São Paulo, quinta, 18 de dezembro de 1997.




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ADMINISTRAÇÃO
Dos R$ 13,18 bi arrecadados em 14 leilões estaduais em 97, R$ 3,11 bi foram financiados pelo banco
BNDES financia 23,6% das privatizações

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), 100% estatal, vem sendo o principal agente financiador individual das privatizações de empresas estaduais brasileiras. Este ano, o banco aplicou R$ 3,11 bilhões para financiar 23,6% dos R$ 13,18 bilhões apurados em 14 leilões.
Se forem computadas apenas as privatizações estaduais realizadas após a crise das Bolsas de Valores de outubro, o BNDES financiou 36,15%. Ele aplicou R$ 1,93 bilhão, enquanto as privatizações estaduais no período renderam R$ 5,34 bilhões.
Foram vendidas após a crise as empresas CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), Enersul (MS), Cemat (MT), Energipe (SE), Cosern (RN) e Companhia União de Seguros Gerais (RS).
O BNDES é o gestor das privatizações federais e assessor das privatizações estaduais brasileiras.
Seus financiamentos aos compradores das empresas estaduais foram feitos por meio de empréstimos diretos, no total de R$ 1,74 bilhão, ou por meio de compra de debêntures (títulos de crédito) conversíveis em ações das operadoras das empresas privatizadas, no valor de R$ 1,37 bilhão.
Para o economista Lauro Vieira de Faria, editor da revista "Conjuntura Econômica", da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a participação do BNDES nos financiamentos pode ser considerada uma substituição do uso das chamadas "moedas podres".
O nome "moedas podres" foi dado pelo mercado aos títulos de dívidas públicas que foram usados para pagar grande parte das privatizações federais. Eles ganharam esse nome por valerem no mercado menos que o valor real impresso no papel.
Com os papéis valendo menos que o real, na prática os compradores pagam menos pelas empresas que o valor de leilão.
Como nas privatizações estaduais a prática geral tem sido o uso de moeda corrente, o financiamento do BNDES estaria permitindo aos compradores das ex-estatais desembolsar menos recursos próprios nessas compras, podendo contar com um financiamento de até dez anos de prazo.
Faria questiona também os elevados ágios sobre os preços mínimos obtidos nas privatizações estaduais.
"Se é o financiamento do governo que está puxando o preço para cima, que ágio é esse?", questiona.
Para o economista da FGV, o que está por trás do esforço do BNDES em financiar as privatizações estaduais é a necessidade que o Brasil tem de manter as privatizações em andamento como forma de dar sustentação ao Plano Real.
O economista José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central, vê a presença do BNDES nos financiamentos como algo "esquisito', mas necessário. Segundo ele, o problema decorre da inexistência de outra fonte de financiamento de longo prazo no Brasil.
Para Senna, o ideal seria que os recursos saíssem do mercado de capitais ou de financiadores privados. Isso, na sua opinião, não acontece porque a cultura brasileira ainda é de empresas de capital fechado e porque os bancos privados não têm recursos de longo prazo para emprestar.

Estrangeiros
Os financiamentos do BNDES e a compra de debêntures por sua subsidiária BNDESPar (BNDES Participações) beneficiaram consórcios integrados tanto por empresas nacionais como por estrangeiras.
Na privatização da baiana Coelba, o consórcio liderado pela espanhola Iberdrola recebeu financiamento de R$ 487 milhões, para um preço total de R$ 1,73 bilhão.



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