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Governo da Itália não intercede em favor de ex-banqueiro preso
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo da Itália lavou as
mãos em relação à extradição
de Salvatore Cacciola, que é italiano naturalizado brasileiro e
está foragido do Brasil. Se depender de Roma, ele será devolvido para cumprir pena.
Conforme o embaixador do
Brasil em Roma, Adhemar Bahadian, até ontem às 22h locais
(17h de Brasília), o governo italiano não havia feito nenhum
contato nem qualquer pedido
em favor de Cacciola.
A questão, segundo ele, é entre o Brasil e o Principado de
Mônaco, onde Cacciola foi localizado e preso pela Interpol.
Os dois países não têm acordo
de reciprocidade para os casos
de extradição, o que significa
que qualquer desfecho envolverá intensas negociações.
O Itamaraty escalou a ministra-conselheira da Embaixada
de Paris, Maria Laura da Rocha,
para acompanhar in loco o problema. Sem representação brasileira, Mônaco fica sob jurisdição da Embaixada na França.
Conforme a Folha apurou, a
posição da Itália no caso é clara: não extraditar Cacciola enquanto ele estivesse em solo
italiano, já que ele nasceu no
país e tem cidadania italiana e
nenhuma lei prevê a extradição
em casos assim. Mas, já que ele
atravessou a fronteira para
Mônaco, o governo não intercederá de nenhuma forma para
tentar evitar que seja devolvido
ao Brasil para cumprir pena.
Ou seja: formalmente, a Itália não poderia extraditar o ex-banqueiro, mas nos bastidores
considera que ele é culpado,
tem contas a pagar no Brasil e
agora está entregue à própria
sorte. Tanto que a embaixada
do país em Brasília não quis dar
declarações sobre a questão.
Uma negociação casada entre os casos Cacciola e Cesare
Battisti foi descartada: "É uma
questão jurídica, constitucional, não há nada a ser negociado. A lei brasileira é clara quando diz que o cidadão só pode
ser extraditado depois de cumprir a pena dentro do país", disse o embaixador Bahadian.
Battisti militava no PAC
(Proletários Armados pelo Comunismo) na década de 1970 e
foi condenado a prisão perpétua na Itália em 1993, pela morte de quatro pessoas. Mas ele
fugiu e estava foragido no Brasil, até ser preso em março.
O governo da Itália pressiona
por sua extradição, sob alegação de que ele é criminoso comum, mas parte do governo e
dos meios políticos e jurídicos
do Brasil considera que ele é
um condenado político que era
muito jovem quando praticou
seus crimes e deve ser acolhido
no país. O caso está no Supremo Tribunal Federal.
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