São Paulo, Quarta-feira, 18 de Agosto de 1999
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CPI DOS BANCOS
Bilhete revelava suposta conta
Lopes depõe e não comenta US$ 1,6 mi

da Sucursal de Brasília

O ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes se recusou ontem, em depoimento na CPI dos Bancos, a comentar a existência do bilhete de Sérgio Bragança, um dos sócios da Macrométrica. No bilhete, Bragança afirma ter, em contas no exterior, US$ 1,6 milhão de propriedade de Lopes.
"Eu posso ter complicações na área legal. Não posso me dar ao luxo de desobedecer às orientações dos meus advogados", disse. O bilhete foi apreendido durante busca no apartamento dele, comandada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal.
Na opinião de Lopes, o Banco Central lucrou entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões durante a desvalorização do real, em janeiro passado.
Após ser preso por se negar a assinar termo de compromisso de dizer a verdade como testemunha, em abril, Lopes finalmente depôs ontem e disse que o BC não vendeu dólares baratos aos bancos Marka e FonteCindam.
As apurações feitas até agora pela CPI apontam para um prejuízo de R$ 1,6 bilhão nas vendas de dólares feitas aos bancos.
O ex-presidente do BC disse que a instituição teve lucro em janeiro porque optou por manter suas reservas em moeda estrangeira. Segundo ele, quando expressas em reais, as reservas proporcionaram uma receita de R$ 25 bilhões, devido à desvalorização.
No mercado futuro, afirmou, o BC teve uma despesa entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões. E a dívida externa com o FMI (Fundo Monetário Internacional) aumentou em R$ 13 bilhões, disse.
A diferença entre a receita das reservas e esses compromissos é que teria proporcionado o lucro estimado entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por Lopes.
Mas, para ele, é errado investigar a correção dos procedimentos do BC sob o foco do lucro ou prejuízo. "O BC opera com a finalidade de estabilização e de regular os mercados, nunca com o objetivo de obter lucro."
Lopes disse que, em janeiro passado, ao vender dólares no mercado futuro ao Marka e Fonte Cindam, o BC agiu de forma a impedir uma ruptura na BM&F (Bolsa de Mercadoria & Futuros). "Se isso ocorresse, a economia brasileira estaria agora amargando uma recessão profunda."
O ex-presidente do BC disse que não é verdade que a instituição tenha vendido dólares baratos a essas duas instituições.
Segundo ele, o BC vendeu dólares em janeiro ao Marka com a cotação de R$ 1,27, valor superior ao limite de operação de R$ 1,25 fixado pela BM&F para aquela data. Lopes disse que o FonteCindam comprou dólares no mesmo dia a R$ 1,322 e, portanto, também não teria sido beneficiado.
Para o ex-presidente do BC, as cotações do mercado futuro de dólares não devem ser confundidas com as vigentes no mercado à vista. Na ocasião, o teto da banda cambial no mercado à vista estava em R$ 1,32. "São mercados distintos", afirmou.



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