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DEBATE
Participantes de encontro na Folha concordam que medida é necessária para fortalecer agremiações políticas
Fidelidade partidária impediria troca-troca
da Reportagem Local
O projeto para
mudar o sistema
eleitoral brasileiro quer implantar a fidelidade partidária
na vida política
do país. No debate promovido pela Folha, todos
os participantes concordaram
com a tese.
O relator da proposta, senador
Sérgio Machado (PSDB-CE), acredita que a instituição da fidelidade
partidária vai pôr fim no troca-troca de partidos protagonizado pelos políticos brasileiros.
Machado propõe duas mudanças: uma na Constituição e outra
em legislação ordinária.
A proposta de alteração na Constituição parte do pressuposto de
que o mandato do parlamentar
pertence ao partido. Portanto,
quem trocar de legenda perde automaticamente o mandato para o
partido e o suplente assume.
A exceção seria dada aos que participam de legenda em processo de
fusão ou incorporação. O projeto
ressalva ainda o direito daqueles
que deixam o partido para fundar
uma nova agremiação.
Ainda segundo essa proposta,
quem desobedecer decisões de
seus partidos tiradas em convenção pode ter o mandato cassado,
após processo na Justiça Eleitoral.
Essa punição vale também para o
Poder Executivo (prefeitos, governadores e presidente).
"A pena é para desobediência às
decisões tomadas em convenções.
A fidelidade não é camisa de força.
Não é para questões do dia-a-dia
do Congresso", disse Machado.
A outra mudança que Machado
propõe, de caráter infraconstitucional, ou seja, em legislação ordinária, estabelece como exigência a
filiação partidária quatro anos antes da eleição. Dessa forma, em caso de troca de partido, o parlamentar ficaria impedido de disputar
eleições por quatro anos.
"Não podemos mais continuar
num país onde se troca mais facilmente de partido do que de camisa. Onde 50% dos parlamentares
trocam de partido em cada legislatura, sabendo que só uma parcela
de candidatos se elege com os próprios votos", disse o senador.
Machado citou dados das duas
últimas eleições para sustentar sua
argumentação. Segundo ele, na
disputa de 94, dos 513 deputados
federais, apenas 13 se elegeram
com seus próprios votos -ou seja,
foram beneficiados pela votação
total de sua legenda. Na de 98, esse
número subiu para 28.
O deputado federal Emerson Kapaz (PSDB-SP) concordou com o
princípio da fidelidade partidária,
mas defendeu que o tempo de punição para quem trocar de partido
seja de três anos.
Já o cientista político Leôncio
Martins Rodrigues acredita que
não é a fidelidade partidária que
vai tornar os partidos mais fortes.
Segundo ele, os grandes partidos
brasileiros já têm um perfil ideológico razoavelmente definido, com
exceção do PMDB.
"Basta ver que legendas como
PT, PDT, PSDB e PFL votam disciplinadamente no Congresso", disse o cientista político, acrescentando que é muito raro uma migração
de um parlamentar eleito por um
partido de esquerda, por exemplo,
para um de direita.
Deputado de primeira legislatura, Kapaz se disse estarrecido com
as mudanças de legenda neste início de ano. "Os partidos estimulam
a migração apenas para poder dominar comissões importantes na
Câmara", afirmou o parlamentar,
para quem a prática é incompatível com uma democracia forte.
Kapaz chegou a relacionar a estabilidade econômica à reforma política. "A estabilidade econômica
não virá sem a estabilidade política, que não virá sem partidos fortes, que não virão sem algumas
mudanças no sistema", avalia.
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