São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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GOVERNO
Presidente pede que relatório sobre diretor da PF fique pronto até a semana que vem; aliados prevêem queda
FHC dá prazo para decisão sobre Campelo

MARTA SALOMON
AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso fixou prazo até o início da semana que vem para decidir o destino do novo diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, acusado de comandar sessões de tortura nos anos 70.
Campelo não pediu demissão, embora tenha dito a amigos que não ficará no cargo sem o apoio do governo para levar adiante os planos que traçou para a PF.
Mesmo sob o ataque de aliados políticos do governo, inclusive do PSDB, partido de FHC, e sem conseguir despachar com o seu chefe, o ministro Renan Calheiros (Justiça), o diretor preferiu esperar por uma decisão do presidente.
""Ele (Campelo) é disciplinado, não é homem de recuar", disse o deputado Elton Rohnelt (PFL-RR), amigo do delegado.
Rohnelt contou que Campelo está ""chateado" com os constrangimentos por que vem passando desde que foi nomeado para a PF.
Segundo interlocutores de FHC, o presidente ainda espera pela conclusão das investigações que encomendou ao chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, para se decidir sobre o caso.
Depois do conturbado depoimento que prestou no Congresso, Campelo reuniu-se no Palácio do Planalto com o general, a quem chamou de ""meu amigo". Cardoso disse a ele que as investigações não estão concluídas.
Embora a permanência de Campelo no cargo seja considerada ""uma questão de horas" por aliados políticos do Planalto, e sua nomeação seja classificada de ""insustentável", FHC insiste em não prejulgar o diretor da PF. As conclusões do general Cardoso serão o sinal verde para sua decisão.
FHC também leva em consideração a dificuldade para escolher um novo diretor para a PF sem criar novos conflitos com a base política do governo.
O porta-voz da Presidência, George Lamazière, disse ontem que o presidente não havia acompanhado o depoimento do diretor da PF na Câmara, nem tinha uma opinião nova sobre o caso.
Mas o depoimento do ex-padre José Antônio Monteiro, anteontem, acusando Campelo de participar de sessões de tortura, não convenceu interlocutores próximos do presidente. A avaliação no Palácio do Planalto é que o presidente estava diante da ""palavra de um contra a do outro". Um aliado do presidente disse que, na dúvida, FHC decidirá contra Campelo.
Principal responsável pelas investigações oficiais sobre o passado do diretor-geral, o chefe da Casa Militar disse que continua esperando que ""alguém resolva provar" as acusações de tortura. "O doutor Campelo continua negando as acusações", comentou, sobre o depoimento de ontem.
"Bem", limitou-se a dizer o general quando foi questionado sobre o andamento das investigações feitas pelo serviço de inteligência. O general participou ontem no Planalto da cerimônia que abriu a Semana Nacional Antidrogas.
Campelo saiu do Planalto antes da cerimônia, alegando que não estava se sentindo bem.
O ministro da Justiça também faltou à solenidade realizada no Palácio do Planalto, que contou com a presença de FHC.
A política de combate às drogas é pivô de uma disputa de poder na Esplanada entre a Casa Militar e a Polícia Federal.
Anteontem, FHC decidiu que a coordenação de um novo projeto de repressão ao narcotráfico no Polígono da Maconha ficará a cargo do general Alberto Cardoso.


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