São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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Ex-presidente de TJ confirma ligação de Maluf

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente do Tribunal de Justiça de SP José Alberto Weiss de Andrade, que advogou por dez dias para Vivaldo Alves (Birigüi, citado como doleiro de Paulo Maluf), afirmou ontem que foi procurado pelo ex-prefeito. "Ele me telefonou. Perguntou se eu sabia quem estava falando. Fiquei realmente surpreso. Estava em meu escritório, em Três Corações [MG]. Ele me perguntou se eu poderia atender seus advogados. Eu disse educadamente que sim. Depois, ele nunca mais me ligou nem ninguém me procurou", disse Weiss de Andrade.
A declaração é importante porque coincide com o teor das conversas telefônicas mantidas pelo ex-prefeito e pelo filho Flávio, gravadas pela Polícia Federal. Datam da mesma época dois diálogos entre Maluf e o filho sobre um "o velhinho de Minas", que foi "presidente do tribunal".
Supostamente preocupados com as declarações de Birigüi à Polícia Federal, pai e filho cogitam acionar o ex-desembargador para ajudá-los a impedir o depoimento do então cliente. As conversas foram registradas na noite de 21 de julho. A proposta de falar com Weiss de Andrade parte de Flávio, ao que o pai diz: "O velhinho é meu amigo, mas não posso ser eu [a falar com ele], porque meu nome não pode aparecer".
Weiss de Andrade e Maluf se conheceram quando o primeiro era o presidente do TJ paulista (1994-1996), e o segundo prefeito de São Paulo (1993-1996). Nos diálogos, Flávio diz que a estratégia poderia ser "arriscada". "Não sei como chegar no velhinho para dizer: "Olha, fala para o seu cliente que é assim... E confia"." "Vou ligar já...", responde Maluf.
Uma hora e meia depois, no mesmo dia, Maluf telefonou ao filho para dizer que um advogado o desaconselhou a procurar o ex-desembargador. Dias depois, Birigüi depôs na PF e afirmou ter movimentado US$ 161 milhões dos Maluf no Safra National Bank de Nova York, movimentação confirmada por documento.
Para o Ministério Público, as contas no exterior foram abastecidas com dinheiro desviado de obras públicas durante a gestão de Maluf na Prefeitura de São Paulo, entre 1993 e 1996.
Weiss de Andrade afirmou não entender o motivo pelo qual Maluf e Flávio teriam pensado em procurá-lo. Disse que eles não se falavam há anos. "Nós tivemos uma relação institucional no período em que fui presidente do TJ", disse Weiss de Andrade.
O filho do ex-desembargador, o procurador Alberto de Oliveira Andrade Neto, ganhou recentemente uma ação por danos morais contra Maluf. Ele conduziu investigações contra Maluf e foi acusado pelo ex-prefeito de ser "membro do PT de carteirinha" -é proibida a filiação partidária a agentes do Ministério Publico.
No dia 6, o TJ de São Paulo confirmou decisão de primeira instância e condenou Maluf a pagar R$ 60 mil por danos morais. Cabe recurso para o ex-prefeito.
Maluf e Flávio estão presos desde o dia 10, réus em processo por formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. A soma das penas mínimas desses crimes é de oito anos de prisão.


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