São Paulo, sábado, 18 de abril de 1998

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GOVERNO
Presidente ficou dez minutos na UTI onde está internado o ministro e amigo pessoal, cujo estado é grave
FHC visita Motta e viaja abatido ao Chile

do enviado especial à Bolívia

O presidente Fernando Henrique Cardoso visitou ontem o ministro Sérgio Motta (Comunicações), amigo seu há mais de 30 anos e homem-forte no governo, que está internado há 11 dias em estado grave no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
FHC chegou ao hospital às 8h45 e permaneceu lá por cerca de uma hora. A Folha apurou que o presidente mal conseguiu dormir na noite anterior e que ficou extremamente emocionado ao entrar na UTI onde está Motta.
FHC ficou na UTI por dez minutos, acompanhado de Wilma, mulher do ministro, com quem conversou "longamente", segundo testemunhas. Sérgio Motta está inconsciente, sedado.
"Nós estamos confiantes. O Sérgio é um homem forte, uma pessoa admirável, que briga. Estamos na torcida", disse FHC, ao lado Wilma.
Viagem
A decisão de visitar o ministro foi tomada pelo presidente no final da tarde de anteontem, depois de ele ter falado ao telefone com Wilma e com Bernardino Tranchesi Júnior, da equipe médica que está tratando de Motta.
De acordo com a assessoria do presidente, ele quis ver o amigo porque teria de partir para uma viagem à Bolívia e ao Chile ontem.
Em alguns momentos de sua entrevista, o presidente falou pausadamente e ficou com os olhos marejados. Comentou um editorial publicado em Brasília que elogiava a privatização da telefonia celular comandada por Motta.
"Nesse editorial se dizia que nunca se imaginou que no Brasil houvesse moralidade pública. O Sérgio encarnou isso. Tantas injustiças são feitas aos homens públicos que há momentos em que é preciso separar o joio do trigo. O Sérgio certamente pertence ao trigo", disse o presidente.
Ao ser indagado sobre um eventual cancelamento de sua viagem, Fernando Henrique alegou que não poderia fazer isso por causa de suas obrigações na Presidência.
"Eu não sou dono do meu tempo, infelizmente. Tenho que defender os interesses do Brasil em Santiago (na Cúpula das Américas). Eu tenho certeza de que o Sérgio faria a mesma coisa."
Após a visita a Motta, Fernando Henrique foi para a Bolívia, embarcando da Base Aérea do aeroporto de Congonhas, às 10h10.
O presidente chegou abatido à Bolívia. No avião presidencial que o levou até Santa Cruz de la Sierra, FHC conversou um pouco e depois se deitou para descansar.
Fernando Henrique Cardoso e o presidente boliviano, Hugo Banzer, assinaram declaração de apoio à integração energética e física de Brasil e Bolívia.
Durante a solenidade, FHC se limitou a ler o discurso elaborado pelo Itamaraty. Não improvisou, como é de seu costume.
Não participou do coquetel preparado em sua homenagem.
Saúde
Depois de ter tido picos de febre e piora da função respiratória na noite de quinta-feira, ontem o estado de saúde do ministro permaneceu estável, segundo boletim.
A nota dos médicos informou ainda que houve "diminuição da temperatura, mantendo os parâmetros hemodinâmicos e diurese adequados". Isso significa que o ministro está sem alterações de pressão, ritmo cardíaco e na função renal.
A Folha apurou, porém, que o quadro de saúde de Motta é instável na maior parte do tempo e que seu pulmão não consegue mais fazer as trocas de gases naturalmente. O risco de uma infecção generalizada não estava afastado, apesar de o ministro ter melhorado.



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