São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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ANÁLISE

Para Lula, "ruim com eles, pior sem eles"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa de José Sarney para evitar o progressivo enfraquecimento político do grupo peemedebista que sustenta o governo no Senado.
Nas palavras de um auxiliar direto do presidente, "ruim com eles, pior sem eles". Fulanizando, "eles" são Sarney e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Lula depende do PMDB, dono da maior bancada no Senado, para evitar tropeços numa Casa do Congresso na qual tem maioria instável desde o primeiro mandato.
Não interessa a Lula o enfraquecimento de Sarney e Renan. Nas ocasiões em que isso aconteceu, "o governo pagou o pato", recorrendo novamente às palavras de um auxiliar direto do presidente.
A criação da CPI do Petrobras, por exemplo, ajudou Sarney e Renan a desviar o foco de uma série de revelações de ilegalidades, irregularidades e imoralidades recentes do Senado. Lula teme que, num cenário em que Sarney e Renan se vejam ameaçados de perder o controle do Senado, a oposição consiga criar fatos políticos que desgastariam o governo.
Por exemplo: instalar a CPI e enfrentar um PMDB combalido. Nesse contexto, Lula busca preservar a própria estabilidade política na reta final do mandato quando sai em socorro de Sarney lá do Cazaquistão.
Mas há ainda um motivo de pessoal e outro político.
O presidente da República é grato política e pessoalmente ao presidente do Senado. Na época em que estava na oposição, Lula foi defendido por Sarney quando reportagens questionavam a lisura da compra do apartamento do petista em São Bernardo do Campo.
Na campanha eleitoral de 2002, Sarney deu suporte importante ao Lula. Naquele ano, o PMDB apoiava oficialmente a candidatura tucana de José Serra. Sarney foi o mais importante dissidente do PMDB.
No primeiro mandato de Lula, Sarney e Renan foram os líderes da ala governista do PMDB. Só no segundo mandato Lula obteve o apoio de antigos oposicionistas, como o atual ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.
O outro motivo político: Sarney é um dos maiores defensores da candidatura de Dilma Rousseff. Para Lula, o senador será um dos fiadores de um acordo em articulação para que PMDB feche aliança formal com o PT na tentativa de eleger a ministra. O tempo de TV do PMDB e sua "capilaridade nacional" são fundamentais para uma candidatura presidencial.


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