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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO
Marcelo Netto nega envolvimento no caso; PF suspeita que jornalista vazou dados
Ex-assessor de Palocci depõe na Polícia e acaba indiciado
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal indiciou ontem o jornalista Marcelo Netto
por prática do crime de quebra de
sigilo bancário. Assessor de imprensa do ex-ministro Antonio
Palocci (Fazenda), o jornalista foi
ouvido ontem pela Polícia Federal
e negou envolvimento na violação
do sigilo bancário do caseiro
Francenildo dos Santos Costa.
O crime está previsto no artigo
10 da lei complementar 105/2001,
com previsão de pena de um a
quatro anos de prisão e multa.
Marcelo Netto assumiu o cargo
no Ministério da Fazenda no início do governo Lula. Deixou o
posto dias depois de Palocci,
quando ambos tiveram seus nomes envolvidos na quebra do sigilo do caseiro, operação feita na sede da Caixa Econômica Federal,
em Brasília, em 16 de março.
Ouvido ontem pela PF, o jornalista disse só ter tomado conhecimento da violação depois que a
movimentação bancária do caseiro se tornou pública. Na noite de
17 de março, o blog da revista
"Época" divulgou o conteúdo dos
extratos bancários do caseiro obtidos por meio de ato ilegal.
A convicção do delegado Rodrigo Carneiro Gomes é a de que
Marcelo Netto está, sim, envolvido no episódio. Ele participou de
reuniões na casa de Palocci nos
dias 16 e 17 de março. Além disso,
a PF afirma que ele conhece e troca telefonemas com jornalistas da
"Época" que assinam a reportagem que tornou pública a movimentação bancária do caseiro. A
PF pediu ontem à Justiça a quebra
do sigilo telefônico do ex-assessor
de Palocci. O período de análise se
limita aos dias 16 e 17 de março.
Para o advogado Eduardo Toledo, que defende Marcelo Netto, o
indiciamento não tem amparo fático nem jurídico: "Mas não vou
antecipar um eventual debate jurídico dessa questão antes da conclusão do inquérito e da manifestação do Ministério Público".
Tecnicamente, é do Ministério
Público a última palavra, antes da
decisão judicial, sobre quem deve
ser acusado ou não de conduta
criminosa, bem como a definição
de tal conduta. O advogado Toledo afirma que seu cliente esteve
em reuniões na casa de Palocci
nos dias 16 e 17 de março, como
em diversas outras ocasiões, sempre "para despachar assuntos institucionais referentes às suas funções no Ministério da Fazenda".
Quanto ao dia 16 de março, conforme o advogado, era necessário
definir se Palocci iria fazer alguma
declaração oficial ou dar entrevista diante das declarações do caseiro à CPI dos Bingos. Na ocasião,
Francenildo reafirmou que Palocci esteve entre "dez ou 20 vezes"
numa casa alugada por ex-assessores no Lago Sul de Brasília, na
qual haveria festas e negociatas.
O depoimento de Marcelo Netto durou mais de três horas. Ele
entrou e saiu do prédio da PF sem
dar entrevista -só seu advogado
falou. Ouvido no dia 5 de abril na
PF, Palocci confirmou ter recebido em mãos os dados bancários
do caseiro, mas isentou seu ex-assessor, afirmando não ter repassado a ele cópia dos extratos.
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