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Arruda "loteou" contratos, revelam e-mails
Governador "dividiu" contratos entre empresas de informática em troca de doações "informais" na campanha de 2006
E-mails integram processo de briga entre casal que se separou em 2007; mulher é dona de uma das empresas citadas no mensalão do DEM
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O executivo Antônio Bruno
Di Giovanni Basso afirmou, em
e-mails enviados a interlocutores em janeiro passado, que
empresários do setor de informática do Distrito Federal, o
governador José Roberto Arruda (sem partido) e seu vice,
Paulo Octávio (DEM), combinaram, durante a campanha
eleitoral de 2006, uma "divisão" dos contratos públicos, caso Arruda vencesse a disputa.
Segundo os e-mails, em retribuição os empresários deveriam prestar apoio financeiro
"informal" à campanha de Arruda. As reuniões, segundo os
e-mails, teriam ocorrido no hotel Blue Tree e na empresa de
informática TBA, em Brasília.
As mensagens eletrônicas foram transcritas pela empresária Maria Cristina Boner Léo,
dona do Grupo TBA, numa
ação judicial de cobrança ajuizada na 5ª Vara Cível de Barueri (Grande SP). Ela quer indenização de R$ 42 milhões de seu
ex-marido, Basso, que, por sua
vez, lhe cobra pagamentos de
R$ 32 milhões.
O casal rompeu em 2007.
Desde então, trava uma intensa
batalha judicial em torno da
partilha de bens e direitos que
resultou, em janeiro, na detenção de Basso pela Polícia Civil
do DF sob a alegação de que ele
ameaçou e tentou "extorquir"
dinheiro da empresária -a
Justiça liberou-o horas depois.
Maria Cristina descreveu os
e-mails no processo com o intuito de demonstrar que Basso
teria descumprido um acordo
de confidencialidade, assinado
em 2008, pelo qual deveria se
abster de fazer comentários sobre sua passagem pela TBA, onde trabalhou, como alto executivo e braço direito de Maria
Cristina, desde a década de 90.
Desde janeiro, Basso, em e-mails também apresentados
por Maria Cristina à Justiça,
tem ameaçado revelar à imprensa e à Receita Federal informações comprometedoras
sobre atividades da TBA e seu
relacionamento com políticos.
No final do ano passado, ele teria chamado um auditor da Receita Federal para denunciar
fraudes com notas fiscais.
No dia 10, Basso protocolou
na Câmara Distrital do DF um
pedido de impeachment de Arruda e Octávio. Ao final do pedido, escreveu, à mão: "Encontro-me à disposição dos órgãos
internos da CLDF que irão proceder eventuais investigações,
diligências, para depor com as
eventuais informações que
possa ter e que sejam de valia
para o presente processo".
No e-mail que ele enviou no
final de janeiro a Maria Cristina, a quatro executivos do Grupo TBA e ao jornalista Claudio
Humberto, Basso escreveu que
o acordo supostamente firmado em 2006 envolvia, além de
sua ex-mulher, executivos das
empresas Poliedro, Politec e
CTIS -as três já foram citadas
no mensalão do DEM, escândalo que estourou depois que surgiram vídeos em que Arruda e
aliados manipulam dinheiro.
Basso escreveu que a divisão
deu resultado pelo menos no
caso da TBA -sobre as outras
empresas, disse não saber.
"A fatia que sempre coube à
TBA no ajuste que foi feito nas
reuniões com os então candidatos foi o serviço hoje chamado "Na Hora", dada a experiência da empresa como concessionária do PoupaTempo paulista", escreveu Basso, referindo-se a um programa de atendimento on-line aos cidadãos,
contrato obtido pelo Grupo
TBA em 2008.
Levantamento feito pela liderança do PT na Câmara Distrital no sistema oficial de
acompanhamento de gastos
demonstra que, desde a posse
de Arruda, os contratos da TBA
atingiram R$ 35 milhões.
Basso descreve uma "operação", discutida no Blue Tree de
Brasília, que "buscava "dividir"
o mercado de TI do GDF entre
as cinco grandes empresas, obviamente em troca de apoio financeiro para a campanha. Informal, por óbvio".
"Os empresários custaram a
entender a proposta do governo para a área de TI [tecnologia
de informação] em Brasília e fazer parte do grupo de apoio",
acrescentou Basso.
Barbosa
A TBA aparece relacionada a
um ponto importante da Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal -o
momento em que Arruda apanha um pacote de R$ 50 mil, o
que foi filmado pelo ex-secretário de Relações Institucionais
do DF, Durval Barbosa.
Em depoimento prestado ao
Ministério Público, em setembro, Barbosa disse que o dinheiro veio de Maria Cristina.
Na mesma linha dos e-mails
de Basso (que foram enviados
muitos meses antes da eclosão
do escândalo no governo do
DF), Barbosa disse que Arruda
e Maria Cristina haviam feito
um acordo em 2006. Ela teria
feito uma doação de R$ 1 milhão. Para "justificar contabilmente a saída deste dinheiro de
sua conta", segundo Barbosa,
Maria Cristina fez a doação "via
Grupo Comunidade de Comunicação ("Jornal da Comunidade" e "O Coletivo')". Em 2006, a
TBA registrou na Justiça Eleitoral doação de R$ 200 mil ao
diretório nacional do DEM.
Em outro vídeo, Maria Cristina aparece cumprimentando
Barbosa. Segundo o depoimento dele ao Ministério Público,
nas imagens ele "aparece informando Cristina sobre a assinatura de um contrato emergencial [da TBA] com a Codeplan
[órgão do governo] a pedido de
Arruda", que seria uma contrapartida do governador aos empresários do ramo em troca do
apoio na campanha.
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