São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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Investigação envolve Grupo Inepar em suposto desvio

DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A promotora Solange Vicentin, do Ministério Público do Paraná, requisitou no último dia 4 toda a documentação contábil e os movimentos de caixa, do ano de 1998, da empresa Inepar S/A Indústria e Construções, do Grupo Inepar.
O grupo paranaense começou a ser investigado depois de denúncia de participação em suposto esquema de desvios de verbas da Prefeitura de Londrina (PR), que levou ao pedido do afastamento de Antônio Belinati (PFL). O Ministério Público estipulou um prazo de 15 dias para receber os documentos.
As investigações chegaram ao Grupo Inepar depois que o publicitário Waurides Brevilheri Júnior, proprietário da empresa Metrópole Comunicação, afirmou que forneceu nota fiscal fria no valor de R$ 323 mil à Inepar.
Segundo Brevilheri, a nota teria sido feita a pedido de Rubens Pavan, presidente da Sercomtel (empresa municipal de telefonia), para encobrir uma doação feita pela Inepar à campanha da vice-governadora Emília Belinati, que na época disputava vaga para concorrer ao Senado em 1998.
Após uma composição entre o governador Jaime Lerner (PFL) e Álvaro Dias (PSDB), Emília perdeu a indicação para o Senado e acabou disputando a reeleição como vice-governadora.

Cheques
A Agência Folha obteve documentos que mostram que a nota fiscal da Metrópole foi emitida em 11 de março. No dia seguinte, um DOC (Documento de Ordem de Crédito), no valor de R$ 318,1 mil, foi depositado pela Inepar na conta da empresa de Brevilheri.
Quatro cheques da Metrópole foram então emitidos (no valor total de R$ 280 mil). Três deles, totalizando R$ 210 mil, foram depositados na conta da Master Oyster Presentes, de São Paulo, pertencente a Nielsen Cohn. Segundo Brevilheri, Cohn é um doleiro.
O quarto cheque, no valor de R$ 70 mil, foi depositado para a empresa Caluan Pavimentação e Obras, do empresário Carlos Zaveirucha, tesoureiro pessoal do prefeito Belinati e coordenador da campanha de Emília e Lerner na cidade de Londrina.

Suborno
Em entrevista à Agência Folha, Brevilheri disse que a empresa Engenho Propaganda e a TV Tropical (CNT), ambas de Londrina, também haviam fornecido notas frias à Inepar. O MP investiga a participação das duas empresas.
Brevilheri disse que a Inepar exigia dos políticos notas de empresas que comprovassem pagamento de impostos, "para a operação ser regularizada".
Segundo ele, além de auxiliar as campanhas, o dinheiro serviria para subornar vereadores de Londrina para que votassem projetos de "interesse da empresa".
O publicitário declarou que o dinheiro entregue pela Inepar aos políticos de Londrina voltaria à empresa após a venda, pelo município, das ações da Sercomtel.
O repasse da Inepar chegaria a R$ 3,5 milhões. A maior parcela desse dinheiro teria sido entregue a 16 dos 21 vereadores para aprovarem a venda de ações da Sercomtel na Câmara Municipal.
O resto do dinheiro teria sido destinado aos comitês de campanha da vice-governadora Emília Belinati e seu filho, Antônio Carlos Belinati (PSB), que foi eleito deputado estadual.

Notas frias
As notas frias (sem efetiva comprovação de serviços prestados) começaram a ser emitidas em março de 1998. Em abril, por 16 votos a 5, os vereadores aprovaram a venda de ações da empresa municipal de telefonia.
Em maio daquele ano, 45% das ações da Sercomtel foram vendidas à Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica) por R$ 186 milhões, montante repassado à Prefeitura de Londrina.
Desse total, a prefeitura gastou R$ 70,9 milhões em pagamentos ao Banestado (Banco do Estado do Paraná), ao banco Fontecindam e à própria Sercomtel, referentes a dívidas do município com a empresa. Esses pagamentos estão sob investigação. (JM)

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