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Miséria persiste apesar do Bolsa Família
Beneficiários do programa federal não saem da linha da extrema pobreza mesmo depois de receberem até R$ 112 mensais
No Nordeste, renda familiar média após o pagamento do benefício não alcança R$ 60 por pessoa; valor fica em apenas R$ 59,11 mensais
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Moradora de uma invasão
distante menos de 50 quilômetros da Praça dos Três Poderes
e desempregada há dois anos,
Marlucia Alves Farias, 27, recebe o valor máximo pago pelo
Bolsa Família: R$ 112 mensais.
Apesar do benefício, Marlucia e os cinco filhos estão entre
os 12,6 milhões de brasileiros
considerados miseráveis, de
acordo com a faixa de renda per
capita considerada pelo próprio programa para definir a
pobreza extrema.
Estudo feito pelo Ministério
do Desenvolvimento Social a
pedido da Folha mostra que
esse não é um caso isolado entre os beneficiários do Bolsa
Família. No Nordeste, região
que concentra a metade das famílias atendidas pelo principal
programa social do governo
Lula, a renda familiar média
após o pagamento do benefício
não alcança R$ 60 por pessoa.
Está em R$ 59,11 mensais.
Na região Norte, a média fica
apenas R$ 0,47 acima da linha
da extrema pobreza. No país,
essa média é de R$ 64,55, bastante distante da renda com
que uma família superaria a
condição de pobreza, pelos critérios do programa.
"O problema é que há famílias muito pobres mesmo", observa Rosani Cunha, secretária
do Desenvolvimento Social
responsável pelo Bolsa Família. Ela avalia que o valor pago
pelo governo federal -entre
R$ 18 e R$ 112 mensais, dependendo do grau de pobreza e do
número de filhos em idade escolar- não é suficiente para tirar muitas das famílias da situação de extrema pobreza.
No Maranhão, Estado com o
menor índice de desenvolvimento humano no país, as famílias do programa registram
renda média de R$ 55,58 por
pessoa da família após o pagamento do benefício.
A 272 quilômetros da capital,
na cidade de Belágua, os miseráveis do Bolsa Família são
maioria. "Aqui, só quem é funcionário público tem renda fixa, o restante são trabalhadores rurais que plantam para sobreviver, com famílias numerosas, de 9, 11, 12 filhos", conta
a assistente social Daniela
Araújo Vieira, responsável pelo
programa no município.
O estudo do Desenvolvimento Social mostra que a renda
média dos beneficiários do Bolsa Família é inversamente proporcional ao ganho percentual
de renda com o programa. No
Maranhão, por exemplo, onde
a média é mais baixa, o ganho
medido foi de 66,2%. Em
Goiás, Santa Catarina e no Rio
Grande do Sul, os ganhos de
renda com o programa foram,
em média, de até 30%.
O ministério não calculou o
número total de famílias com
renda inferior a R$ 60 após o
pagamento do benefício. Mas
informa que parte dos 11 milhões de famílias beneficiadas
entrou no programa com renda
média inferior a R$ 6 por mês
por pessoa. A renda máxima
que permite acesso ao programa é de R$ 120 mensais.
Segundo Rosani Cunha, o governo não cogita aumentar o
valor do benefício depois do
reajuste de 18,25% concedido
há apenas três meses. Mas espera votos no Congresso em
projeto de lei para pagar até R$
60 extras a famílias que tenham jovens entre 15 e 17 anos
matriculados em escolas. A
proposta eleva o benefício máximo do Bolsa Família para R$
172, a partir de 2008. "Isso teria impacto nas famílias mais
pobres", sustenta. Neste ano, o
programa custará R$ 8,7 bilhões aos cofres públicos.
A saída para os que permanecem miseráveis após o pagamento do Bolsa Família, na
avaliação do ministério, seria
garantir o acesso dessas famílias a outras políticas públicas
destinadas a enfrentar as demais dimensões da pobreza,
além da renda.
Pesquisa recente do ministério mostrou que mais da metade (56,2%) dos titulares do programa tem baixa escolaridade e
não passou da quarta série do
ensino fundamental; 1,8 milhão dos titulares seriam analfabetos. Cerca de 20% lançam
esgoto em valas ou a céu aberto
e moram em casas de taipa ou
madeira. Só 36,4% das famílias
beneficiadas têm acesso a sistema de esgoto sanitário.
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