São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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TV pública depende de verba do Estado, afirmam diretores

Tereza Cruvinel, da TV Brasil, e Paulo Markun, da TV Cultura, refutam idéia de emissoras buscarem doações de telespectadores

Em debate promovido pela Folha, novo ombudsman, Lins da Silva, elogia modelo da norte-americana PBS, financiada por doações

MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os jornalistas Tereza Cruvinel, diretora-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), vinculada ao governo federal, e Paulo Markun, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da rádio e TV Cultura, ligada ao governo de São Paulo, disseram ontem que as emissoras dependem de recursos do Estado e rechaçaram a idéia de que possam buscar agora doações de telespectadores para financiar suas atividades.
Eles participaram ontem, ao lado do ex-presidente da estatal Radiobrás e atual conselheiro da Fundação Padre Anchieta, Eugênio Bucci, de debate promovido pela Folha, em seu auditório, e pelo iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso). O debate foi mediado pelo novo ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva. Ele deixará o cargo de apresentador do programa "Roda Viva", da TV Cultura, antes de assumir sua nova função.
Durante o encontro, Lins da Silva disse que, para ele, o melhor modelo de TV pública é o da rede norte-americana PBS. Segundo ele, "70%" do capital financeiro usado na PBS vem de doações dos telespectadores. O mediador indagou se isso poderia ser aplicado no Brasil.
Embora ache que, em linhas gerais, "temos que caminhar para que a sociedade pague a conta da comunicação pública", Markun disse acreditar que "é difícil a gente imaginar, a curto prazo, que o público seja capaz de se mobilizar para voluntariamente contribuir para o sustento da comunicação pública, botando a mão no bolso e pagando, todo mês, algum tipo de taxa voluntária". Para ele, esse tipo de apelo ao telespectador só poderia ocorrer após a implantação de "um serviço de qualidade, ter uma diferença que faça com que as pessoas se sintam dispostas a fazer esse tipo de ação".
Cruvinel afirmou que o modelo da PBS "é interessante", mas que "nunca chegaremos, nunca poderemos, tão cedo, criar uma cultura para a contribuição espontânea". "O Brasil, na sua diversidade (...), com seus problemas da desigualdade, acho que ainda é difícil."
Ela ressaltou que o orçamento da PBS também recebe recursos públicos. "O Estado ter participação é importante. Não acho que aí está o problema, desde que sejam criados mecanismos para que ele [governo] não faça disso, o aporte de recursos orçamentários, uma condição para querer manipular e controlar."
Os debatedores defenderam a tese de que as emissoras comerciais de alguma forma também são mantidas por recursos públicos, já que o custo da veiculação dos comerciais é, segundo eles, repassado aos consumidores no preço dos produtos anunciados.

Governo
Eugênio Bucci fez ressalvas à ligação que a EBC mantém com a Secretaria de Comunicação, vinculada ao Planalto. A Radiobrás, que ele dirigiu, também era vinculada. "A relação de vinculação de uma empresa encarregada de fazer jornalismo a um organismo encarregado da propaganda do governo e da assessoria de imprensa do presidente dá espaço para um conflito de orientação, por mais que as pessoas não queiram."
Cruvinel disse ter dúvidas em relação a qual pasta, então, pelo raciocínio de Bucci, deveria ser ligada a EBC. "Na verdade, o bom mesmo é que não houvesse vinculação a nenhum ministério. (...) O mandato do diretor-presidente da EBC tenta ser uma garantia e não subordinação às pressões que todos nós sabemos que governos exercem. O livro do Eugênio Bucci ["Em Brasília, 19 Horas"] é um relato nesse sentido", afirmou a diretora.
Ao resposta a uma pergunta da platéia, Cruvinel minimizou a demissão de Luiz Lobo, ex-editor de programa jornalístico da TV Brasil. A Folha revelou na semana passada que Lobo atribuiu sua saída a pressões políticas. Ela classificou o tema como "episódio administrativo de uma empresa de comunicação" e disse que ganhou dimensão "pela luta política".


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