São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ ELEIÇÕES NO PT

Êxodo seria suficiente para retirar da legenda o título de maior bancada da Câmara

Cinco deputados podem deixar PT depois de eleição

RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO

Pelo menos cinco deputados federais admitem que podem deixar o PT caso o Campo Majoritário, tendência que comanda o partido há dez anos, continue com a maioria no Diretório Nacional da legenda após as eleições de hoje. Um êxodo em tais proporções seria o suficiente para tirar da legenda a condição de maior bancada na Câmara. Dos 89 deputados atuais, ficaria com 84, dois a menos do que o PMDB tem atualmente.
A Folha ouviu 13 deputados do "bloco de esquerda" do partido. Quatro deles -Orlando Fantazzini (SP), Maninha (DF), Walter Pinheiro (BA) e Chico Alencar (RJ)- reconhecem que será difícil permanecer no PT caso o Campo se mantenha no controle.
João Alfredo (CE) também sai do partido, mas espera poder fazê-lo coletivamente. "As denúncias do uso de caixa dois e dos empréstimos de Marcos Valério são apenas a gota d'água num processo de desgaste", diz ele. O deputado afirmou que sua preferência é o PSOL, fundado por parlamentares expulsos do PT por se recusarem a seguir o voto do partido na reforma da Previdência, em 2003.
O deputado Orlando Fantazzini afirmou que uma vitória do Campo Majoritário significa a manutenção da mesma política e "impossibilita a permanência no partido". No entanto, disse acreditar na vitória de um dos candidatos de esquerda.
Fantazzini apóia Plínio de Arruda Sampaio, a exemplo de Maninha, que pretende deixar o partido no caso de vitória de Ricardo Berzoini ou de Maria do Rosário.
Outro que não exclui a possibilidade de deixar o partido é Chico Alencar, que também apóia Sampaio. "Pode, de fato, ser a nossa última disputa no PT. Não excluo a possibilidade de sair."
Ele diz que, se o domínio do Campo continuar, "vai virar uma sigla eleitoral, e não um partido do movimento social". "A gente está a fim de mudar o país. Partido é instrumento, é que nem enxada, se ela perde o fio e enferruja, não serve mais para o arado."
Apoiador do candidato da Democracia Socialista Raul Pont, Walter Pinheiro realiza, no dia 24, uma consulta aos militantes da tendência para decidir a permanência no partido.
Pinheiro reconhece que se, após as eleições, não houver abertura de processo democrático, o ambiente dificultará sua permanência no partido. "Se não sairmos com nossas próprias pernas, acabaremos saindo com o pé dos outros no traseiro da gente", disse Pinheiro, que afirma não ter "muita esperança positiva" quanto ao resultado das eleições.
Se concretizada a saída dos cinco deputados, o PT perderia o seu principal argumento para conseguir eleger o presidente da Câmara no caso de renúncia ou cassação de Severino Cavalcanti -o de possuir a maior bancada. Tal posição seria ocupada pelo PMDB, que ganharia um impulso adicional para a candidatura de Michel Temer (SP), à qual são simpáticos setores do PSDB e do PFL.
O PT, que elegeu 91 deputados nas eleições de 2002, maior bancada da história do partido, perdeu durante a crise o deputado André Costa (RJ), que saiu para se filiar ao PDT.

Esperançosos
Outros deputados ouvidos pela Folha não quiseram se manifestar sobre a saída do partido, porque dizem acreditar na vitória das esquerdas. "Vamos derrotar o Campo Majoritário. Não há como admitir a vitória deles. Seria o suicídio do bom senso, da responsabilidade e da ética", disse Paulo Rubem (PE), para quem a chapa comandada por Berzoini é "a chapa do continuísmo, da vergonha que enlameou o PT".
Tarcísio Zimmerman (RS), que integra a Democracia Socialista, diz que a decisão sobre uma eventual saída do partido terá que ser coletiva, mas que não "trabalha com a idéia de sair do PT, e sim de vencer as eleições". Para Ivan Valente (SP), esse não é o momento de discutir a questão. Ele prefere esperar os resultados e só depois tomar uma decisão.

Teimosos
Outros deputados dizem que ficarão no PT de qualquer maneira, mesmo que na prática isso represente tornar-se oposição dentro do partido. "Não deixarei o PT. Eles vão ter que me aturar. Vou continuar fazendo a disputa dentro do partido, como fiz até hoje", disse Dr. Rosinha (PR). Ele ponderou que não deveria ser o "bloco de esquerda" a deixar o partido: "Acho que deveriam deixar o PT aqueles que o enlamearam, e não nós, que sempre lutamos para que o partido tivesse coerência e respeitasse a sua história".
João Grandão (MS) afirma que a permanência no PT é necessária, pois "é nesse momento que o partido mais precisa da gente". "Estou mais petista do que nunca. Se a palavra é reconstrução, eu farei parte dessa reconstrução."
Também declararam intenção de ficar na legenda Gilmar Machado (MG), Iara Bernardi (SP) e Antônio Carlos Biscaia (RJ).


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