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Na Sé, "Cansei" desemboca em "fora, Lula"
Ato liderado pela OAB-SP e empresários reúne 2.000, entre artistas e celebridades; organizadores reprovam vaias ao presidente
Evento foi marcado para lembrar um mês do desastre aéreo, mas parentes das vítimas não tiveram acesso a palanque armado na praça
LAURA CAPRIGLIONE
PAULO SAMPAIO
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O minuto de silêncio convocado ontem na praça da Sé pelo
Movimento Cívico pelo Direito
dos Brasileiros, o Cansei, em
memória das vítimas do acidente com o avião da TAM, reuniu cerca de 2.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, e 5.000,
segundo os organizadores.
Sem uma palavra de ordem
que sintetizasse um cansaço específico, os manifestantes gritaram "fora, Lula!" depois do
Hino Nacional, cantado por Agnaldo Rayol. Em cima do palco,
as lideranças do movimento,
como o presidente da OAB-SP,
Luiz Flávio Borges D'Urso, e o
empresário João Doria Jr. se
mantiveram em silêncio.
A data da manifestação foi
escolhida em função dos 30
dias do desastre, mas os parentes das vítimas não subiram no
palanque armado na porta da
Catedral da Sé. D'Urso disse
que Sandra Assali, presidente
da Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de
Acidentes Aéreos, representou
as famílias no evento.
De acordo com a organização, o palco podia abrigar apenas 80 pessoas. Entre elas, Hebe Camargo, Ivete Sangalo,
Paulo Vilhena, Wanderléa, Agnaldo Rayol, Fernando Scherer
(Xuxa) e Osmar Santos.
"Os artistas aqui na frente,
por favor. Hebe querida, vem.
João Dória...Wandeca, eterna
Ternurinha; Agnaldo Rayol, a
voz inesquecível...", dizia o
mestre de cerimônias, o advogado João Baptista de Oliveira,
conselheiro da OAB, entidade
que encabeça o movimento.
Ivete Sangalo foi a grande estrela, sem dizer nada durante o
ato. O público se espremia e gritava o nome dela, mas era impossível se aproximar por conta dos guarda-costas que a protegiam. "Estou aqui em prol do
Brasil", disse a cantora à Folha.
Ao todo, 20 seguranças particulares cercavam o palco.
Em entrevista ao final do
evento, Doria e D'Urso disseram respeitar o "fora, Lula",
mas declararam discordar dele.
"Não apóio, não é um movimento democrático para o
país", afirmou o empresário.
Houve vaias ao presidente
misturadas ao "fora, Lula".
D"Urso afirmou que elas não
atrapalharão a relação do
"Cansei" com o governo e diz
que já pediu uma audiência
com o presidente para levar a
cabo uma segunda etapa. "O
movimento não se resume ao
minuto de silêncio. É o primeiro passo de diálogo permanente com o governo, com propostas para ajudar o Brasil."
Não há previsão de novas
manifestações. O "Cansei" surgiu após o acidente com o avião
da TAM, adotou motes como
"cansei do caos aéreo" e "cansei de CPIs que não dão em nada" e até ontem contava com o
apoio de 63 entidades, como a
Fiesp e a Associação Comercial
de São Paulo, além de empresários como o presidente da Philips, Paulo Zottolo -que não
foi à Praça da Sé ontem.
Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", Zottolo disse:
"Não se pode pensar que o país
é um Piauí, no sentido de que
tanto faz quanto tanto fez. Se o
Piauí deixar de existir, ninguém vai ficar chateado". Ele já
se desculpou pela declaração.
Hino, Exército e Deus
João Batista de Oliveira, o
mestre de cerimônias, evocou o
o espírito militar e misturou
um pouco mais as coisas na cabeça de quem tentava entender
as intenções do movimento:
"Não queremos guerra. É como
diz o hino do Exército: "A paz
queremos com fervor, a guerra
só nos causa dor, porém se a pátria amada for um dia ultrajada,
lutaremos com fervor'".
Padre Antônio Maria, que casou Daniella Cicarelli e Ronaldo, é chamado para falar: "Hoje,
Deus diz pra nós: "Estou cansado". Deus está cansado".
Hebe Camargo chegou a bordo de um Mercedes Benz F-65
preto, com motorista, e saltou
na porta da OAB. "Eu sempre
participei de movimentos. Tenho fotos minhas de 40 anos
atrás, na rua. Eu sou do povo!",
disse ela, escoltada por seguranças, enquanto seguia pelo
acesso gradeado que levava ao
palanque. "Ô Hebe "Maluf" Camargo! Fez campanha pra ladrão a vida toda e agora está
cansada!", grita, na direção da
apresentadora, o engenheiro
José Carlos Caldeira Braga, 70.
Segurando por trás nos dois
ombros de Hebe Camargo, a
empresária Ana Luiza Massari,
que se diz indignada, explica o
que faz ali pendurada: "Eu não
sou ninguém, sou só amiga dela. Na verdade, sou dona de
uma clínica estética", diz ela.
Longe do palco, cartazes de
indignação confundiam quem
esperava palavras de ordem.
O dublê Luiz Alexandre da
Silva, 36, se dizia "cansado da
hipocrisia e da pornografia que
a TV mostra todos os dias":
"Minha mãe aprendeu na TV
que sexo é normal e, por causa
disso, eu não conheci meu pai".
A professora Jane Rocha, 48,
que não tinha idéia do que se
passava, afirmou: "O que é isso?
Cansei? Estou exausta!"
Entre os "cansados do Cansei" estavam a artesã e cozinheira Conceição Aparecida
dos Santos: "Os pobres é que
estão cansados. Pedi aos organizadores para falar ao microfone, não deixaram. Moro em
uma ocupação aqui no centro, e
eles estão para nos despejar".
A socialite Maria Christina
Mendes Caldeira, ex de Valdemar Costa Neto, deputado do
PR (ex-PL) que foi acusado de
fazer caixa dois na época do
mensalão e renunciou, mencionou seus planos para o futuro:
"Nos Estados Unidos, há punição para corruptos, por isso vou
pegar minha cidadania americana", disse Christina.
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