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NO AR
Exorbitantes
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Foi um daqueles dias em
que os relatos do mercado
financeiro na televisão abrem
quase sempre com a palavra
"expectativa".
Dia em que o vice-presidente
José Alencar dá as caras para
declarar, quase sempre para a
Globo News:
- As taxas de juros precisam
cair.
Em que o presidente da Confederação Nacional da Indústria
pressiona:
- Há espaço para uma redução de dois pontos.
Desta vez, quanto à decisão a
ser anunciada hoje pelo Banco
Central, a "expectativa" é ainda
maior depois de declarações
inusitadas feitas pelo ministro
Antonio Palocci e até pelo presidente.
Palocci, na Globo, sobre os juros de hoje:
- As coisas estão caminhando bem.
Lula, como registrou a Globo,
"mandou um recado aos bancos". Ou melhor:
- Foi mais um aviso. O presidente disse que, no ano que
vem, vai ser mais lucrativo investir no setor produtivo do que
em títulos públicos. Traduzindo,
Lula quis dizer que os juros vão
continuar caindo.
Na expressão do próprio, o governo vai parar de oferecer "juros exorbitantes".
Com tal recado ou aviso, o
presidente da federação dos
bancos achou por bem dizer à
Jovem Pan, entre outras, que
2004 será "o ano do crédito".
Que os bancos vão "investir
mais na chamada economia
real".
Até aí, o dia corria bem, prometia. Mas veio a CBN à noite e
informou:
- O governo tirou R$ 7 bi que
seriam aplicados em estradas,
transportes e comunicações, durante votação na comissão do
Orçamento. O corte visa garantir superávit de 4,25% do PIB
em 2004.
Assim eles estragam a "expectativa", não só do mercado, não
só para hoje.
Para animar um pouco o balanço de fim de ano, mais um,
que Lula promete para hoje na
televisão, o IBGE divulgou dados positivos sobre a produção
industrial.
O destaque nos telejornais foi
para o Estado de São Paulo, que
em outubro atingiu "o terceiro
mês consecutivo de aumento da
produção".
Uma boa notícia, isolada.
A enviada do Jornal da Record relatou que Lula se recusou
a falar sobre o caso Celso Daniel, no Uruguai.
E que um assessor chegou a
saltar uma cadeira para segurar
seu braço -da jornalista- e
evitar mais perguntas.
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