São Paulo, sábado, 18 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA
Punks começaram a confusão, que envolveu PMs e sem-terra
Manifestação do MST em SP acaba com seis feridos


BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local


Cerca de 3.000 manifestantes do MST, da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da CMP (Central de Movimentos Populares) entraram em confronto com policiais do Batalhão de Choque da PM em frente à Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo, no centro da capital paulista ontem.
Segundo a PM, o estopim do conflito foi o avanço de um grupo de punks contra a linha de policiais que protegiam o prédio de eventuais conflitos durante protesto pelo aniversário da morte dos sem-terra do Pará.
O conflito se generalizou e a PM usou cães, cassetetes, bombas de gás e de efeito moral. Os manifestantes responderam com paus e pedras. Havia 160 PMs no local, metade deles do Choque.
Segundo o coronel PM Marcos Alcântara, três policiais, um deles com suspeita de fratura do punho e os demais com escoriações leves, e três manifestantes saíram feridos do confronto na Bovespa.
As 19 cruzes de madeira que simbolizavam os sem-terra mortos há dois anos em Eldorado do Carajás (PA) viraram armas de ataque contra os policiais. Delweck Mateus e Gilmar Mauro, líderes do MST se revezaram no microfone do carro de som para tentar conter os cerca de 50 manifestantes que insistiram em atirar paus e pedras contra os policiais.
Esse primeiro confronto durou cerca de dez minutos e aos poucos os manifestantes foram retomando o calçadão em frente à Bovespa. O clima, porém, continuou tenso. Por cinco vezes os policiais usaram os cães para afastar os militantes. Cerca de 15 minutos depois da trégua, estourou uma nova escaramuça: mais cinco minutos de bombas de gás lacrimogênio, paus e pedras.
Quando a calma voltou, os manifestantes marcharam até a praça Ramos de Azevedo, onde fizeram uma assembléia e se dispersaram às 18h. Eles aprovaram uma agenda de manifestações, com destaque para a instalação de acampamentos de desempregados em frente a supermercados nas grandes cidades.
O MST prometeu distribuir hoje dois caminhões de alimentos produzidos em assentamentos do Estado para a população carente.
A manifestação liderada pelo MST começou ao meio-dia na praça da Sé. Antes do início da passeata em direção ao prédio da Bovespa, ocorreu o primeiro incidente com os punks. Um deles carregava um bola de bilhar dentro de um meião, um bastão de ferro e uma faca de cozinha, que foram apreendidos pela PM.
"Vamos até a Bolsa, que é um cassino onde os jogadores sempre ganham e o povo só perde", disse Gilmar Mauro. Ele assegurou que o MST não pretendia invadir a Bovespa, mas apenas fazer um ato simbólico.
Já Mateus, vestindo camisa social e gravata, entrou no prédio da Bovespa e desfraldou a bandeira do MST no pregão.
Acusados pela PM e pelo próprio MST de terem causado o tumulto na frente da Bovespa, os cerca de 20 punks se retiraram da manifestação contrariados.
Um dos líderes do grupo, que se identificou como Teófilo Lourenço, 23, disse que "ninguém deu apoio aos punks quando eles começaram a apanhar da polícia".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.