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TV pública depende de verba do Estado, afirmam diretores
Tereza Cruvinel, da TV Brasil, e Paulo Markun, da TV Cultura, refutam idéia de emissoras buscarem doações de telespectadores
Em debate promovido pela Folha, novo ombudsman, Lins da Silva, elogia modelo da norte-americana PBS, financiada por doações
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os jornalistas Tereza Cruvinel, diretora-presidente da
EBC (Empresa Brasil de Comunicação), vinculada ao governo federal, e Paulo Markun,
diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da rádio e TV Cultura, ligada ao governo de São Paulo,
disseram ontem que as emissoras dependem de recursos do
Estado e rechaçaram a idéia de
que possam buscar agora doações de telespectadores para financiar suas atividades.
Eles participaram ontem, ao
lado do ex-presidente da estatal Radiobrás e atual conselheiro da Fundação Padre Anchieta, Eugênio Bucci, de debate
promovido pela Folha, em seu
auditório, e pelo iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso). O debate foi mediado pelo
novo ombudsman do jornal,
Carlos Eduardo Lins da Silva.
Ele deixará o cargo de apresentador do programa "Roda Viva", da TV Cultura, antes de assumir sua nova função.
Durante o encontro, Lins da
Silva disse que, para ele, o melhor modelo de TV pública é o
da rede norte-americana PBS.
Segundo ele, "70%" do capital
financeiro usado na PBS vem
de doações dos telespectadores. O mediador indagou se isso
poderia ser aplicado no Brasil.
Embora ache que, em linhas
gerais, "temos que caminhar
para que a sociedade pague a
conta da comunicação pública", Markun disse acreditar
que "é difícil a gente imaginar,
a curto prazo, que o público seja capaz de se mobilizar para
voluntariamente contribuir
para o sustento da comunicação pública, botando a mão no
bolso e pagando, todo mês, algum tipo de taxa voluntária".
Para ele, esse tipo de apelo ao
telespectador só poderia ocorrer após a implantação de "um
serviço de qualidade, ter uma
diferença que faça com que as
pessoas se sintam dispostas a
fazer esse tipo de ação".
Cruvinel afirmou que o modelo da PBS "é interessante",
mas que "nunca chegaremos,
nunca poderemos, tão cedo,
criar uma cultura para a contribuição espontânea". "O Brasil,
na sua diversidade (...), com
seus problemas da desigualdade, acho que ainda é difícil."
Ela ressaltou que o orçamento da PBS também recebe recursos públicos. "O Estado ter
participação é importante. Não
acho que aí está o problema,
desde que sejam criados mecanismos para que ele [governo]
não faça disso, o aporte de recursos orçamentários, uma
condição para querer manipular e controlar."
Os debatedores defenderam
a tese de que as emissoras comerciais de alguma forma também são mantidas por recursos
públicos, já que o custo da veiculação dos comerciais é, segundo eles, repassado aos consumidores no preço dos produtos anunciados.
Governo
Eugênio Bucci fez ressalvas à
ligação que a EBC mantém com
a Secretaria de Comunicação,
vinculada ao Planalto. A Radiobrás, que ele dirigiu, também
era vinculada. "A relação de
vinculação de uma empresa encarregada de fazer jornalismo a
um organismo encarregado da
propaganda do governo e da assessoria de imprensa do presidente dá espaço para um conflito de orientação, por mais que
as pessoas não queiram."
Cruvinel disse ter dúvidas
em relação a qual pasta, então,
pelo raciocínio de Bucci, deveria ser ligada a EBC. "Na verdade, o bom mesmo é que não
houvesse vinculação a nenhum
ministério. (...) O mandato do
diretor-presidente da EBC tenta ser uma garantia e não subordinação às pressões que todos nós sabemos que governos
exercem. O livro do Eugênio
Bucci ["Em Brasília, 19 Horas"]
é um relato nesse sentido", afirmou a diretora.
Ao resposta a uma pergunta
da platéia, Cruvinel minimizou
a demissão de Luiz Lobo, ex-editor de programa jornalístico
da TV Brasil. A Folha revelou
na semana passada que Lobo
atribuiu sua saída a pressões
políticas. Ela classificou o tema
como "episódio administrativo
de uma empresa de comunicação" e disse que ganhou dimensão "pela luta política".
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