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QUESTÃO AGRÁRIA
Reunião seria no próximo dia 30, em Brasília; ministro da Justiça afirma que não há nada marcado
MST articula encontro com o governo
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) articulam uma reunião para o dia 30, em Brasília. Seria a primeira depois das invasões de prédios públicos promovidas pelos
sem-terra no início deste mês.
Conforme o MST, participarão
os ministros Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) e José
Gregori (Justiça), pelo governo, e
os líderes João Pedro Stedile e José
Rainha Júnior, pelo MST. Gregori, entretanto, disse ontem à noite,
por meio de sua assessoria, que
não há nada marcado.
O movimento exige a participação de três bispos da Igreja Católica, que sirvam como observadores e testemunhas das discussões.
A princípio, a reunião seria no gabinete de Gregori, na Justiça.
Stedile disse ontem à Folha que
a idéia é criar "uma comissão de
trabalho para preparar uma reunião posterior com o presidente
(Fernando Henrique Cardoso)".
"O modelo (de reforma agrária)
está gerando cada vez mais diferenças sociais e a agricultura está
inviabilizada", disse Stedile. "Isso
é semear ventos, e certamente o
governo vai colher muita tempestade." O encontro foi intermediado por parlamentares do PT que
vêm conversando tanto com o governo quanto com Stedile e Rainha, para evitar um nível ainda
maior de radicalização.
Ainda ontem, o MST controlava
três áreas do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e se recusava
a sair sem uma negociação direta
com o governador.
Os próprios governadores do
PT estão preocupados com os rumos do MST e as relações do movimento com o partido. Conforme a Folha apurou, eles acham
que a causa é legítima e justa, mas
que o MST está "com tintas muito
fortes", ou seja, excessivamente
ideologizado.
A entrevista de Stedile publicada pela Folha no último domingo
foi interpretada por pelo menos
um governador petista como
comprovação de que o MST não
está articulado apenas para a reforma agrária, mas para pressionar o governo a mudar o modelo
econômico brasileiro.
Na entrevista, Stedile reconheceu as dificuldades de mudar o
país via reforma no campo e defendeu mudanças a partir das
áreas urbanas.
A retórica preocupa setores do
PT, que se articularam para marcar uma reunião entre o governo e
os líderes do MST justamente para a retomada do diálogo.
Foi com essa intenção, de isolar
o MST, que Jungmann acatou e
anunciou medidas reivindicadas
pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) para incentivo à reforma
agrária e a pequenos agricultores.
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