São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Muito além das pessoas

Acima e além das deduções sobre vitoriosos e derrotados mantidas, no comentarismo de política, em planos apenas pessoais e partidários, as eleições no Senado e na Câmara têm também, e sobretudo, influências muito importantes na situação geral do país, seus problemas e soluções ou agravamentos.
Nesse sentido, o resultado foi muito mais desalentador do que em qualquer outro.
As reformas que atendiam a conveniências do governo e a pressões do capital externo foram feitas, embora mal. As reformas em benefício verdadeiro do país, de que as reformas tributária e fiscal são exemplos eloquentes, há seis anos esperam por uma iniciativa do presidente da República, ou, melhor, esperam pela concordância do ministro Pedro Malan e seus orientadores.
O mesmo se deve dizer das iniciativas governamentais verdadeiramente estimuladoras do crescimento econômico, da reocupação dos que foram desempregados pela proteção ao real e ainda dos 3 milhões de jovens que a cada ano chegam, em vão, à entrada da vida de empregados.
A retomada de crescimento que andam propalando não é séria. Há três dias foi festejado o crescimento de 4,2% do Produto Interno Bruto em 2000. Se retirada a contribuição dos impostos assaltantes, o PIB cai direto para 3,9%, taxa a ser lamentada diante da necessidade de que fosse o dobro, para começar uma retomada merecedora desse nome. Se dali for tirada a contribuição do petróleo e dos carros, que não representam verdadeiro crescimento econômico por si sós, o festejado PIB merece luto.
Por sua vez, a estabilidade do real, que estaria consolidada em dois a quatro anos, dependendo do anunciado por Fernando Henrique ou por Malan, aos seis anos continua tão bamba que proíbe medidas pelo crescimento e o emprego consistentes. E, no fundo das aparências forjadas por declarações e interpretações falseadas dos números, ninguém crê na propalada estabilidade. Neste mês mesmo, a despeito das seguidas reduções na taxa básica de juros, fixada pelo governo para fazer alguma redução nos juros bancários de gangsters, os bancos subiram outra vez as suas taxas de juros cobrados. No cassino de taxas futuras, outra boa subida.
Aécio Neves na Câmara e Jader Barbalho no Senado não são, por temperamento o primeiro e por política o segundo, pessoas que empurrassem os dois plenários parlamentares para avaliações e decisões independentes, como a Constituição deles exige, para defender os interesses do país de erros e omissões do governo. E de abusos e violências contra a Constituição, como a recente medida provisória que, por uma tramóia, dá a bancos particulares o direito, inconstitucional, de receber como depósitos e aplicar em proveito próprio as montanhosas verbas governamentais -segundo acusaram, em artigo na Folha, os juristas Celso Antônio Bandeira de Mello e Fábio Konder Comparato.
As eleições das presidências de Câmara e Senado, e, com este, do Congresso, foram a última oportunidade de levar os parlamentares a forçar, nos últimos dois anos do mandato de Fernando Henrique, o cumprimento de parte, pelo menos isso, do programa de governo que prometia tantas soluções indispensáveis e urgentes. E não se pode crer que tenha dado nem uma moeda estável.


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