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SOMBRA NO PLANALTO
Planalto nega a saída do ministro, que ontem despachou a sós com o presidente
Dirceu deixa o governo Lula apenas em situação extrema
KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de o Palácio do Planalto
ter negado oficialmente ontem
que o ministro José Dirceu (Casa
Civil) possa se afastar do cargo,
essa possibilidade existe como
medida extrema para minimizar
o desgaste do governo no episódio Waldomiro Diniz. Por ora, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a decisão de que Dirceu fica onde está. Os dois despacharam a sós ontem de manhã.
Lula pediu que o porta-voz André Singer negasse que Dirceu tenha colocado o cargo à disposição
ou cogitado se afastar do posto, a
fim de se defender, na hipótese de
abertura de CPI. Waldomiro era
há anos homem da confiança de
Dirceu e chegou a dividir apartamento com ele em Brasília.
Até agora, Lula não se pronunciou publicamente sobre o caso.
Ontem, durante uma solenidade
no Palácio do Planalto, apesar de
previsto, Lula deixou de lado o
discurso que faria.
Ontem, a Folha revelou que, em
reunião na segunda-feira com Lula e ministros, José Dirceu disse
estar "disponível". Lula nem respondeu, sinalizando que descartava a possibilidade.
O cenário "extremo", aventado
no governo, seria resultado de
dois fatores: 1) a criação de uma
CPI, possibilidade que arrefeceu
bastante ontem, com ações eficientes do governo junto ao PSDB
e ao PFL, partidos oposicionistas;
2) a revelação de um "fato novo"
que ponha mais lenha na fogueira
do caso Waldomiro. O governo
tomou conhecimento de rumores
de que a revista "Época" trará
uma segunda parte da entrevista
que fez com o ex-assessor de Dirceu, na semana passada.
Como disse ontem o líder do
governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o governo acha
"provável" que Waldomiro Diniz
tenha tentado fazer tráfico de influência já na Casa Civil.
Há rumores ainda de que Waldomiro teria tido encontro com o
empresário do bingo Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, já no seu cargo
no governo federal e que a mídia
traria envolvimento dele com o
lobby do bingo. O governo foi informado da possibilidade de Waldomiro, na entrevista à revista
"Época", ter confirmado que recebeu lobistas da empresa de informática GTech.
O caso Waldomiro veio à tona
com a revelação de gravação de
2002 na qual ele pede propina e
contribuição de campanha a Cachoeira. À época, Waldomiro pertencia ao governo Benedita da Silva (PT-RJ), presidindo a Loterj
(Loteria do Estado do Rio de Janeiro). Com a posse de Lula, virou
subchefe de Assuntos Parlamentares, cargo que, em janeiro, foi
transferido da Casa Civil para a
Secretaria da Coordenação Política e Assuntos Institucionais.
Contrariado
Interlocutores do ministro da
Casa Civil disseram à Folha que
ele ficou muito contrariado com
Márcio Thomaz Bastos (Justiça),
ao ler ontem nos jornais que a Polícia Federal investigaria a passagem de Waldomiro pelo governo
Lula. Para Dirceu, Thomaz Bastos
não deveria permitir que a PF entrasse nessa investigação, já que o
governo anunciou que fará sindicância interna para averiguar os
atos do então assessor.
A atuação de Thomaz Bastos no
caso vem sendo classificada de
"ineficaz" e "ingênua" por governistas. Citam, como exemplo, os
mandados judiciais de busca e
apreensão que a PF recebeu no sábado passado, por volta das 16h.
O ministro não foi avisado pela
PF, que é de sua jurisdição -só
soube na segunda-feira, quando
as buscas estavam em curso, inclusive na casa de Waldomiro.
A assessoria do ministro disse à
Folha que ele não considera ter
havido nada fora da normalidade
na atuação da PF.
Colaborou GABRIELA ATHIAS, da Sucursal de Brasília
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