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ANÁLISE
Petista se preparou, mas também escorregou
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dilma Rousseff (PT) estava
visivelmente treinada para a
sua entrevista ao vivo ontem,
das 8h às 9h, à emissora de rádio CBN. Da roupa ao gestual,
da maquiagem ao cuidado na
hora de se despedir das entrevistadoras do sexo feminino, a
petista quis evitar equívocos.
A ideia parecia ser apresentar-se como contraponto ao adversário direto, José Serra
(PSDB), que havia se submetido à mesma entrevista na segunda-feira anterior. Dilma
não demonstrou a irritação do
tucano, mas acabou também
cometendo deslizes.
Há uma semana, Serra havia
sido indagado pela colunista
Miriam Leitão sobre como reagiria diante de um erro cometido pelo Banco Central. Um
pouco exasperado, respondeu
classificando de "grande bobagem" a dúvida sobre sua atitude
nessa situação hipotética.
Dilma não fez o mesmo. Mas,
ao ser questionada sobre ter sido parcialmente contra a política de austeridade fiscal de Lula, reagiu assim: "Miriam, me
desculpa, eu acho que você está
errada no conceito". Embora
fortes, as palavras saíram num
tom ensaiado e comedido, fugindo da beligerância.
Como a CBN coloca na internet a íntegra da entrevista, inclusive em vídeo, foi possível
notar a preocupação visual de
Dilma e de sua equipe. Serra
havia comparecido com roupa
esporte e até se disse surpreendido ao saber que a entrevista
seria também com imagens. Já
a petista optou por um casaco
azul num tom forte para contrastar de maneira eficiente
com fundo do cenário, em vermelho quase berrante.
Bem maquiada e sem olheiras, Dilma aprendeu a usar uma
muleta verbal. "Olha...", seguida de uma pequena pausa, é a
sua palavra inicial favorita numa resposta antes de expor um
raciocínio. O artifício não impediu uma escorregada ao citar
o possível candidato a vice na
chapa petista, o deputado Michel Temer (PMDB-SP). Dilma
o promoveu a presidente do Senado (ele preside a Câmara).
Uma derrapada lateral. O objetivo de Dilma era reduzir a
percepção de que é áspera no
trato. Disciplinada, não se irritou. Adapta-se cada vez mais ao
truque dos políticos tradicionais. Evita responder a perguntas de maneira objetiva.
Nessas entrevistas, os candidatos sabem que podem ganhar
poucos votos. Mas destemperos verbais são risco certo de
um prejuízo.
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