São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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QUESTÃO AGRÁRIA
Reunião seria no próximo dia 30, em Brasília; ministro da Justiça afirma que não há nada marcado
MST articula encontro com o governo

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) articulam uma reunião para o dia 30, em Brasília. Seria a primeira depois das invasões de prédios públicos promovidas pelos sem-terra no início deste mês.
Conforme o MST, participarão os ministros Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) e José Gregori (Justiça), pelo governo, e os líderes João Pedro Stedile e José Rainha Júnior, pelo MST. Gregori, entretanto, disse ontem à noite, por meio de sua assessoria, que não há nada marcado.
O movimento exige a participação de três bispos da Igreja Católica, que sirvam como observadores e testemunhas das discussões. A princípio, a reunião seria no gabinete de Gregori, na Justiça.
Stedile disse ontem à Folha que a idéia é criar "uma comissão de trabalho para preparar uma reunião posterior com o presidente (Fernando Henrique Cardoso)".
"O modelo (de reforma agrária) está gerando cada vez mais diferenças sociais e a agricultura está inviabilizada", disse Stedile. "Isso é semear ventos, e certamente o governo vai colher muita tempestade." O encontro foi intermediado por parlamentares do PT que vêm conversando tanto com o governo quanto com Stedile e Rainha, para evitar um nível ainda maior de radicalização.
Ainda ontem, o MST controlava três áreas do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e se recusava a sair sem uma negociação direta com o governador.
Os próprios governadores do PT estão preocupados com os rumos do MST e as relações do movimento com o partido. Conforme a Folha apurou, eles acham que a causa é legítima e justa, mas que o MST está "com tintas muito fortes", ou seja, excessivamente ideologizado.
A entrevista de Stedile publicada pela Folha no último domingo foi interpretada por pelo menos um governador petista como comprovação de que o MST não está articulado apenas para a reforma agrária, mas para pressionar o governo a mudar o modelo econômico brasileiro.
Na entrevista, Stedile reconheceu as dificuldades de mudar o país via reforma no campo e defendeu mudanças a partir das áreas urbanas.
A retórica preocupa setores do PT, que se articularam para marcar uma reunião entre o governo e os líderes do MST justamente para a retomada do diálogo.
Foi com essa intenção, de isolar o MST, que Jungmann acatou e anunciou medidas reivindicadas pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) para incentivo à reforma agrária e a pequenos agricultores.


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