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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ ELEIÇÕES NO PT
Êxodo seria suficiente para retirar da legenda o título de maior bancada da Câmara
Cinco deputados podem deixar PT depois de eleição
RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO
Pelo menos cinco deputados federais admitem que podem deixar o PT caso o Campo Majoritário, tendência que comanda o
partido há dez anos, continue
com a maioria no Diretório Nacional da legenda após as eleições
de hoje. Um êxodo em tais proporções seria o suficiente para tirar da legenda a condição de
maior bancada na Câmara. Dos
89 deputados atuais, ficaria com
84, dois a menos do que o PMDB
tem atualmente.
A Folha ouviu 13 deputados do
"bloco de esquerda" do partido.
Quatro deles -Orlando Fantazzini (SP), Maninha (DF), Walter
Pinheiro (BA) e Chico Alencar
(RJ)- reconhecem que será difícil permanecer no PT caso o Campo se mantenha no controle.
João Alfredo (CE) também sai
do partido, mas espera poder fazê-lo coletivamente. "As denúncias do uso de caixa dois e dos empréstimos de Marcos Valério são
apenas a gota d'água num processo de desgaste", diz ele. O deputado afirmou que sua preferência é
o PSOL, fundado por parlamentares expulsos do PT por se recusarem a seguir o voto do partido na
reforma da Previdência, em 2003.
O deputado Orlando Fantazzini
afirmou que uma vitória do Campo Majoritário significa a manutenção da mesma política e "impossibilita a permanência no partido". No entanto, disse acreditar
na vitória de um dos candidatos
de esquerda.
Fantazzini apóia Plínio de Arruda Sampaio, a exemplo de Maninha, que pretende deixar o partido no caso de vitória de Ricardo
Berzoini ou de Maria do Rosário.
Outro que não exclui a possibilidade de deixar o partido é Chico
Alencar, que também apóia Sampaio. "Pode, de fato, ser a nossa
última disputa no PT. Não excluo
a possibilidade de sair."
Ele diz que, se o domínio do
Campo continuar, "vai virar uma
sigla eleitoral, e não um partido
do movimento social". "A gente
está a fim de mudar o país. Partido é instrumento, é que nem enxada, se ela perde o fio e enferruja,
não serve mais para o arado."
Apoiador do candidato da Democracia Socialista Raul Pont,
Walter Pinheiro realiza, no dia 24,
uma consulta aos militantes da
tendência para decidir a permanência no partido.
Pinheiro reconhece que se, após
as eleições, não houver abertura
de processo democrático, o ambiente dificultará sua permanência no partido. "Se não sairmos
com nossas próprias pernas, acabaremos saindo com o pé dos outros no traseiro da gente", disse
Pinheiro, que afirma não ter
"muita esperança positiva" quanto ao resultado das eleições.
Se concretizada a saída dos cinco deputados, o PT perderia o seu
principal argumento para conseguir eleger o presidente da Câmara no caso de renúncia ou cassação de Severino Cavalcanti -o de
possuir a maior bancada. Tal posição seria ocupada pelo PMDB,
que ganharia um impulso adicional para a candidatura de Michel
Temer (SP), à qual são simpáticos
setores do PSDB e do PFL.
O PT, que elegeu 91 deputados
nas eleições de 2002, maior bancada da história do partido, perdeu durante a crise o deputado
André Costa (RJ), que saiu para se
filiar ao PDT.
Esperançosos
Outros deputados ouvidos pela
Folha não quiseram se manifestar
sobre a saída do partido, porque
dizem acreditar na vitória das esquerdas. "Vamos derrotar o
Campo Majoritário. Não há como
admitir a vitória deles. Seria o suicídio do bom senso, da responsabilidade e da ética", disse Paulo
Rubem (PE), para quem a chapa
comandada por Berzoini é "a chapa do continuísmo, da vergonha
que enlameou o PT".
Tarcísio Zimmerman (RS), que
integra a Democracia Socialista,
diz que a decisão sobre uma eventual saída do partido terá que ser
coletiva, mas que não "trabalha
com a idéia de sair do PT, e sim de
vencer as eleições". Para Ivan Valente (SP), esse não é o momento
de discutir a questão. Ele prefere
esperar os resultados e só depois
tomar uma decisão.
Teimosos
Outros deputados dizem que ficarão no PT de qualquer maneira,
mesmo que na prática isso represente tornar-se oposição dentro
do partido. "Não deixarei o PT.
Eles vão ter que me aturar. Vou
continuar fazendo a disputa dentro do partido, como fiz até hoje",
disse Dr. Rosinha (PR). Ele ponderou que não deveria ser o "bloco de esquerda" a deixar o partido: "Acho que deveriam deixar o
PT aqueles que o enlamearam, e
não nós, que sempre lutamos para que o partido tivesse coerência
e respeitasse a sua história".
João Grandão (MS) afirma que
a permanência no PT é necessária, pois "é nesse momento que o
partido mais precisa da gente".
"Estou mais petista do que nunca.
Se a palavra é reconstrução, eu farei parte dessa reconstrução."
Também declararam intenção
de ficar na legenda Gilmar Machado (MG), Iara Bernardi (SP) e
Antônio Carlos Biscaia (RJ).
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