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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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PT X PT

Resultado da votação explicita racha entre "governistas" e "esquerdistas"

Por 32 a 22, bancada do PT formaliza apoio a reformas

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

A definição sobre uma declaração formal de apoio à reforma da Previdência explicitou ontem, mais uma vez, a divisão da bancada de deputados federais do PT em relação ao tema: por 32 votos a 22, os governistas da legenda conseguiram aprovar a declaração, mas fracassaram na tentativa -combinada na noite anterior- de colocar uma pedra no que classificam de ambiguidade da bancada em torno da proposta.
"Tiramos uma resolução de apoio inequívoco à reforma. A bancada do PT diz ao governo que vai votar com o governo", afirmou o deputado Nelson Pellegrino (BA), líder do partido na Câmara. "As decisões podem até ser tomadas. Não sei é quantos vão respeitá-las", rebateu o deputado federal Walter Pinheiro (BA), da esquerda do partido.
Toda a articulação em torno da declaração começou na noite de anteontem durante uma reunião entre o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente nacional do PT, José Genoino, e os cerca de 20 deputados que compõem a coordenação da bancada, majoritariamente governista.
Genoino e vários outros pregaram a necessidade de o partido se declarar formalmente favorável à reforma da Previdência, sob a argumentação de que, devido aos frequentes embates internos, a população ficou com a impressão de que o PT apresenta uma posição ambígua em relação ao tema.
"É preciso ficar claro para o país que o PT apóia o governo", disse Pellegrino ontem. Genoino reforçou argumentando que a "bancada do PT não pode passar a idéia de que é ambígua em relação à reforma". O governo avalia que a dubiedade no PT complica a tentativa de cobrar fidelidade dos outros partidos da base aliada e de arregimentar votos na oposição.

Resistência
Na manhã de ontem, a bancada do partido (que conta com 93 deputados) se reuniu. Logo no início ficou claro que os cerca de 30 deputados mais à esquerda não aceitariam aprovar a declaração de apoio à reforma. "Temo que isso seja um enquadramento prévio", resumiu o deputado federal Chico Alencar (RJ).
Contrários a vários pontos do texto -que está em análise na comissão especial da Câmara dos Deputados-, eles querem propor alterações significativas. Depois de tentativas de entendimento, com recurso inclusive a uma reunião paralela à da bancada, duas propostas de declaração foram colocadas em votação.
A dos governistas, que foi aprovada, diz que "a bancada do PT aprova a reforma da Previdência, apóia a Proposta de Emenda à Constituição 40 [que é a própria reforma] e encaminhará emendas que considera necessárias ao aperfeiçoamento do projeto".
A proposta da esquerda, derrotada, pregava que a bancada aprovava a reforma na "ótica da seguridade social", o que, para eles, implica a realização de várias modificações no projeto de reforma.
Apesar de 22 dos 54 presentes se declararem contrários, os governistas comemoraram. "Só quem não conhece o PT diz que há racha. Mesmo que a diferença fosse de um voto, a minoria teria de se submeter à maioria", afirmou Paulo Bernardo (PR). "Imposição da minoria não existe no PT", reforçou o deputado Professor Luizinho (SP), vice-líder do governo.
Os esquerdistas afirmam que podem recorrer da decisão ao Diretório Nacional do PT. A reunião da bancada federal prosseguia até o conclusão desta edição. Os governistas tentavam ainda aprovar uma resolução impedindo a apresentação de emendas individuais no PT, o que representaria outro golpe na ala esquerdista.
Outra discussão era relativa às emendas. O partido definiu que vai negociar com o governo federal e com a base aliada a possibilidade de apresentar dez emendas à reforma previdenciária.


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