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Saga de piauiense reflete problema vivido em fazendas
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não tenho mais nada, além
desses braços para trabalhar",
disse o piauiense Trajano Leal
Alves, 44, à repórter Elvira Lobato. "Tatu", como é conhecido, foi resgatado três vezes pelo
Ministério do Trabalho, nos últimos 20 anos, vítima de exploração de mão-de-obra escrava
no meio rural. Ele foi localizado
em Redenção, no sul do Pará, e
narrou sua saga de nômade à
procura de emprego.
"Sua história é uma versão
ampliada dos problemas vividos por migrantes analfabetos
que, como ele, saem do Maranhão e do Piauí (principais fornecedores da mão-de-obra
análoga à escrava) em busca de
ocupação em outros Estados e
acabam caindo num círculo vicioso do qual não conseguem
se libertar", relata a repórter,
no trabalho premiado.
"Tatu" tem seis filhos, que vivem espalhados por Tocantins
e Maranhão. Deixou sua terra
natal, Uruçui, ainda criança.
Começou a trabalhar na lavoura aos 11 anos, em Goiás, na
companhia do pai. Aos 18 anos,
virou "peão-de-trecho", trabalhador nômade que faz serviços temporários em fazendas,
sem carteira assinada nem endereço fixo.
Edmilson Dantas de Santana,
45, citado pelo Ministério do
Trabalho como maior "gato"
(empreiteiro de mão-de-obra
rural) do sul do Pará, é outro
personagem da reportagem
vencedora do Grande Prêmio
Folha de Jornalismo de 2004.
Apanhado pela fiscalização
duas vezes, em 2003, por manter trabalhadores em situação
análoga à de escravos, Dantas
disse à repórter que seu tempo
de agenciador está acabando.
"Ficou muito arriscoso", afirmou, referindo-se ao aumento
da fiscalização.
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