São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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GOVERNO
Depois de ter sigilos quebrados, braço direito de ministro sai e afirma que vai se defender na Justiça
Assessora de Alvares pede demissão

da Sucursal de Brasília


A assessora especial do ministro Elcio Alvares (Defesa), Solange Rezende Antunes, entregou ontem, no início da noite, seu pedido de demissão. Ela disse à Folha que vai permanecer em Brasília para se defender, na Justiça.
O ministro da Defesa considerou uma "arbitrariedade" a decisão da CPI do Narcotráfico de quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Solange. Alvares disse à Folha que vai readmiti-la caso seja provada sua inocência.
"Tenho muita estima por ela, me ajudou muito na vida, mas o homem público tem de tomar certas posições. Quando a gente está do lado da verdade, tudo acaba bem", disse Alvares.
A CPI quebrou os sigilos da assessora para investigar a suspeita de que ela teria defendido pessoas ligadas ao crime organizado no Espírito Santo.
Solange disse que vai entrar com mandado de segurança no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão da CPI, mas pretende pedir ao Judiciário que quebre os seus sigilos -foro adequado, na sua opinião.
"Eu sou pobre, humilde e mulher, que nem sempre é aceita por determinados setores. Mas sou uma guerreira em prol da minha dignidade", afirmou Solange.
"Quero que a investigação da Justiça seja rápida e urgente. É minha honra que está em jogo e não posso esperar que a CPI retorne do recesso. Para resgatar minha credibilidade e limpar essa lama que espalharam, quero que a Justiça abra o sigilo da minha vida."
A assessora disse que tem a consciência "absolutamente tranquila" e que quer provar na Justiça que não tem nenhum envolvimento com o crime organizado. Ela chegou ontem à tarde de viagem a Vitória, onde foi buscar documentos para sua defesa.
"Não ter culpa é a melhor arma para enfrentar essa situação. Estamos sendo vilipendiados."
O irmão de Solange, o advogado Dório Antunes, também envolvido nas denúncias da CPI, entrou ontem com mandado de segurança no STF contra a quebra do seu sigilo pela CPI.
Amigos de Elcio Alvares estão certos de que é ele -e não Solange- o alvo dos ataques. "Se for eu o alvo, estão perdendo o tempo. Meu objetivo é trabalhar em favor do país", afirmou à Folha.
Elcio e Solange trabalham juntos e são amigos há mais de 20 anos. No Espírito Santo, foram sócios de um escritório de advocacia. No Senado, quando Elcio era líder do governo, ela era seu braço direito, além de ajudá-lo também a resolver problemas pessoais e familiares.
Para os aliados de Elcio, seus adversários políticos do Estado estão por trás dessas denúncias. Mas há, entre as próprias Forças Armadas, um foco de resistência a ele, encabeçado pelo ex-comandante da Aeronáutica, Walter Bräuer, que sempre teve atitudes de enfrentamento ao ministro.
Um dos atos que mais irritaram Alvares envolveu um contrato assinado por Bräuer em 1º de novembro com a empresa Mitri, por intermédio da ONU (Organização das Nações Unidas), para elaboração de um estudo de nova regulamentação do espaço aéreo brasileiro.
Bräuer foi a Washington e Nova York assinar o contrato, no valor de US$ 3,5 milhões, sem dar conhecimento ao ministro, que ficou sabendo pela imprensa.
A Aeronáutica resiste à criação de uma agência para cuidar da aviação civil, cujo controle, por enquanto, está sob sua responsabilidade. A intenção do Planalto é nomear um civil ou um militar reformado para comandar a agência. A Aeronáutica quer um militar da ativa. (RAQUEL ULHÔA)

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