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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Empresária relata propina em São Caetano

Rita Cressoni diz ter entregue envelope com dinheiro a José Auricchio Jr., atual prefeito da cidade, que promete processá-la

Construtor Antonio Cressoni se diz falido e reclama que prefeito o abandonou: "Fui ao gabinete de Auricchio e ele nem quis me atender"


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Casada há 29 anos com o construtor que confessou ter participado de um esquema de desvio de dinheiro da Prefeitura de São Caetano do Sul (SP), Rita de Cássia Cressoni disse ao Ministério Público de São Paulo que, a pedido do sócio e marido, entregou um envelope com dinheiro para o então diretor de Saúde e hoje prefeito da cidade, José Auricchio Jr. (PTB).
A afirmação foi feita na última terça-feira durante o depoimento prestado por ela aos promotores do Gaerco, grupo regional do Ministério Público de combate ao crime organizado. Rita foi assistida pelo advogado Eder Xavier. A assessoria do prefeito informou que a declaração é inverídica e que Rita será processada pelos crimes de calúnia e difamação, tal qual o marido dela, Antonio Cressoni, que foi acionado na Justiça pela defesa de Auricchio Jr. (leia texto abaixo).
A história começou com Cressoni, que disse ter ganho, durante oito anos, cerca de R$ 16,5 milhões por dezenas de obras públicas que realizou e por outras que nem existiram. Em troca, afirmou, pagava um "fundo de reserva" (propina) para autoridades locais, inclusive para o atual prefeito.
"Em geral pagava 15% do valor da obra. Se fosse algo na área de Saúde, havia um adicional de 10%, uma exigência do titular da pasta", afirmou Cressoni.
Na Promotoria, Rita disse que, entre 2000 e 2001, estava lavando a calçada de sua casa quando o marido lhe pediu que fosse à Diretoria de Saúde e entregasse um envelope ao titular do cargo. Afirmou que tentou resistir ao pedido, pois estava com as sandálias molhadas.
À época, Cressoni já havia executado dezenas de obras na gestão do prefeito Luiz Tortorello (PTB), morto em 2004.
No interior do prédio, Rita afirmou que foi conduzida ao gabinete do diretor, que a teria tratado de forma hostil. "O diretor [Auricchio Jr.] abriu o envelope. Nele havia uns dois maços de notas de R$ 50 e algumas outras notas avulsas. Ele contou o dinheiro e não ficou satisfeito com o montante."
Segundo ela, Auricchio Jr. telefonou para Cressoni: "Em tom de brincadeira, comentou: "É só isso? Na próxima medição vê se melhora.'". Rita disse que "talvez tenha sido algo em torno de R$ 10 mil, um pouco mais, um pouco menos".
Depois desse encontro, a família dela e a do atual prefeito tornaram-se muito próximas, afirmou Rita, que disse guardar cerca de 300 fotos desses momentos. A reportagem viu algumas em que as famílias estão em um cruzeiro marítimo.
A maior parte das obras de Cressoni foi executada nas gestões de Tortorello. Na atual, ele ganhou três licitações -há suspeita de fraude nas assinaturas.
Dizendo-se falido após uma administração ruim de seu patrimônio, Cressoni afirmou ter sido abandonado pelo suposto grupo. "Fui ao gabinete de Auricchio e ele nem quis me atender. Disse que, na gestão dele, não haveria corrupção", disse o construtor, que terá de devolver aos cofres públicos o dinheiro das obras que não fez.


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