São Paulo, terça, 18 de fevereiro de 1997.

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PERSONALIDADE
Senador foi internado na quinta-feira com dores; corpo será sepultado no mausoléu da ABL, no Rio
Darcy Ribeiro morre de câncer aos 74 anos

da Sucursal de Brasília

O senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), 74, morreu ontem às 18h50 de câncer generalizado (falência múltipla de órgãos devido a metástase) no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.
Ele foi internado na quinta-feira passada, com anemia, problemas respiratórios e dores. O boletim oficial do hospital afirmou que o senador teve ``uma morte tranquila e sem sofrimento''.
O corpo do senador vai ser velado até 17h de hoje no plenário do Senado e, depois, transportado para o Rio. Será sepultado no mausoléu dos imortais da ABL (Academia Brasileira de Letras).
Sua última aparição no plenário do Senado, em cadeira de rodas, foi no dia 4 de fevereiro, para votar na eleição que decidiu, entre os candidatos Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Iris Rezende (PMDB-GO), quem seria o presidente do Senado e do Congresso.
ACM foi eleito, mas o voto do senador foi para Iris Rezende. Na hora de votar, a direção do Senado mandou levar a urna até Darcy Ribeiro. Sempre bem-humorado, Darcy deixou que os fotógrafos registrassem o seu voto.
Pelos menos três propostas, votadas ou em tramitação no Congresso, tiveram a participação ativa do senador: defendeu a lei que transforma qualquer cidadão em um doador presumível de orgãos e foi o autor da nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).
Ultimamente, já na cadeira de rodas, vivia dizendo pelos corredores do Senado que esperava ``a hora em que o presidente Fernando Henrique vai dizer que não privatizará a Vale do Rio Doce''.
FHC chegou ao hospital às 19h40, acompanhado do ministro Paulo Renato Souza (Educação). ``O Darcy tinha um talento que conheci em muito poucos, uma imaginação extraordinária. Foi um lutador. A começar, lutou contra a própria moléstia'', disse o presidente da República.
Segundo o boletim oficial do hospital Sarah Kubitschek, a ``falência múltipla de orgãos'' do senador foi provocada por uma neoplasia maligna da próstata, que gerou metástases ósseas.
Na quinta, quando foi internado, estava tão enfraquecido que, depois de todos os exames, os médicos decidiram mantê-lo sob vigilância total. No sábado, num comportamento atípico, ele mandou chamar Vera Brandt, diretora administrativa da Fundação Darcy Ribeiro. Fez uma série de recomendações, como cuidar de livros, direitos autorais, e, principalmente, a sua última grande preocupação, o Projeto Caboclo.
Na madrugada de ontem, acordou às 2h, quis fazer a barba e pediu para se vestir e estar pronto para participar do seminário sobre o Projeto Caboclo em um hotel de Brasília. Os médicos não deixaram. Às 6h foi levado para a UTI.

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