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CONFLITO AGRÁRIO
Cerca de 250 famílias de sem-terra estão em área de 1 milhão de metros quadrados em Perus, na zona norte
MST invade terreno em bairro de São Paulo
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 250 famílias do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra) invadiram anteontem
uma área de cerca de 1 milhão de
metros quadrados no bairro de
Perus, zona norte de São Paulo.
É a segunda invasão do MST na
cidade. Em 20 de julho do ano
passado, 800 famílias do movimento, juntamente com integrantes do MTST (Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto), invadiram um terreno no mesmo bairro, que pertence à Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo).
As famílias que participaram da
invasão de anteontem fazem parte do grupo que está acampado na
área da Sabesp no mesmo bairro.
Além de reivindicar a terra invadida para a reforma agrária, o objetivo desse acampamento sem-terra vai de encontro à intenção
da prefeita Marta Suplicy (PT) de
declarar a área de utilidade pública para fazer um aterro.
Em uma carta, o MST afirma
que, "na contramão [da intenção
da reforma agrária], vem o projeto do lixão, colocando-nos como
vítimas diretas, juntamente com a
população da região, com o objetivo principal de dar lucro às empresas de lixo".
De acordo com Naveen Manikkompel, 37, da direção estadual
do MST, o movimento tem "uma
proposta de produção de alimentos orgânicos, agroindústrias e
habitação", e a possibilidade de a
área se transformar em um aterro
"vai contra essa intenção".
"Na verdade, a solução do problema do lixo não parte de um
aterro, mas sim de outras políticas
públicas que consideram a vida, a
saúde e o meio ambiente em primeiro lugar", afirmou ele.
A Prefeitura de São Paulo irá
abrir uma concorrência pública
para concessão, por até 20 anos,
do serviço de coleta e destinação
final do lixo na cidade. O município será dividido em dois. Em cada região, a prefeitura pretende
encontrar áreas para que sejam
utilizadas para aterro. As empresas vencedoras da licitação terão
de pagar à prefeitura pela desapropriação do terreno. Atualmente, há dois aterros na cidade,
um dos quais em Perus.
Manikkompel, um indiano que
há 13 anos vive no Brasil, disse
que hoje pretende marcar uma
audiência com o Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para pedir que o órgão faça uma vistoria na área.
O terreno da Sabesp no qual as
famílias estão acampadas desde o
ano passado ainda é objeto de disputa entre as partes. Manikkompel afirmou que, apesar de a invasão contar com 800 famílias, se
houver um acordo para reforma
agrária no local, somente cem deverão permanecer na área. "Por
isso estamos reivindicando outras
áreas para assentar todos."
A invasão do MST serviu para
dar mais fôlego ao movimento
"Lixão, mais um, não", integrado
por comerciantes, empresários e
associações de moradores de Perus que desde a década de 90 luta
contra a instalação de aterros no
bairro e na vizinhança.
"Já contribuímos para a cidade
[com a instalação de um aterro] e
só esta região não pode receber o
lixo do município", disse Mário
Sérgio Bortoto, 46, engenheiro
químico e morador do bairro.
Em 2001, cerca de 2.000 pessoas
protestaram contra a instalação
de um aterro em uma área de 1,27
milhão de metros quadrados por
parte da empresa Ecolar Ecologia.
Em junho daquele ano, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente
indeferiu o pedido da empresa
porque o aterro ficaria perto de
uma região urbanizada e poderia
prejudicar áreas de preservação
ambiental permanente.
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