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Brasil, Índia e África do Sul assinam acordo nuclear
Presidente Lula diz que "países responsáveis" podem fazer tratado sem causar pânico
Apesar da presença da Índia, que possui bomba atômica, líderes prometem trabalhar pelo desarmamento e usar a tecnologia só para fins civis
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A PRETÓRIA (ÁFRICA DO SUL)
Brasil, África do Sul e Índia
anunciaram ontem um acordo
de cooperação nuclear com fins
pacíficos e sob o monitoramento da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). A
Índia é uma das mais novas potências nucleares, tendo explodido sua primeira bomba em
1998.
O país asiático tem uma disputa territorial pela região da
Caxemira com o vizinho Paquistão, que também tem sua
própria bomba. Brasil e África
do Sul abdicaram de seus programas nucleares para fins militares nos anos 90.
O anúncio do acordo, sem
dar detalhes do que significará
na prática, foi feito ontem na
segunda reunião de cúpula do
fórum Ibsa, em Pretória, capital administrativa sul-africana.
Participaram do fórum, cuja
sigla vem das iniciais de Índia,
Brasil e África do Sul, os três líderes dos países: Luiz Inácio
Lula da Silva (Brasil), Thabo
Mbeki (África do Sul) e Manmohan Singh (Índia).
"Os líderes concordaram em
explorar abordagens de cooperação no uso pacífico de energia
nuclear sob as salvaguardas
apropriadas da AIEA", disse o
comunicado conjunto.
No que pode ser interpretado
como uma defesa do programa
nuclear do Irã, o texto continua: "Os líderes também reiteraram que quaisquer decisões
multilaterais relacionadas ao
ciclo nuclear não devem retirar
o direito inalienável de Estados
perseguirem energia nuclear
para propósitos pacíficos". O
Irã diz que busca energia nuclear para fins pacíficos, mas há
a suspeita de que esteja desenvolvendo uma bomba.
Apesar da presença da Índia,
os três líderes prometem trabalhar pelo desarmamento nuclear e pelo uso da tecnologia
apenas para fins civis. "Os líderes enfatizaram o comprometimento com o objetivo da completa eliminação das armas nucleares e expressaram preocupação com a falta de progresso
na realização desta meta."
O presidente Lula, questionado posteriormente sobre a
aparente contradição, defendeu o uso nuclear exclusivamente para fins pacíficos.
"Trabalhamos a questão nuclear com interesse de cumprir
todos os protocolos que existem no Conselho de Segurança
das Nações Unidas, com um
forte apelo para utilização com
finalidade científica. Ao mesmo
tempo, vamos mostrar ao mundo que países responsáveis, sérios, podem fazer acordos nucleares sem causar pânico a
quem quer que seja", afirmou o
presidente brasileiro.
A seu lado estava Mbeki e, ao
lado dele, o primeiro-ministro
da Índia -que apenas disse que
não há condições para eliminar
suas ogivas hoje.
O chanceler brasileiro, Celso
Amorim, não disse quando o
acordo entrará em prática, nem
como isso ocorrerá. Ele afirmou que já há acordos semelhantes com outras potências
nucleares, como a França.
O ministro disse que a Índia
está disposta a se desarmar
dentro de um contexto de desarmamento global. "Outros
países explodiram mais bombas há mais tempo e têm um arsenal tremendo. Eu não vou
justificar a política da Índia,
mas o melhor remédio é o desarmamento. E tem que começar pelos mais armados."
Por falta de opções de vôos comerciais entre o
Congo e a África do Sul, os jornalistas Fábio Zanini e Eduardo Knapp viajaram em avião da Força
Aérea Brasileira.
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