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NO PLANALTO
Livro de Tarso Genro explicita o drama do PT no governo
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Roberto Campos disse-me certa vez que teria
gosto de ver a esquerda no Planalto. "Parece que teremos de
provar do veneno para chegar
ao antídoto." Achava que o Brasil não tinha democracia. Tinha
uma "surubocracia anarco-sindicalista".
Guru da direita, Campos saboreou o ocaso do socialismo
real. Desceu à cova com um halo
de profeta sobre a calva. Foi-se,
porém, antes da consagração
petista.
Vivo, talvez festejasse a constatação de que, sob o ex-sindicalista Lula, o Brasil da mudança
continua no cercadinho do mercado. O país ainda não tem democracia. Tem agora uma "surubocracia anarco-financista".
Elegem-se representantes para
que finjam governar. Na verdade, sancionam o modelo consentido pelo capital. Um drama
da pós-modernidade bem retratado em livro de título sugestivo:
"Crise da Democracia" (Editora
Vozes, 2002). Escreveu-o Tarso
Genro.
Em países "semiperiféricos"
como Brasil e Argentina, anotou Genro, "todo o proveito da
democracia foi apropriado por
pequenos segmentos das elites
locais". O autor não renega a
democracia, "forma mais adequada para viabilizar as relações contratuais de natureza
política". Mas advoga uma
"modernização" institucional.
Prega a "combinação da representação com a democracia
direta". Um modo de promover
a "legitimação permanente dos
conflitos", obtendo "consensos
provisórios". Menciona plebiscitos, referendos e consultas. Fala
em conselhos e comissões de
controle.
A incapacidade regulatória
do Estado seria compensada pela radicalização do que Genro
chama de "cidadania ativa".
Não por acaso, Lula confiou-lhe
a coordenação do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e
Social.
Pragmático, Genro monta um
conselho que, embora diverso,
terá representação empresarial
vitaminada. As chamadas "reformas" chegarão ao Congresso
com o selo desse microcosmo da
sociedade.
O Brasil experimenta, nas palavras de Genro, um "novo colonialismo". A alta finança, com
"seu imenso poder tutelar", legisla "de fora", exigindo do Estado "o ajustamento do direito
interno às necessidades do capital financeiro transnacional".
Governos que ousam opor resistência são "asfixiados".
A base da nova ordem é, para
Genro, "a submissão" ao modelo que tem como "Estado-nação-gestor os EUA". A "ditadura da economia" promove a
"despolitização e espetacularização da política".
Há um "clamor pela flexibilização de direitos". "Os excluídos
deixam de contar como cidadãos. Passam a ser alvos de políticas de compensação."
Advogado, Genro enxerga
uma crescente privatização do
direito do trabalho. "A extinção
de direitos passa a ser uma simples adaptação das relações de
trabalho à acumulação predatória do capital volátil." "Do
destino que daremos a este impasse muito dependerá a capacidade de resistência à barbárie", uma "acumulação sem trabalho".
O PT tem a chance de provar
que é o antídoto, não o veneno.
Por ora, o novo governo apenas
se submete à "barbárie", num
suposto processo de transição
para o Brasil utópico do humanismo redivivo.
O barulho que se ouve ao fundo não é o ruído de Roberto
Campos revirando no túmulo. É
o som dos aplausos do capital à
movimentação estudada e cuidadosa de Antonio Palocci Filho.
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