São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2005

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Saga de piauiense reflete problema vivido em fazendas

DA REPORTAGEM LOCAL

"Não tenho mais nada, além desses braços para trabalhar", disse o piauiense Trajano Leal Alves, 44, à repórter Elvira Lobato. "Tatu", como é conhecido, foi resgatado três vezes pelo Ministério do Trabalho, nos últimos 20 anos, vítima de exploração de mão-de-obra escrava no meio rural. Ele foi localizado em Redenção, no sul do Pará, e narrou sua saga de nômade à procura de emprego.
"Sua história é uma versão ampliada dos problemas vividos por migrantes analfabetos que, como ele, saem do Maranhão e do Piauí (principais fornecedores da mão-de-obra análoga à escrava) em busca de ocupação em outros Estados e acabam caindo num círculo vicioso do qual não conseguem se libertar", relata a repórter, no trabalho premiado.
"Tatu" tem seis filhos, que vivem espalhados por Tocantins e Maranhão. Deixou sua terra natal, Uruçui, ainda criança. Começou a trabalhar na lavoura aos 11 anos, em Goiás, na companhia do pai. Aos 18 anos, virou "peão-de-trecho", trabalhador nômade que faz serviços temporários em fazendas, sem carteira assinada nem endereço fixo.
Edmilson Dantas de Santana, 45, citado pelo Ministério do Trabalho como maior "gato" (empreiteiro de mão-de-obra rural) do sul do Pará, é outro personagem da reportagem vencedora do Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2004.
Apanhado pela fiscalização duas vezes, em 2003, por manter trabalhadores em situação análoga à de escravos, Dantas disse à repórter que seu tempo de agenciador está acabando. "Ficou muito arriscoso", afirmou, referindo-se ao aumento da fiscalização.


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