São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juizado especial não pode servir como sistema de coerção, afirma advogado

DA SUCURSAL DO RIO

Autor do projeto de lei que deu origem aos Juizados de Pequenas Causas, embrião dos Juizados Especiais atuais, o advogado João Geraldo Piquet Carneiro afirmou que as 56 ações de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra a Folha configuram "uma típica situação de uso abusivo dos recursos do Judiciário". Ele foi presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República de 1999 a 2004 e hoje é presidente do Instituto Hélio Beltrão e sócio do escritório de advocacia Veirano & Piquet Carneiro.  

FOLHA - Qual a sua opinião a respeito das 56 ações de fiéis da Igreja Universal contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato?
JOÃO GERALDO PIQUET CARNEIRO
- A situação é típica do uso abusivo de recursos judiciais. Nunca tinha visto o uso do Juizado Especial para uma finalidade obviamente estranha a ele. É para matérias cíveis de pequena monta, mas não para se tornar sistema de coerção sobre a imprensa, numa ação obviamente articulada. Ninguém propõe 56 ações espalhadas pelos mais distante locais de boa-fé.

FOLHA - As ações são muito parecidas em seu texto.
PIQUET CARNEIRO
- É muito difícil deixar de plagiar. Isso às vezes acontece em ações populares em que aparece um laranja da empresa funcionando como autor da ação. Esse caso é lamentável. Não sei se os juízes poderão fazer alguma coisa para impedir isso.

FOLHA - A Folha pediu para reunir todas as ações no mesmo foro, onde foi a primeira ação.
PIQUET CARNEIRO
- Talvez a saída seja política, dirigir-se ao Conselho Nacional de Justiça, [dizendo que] está havendo abuso do sistema do juizado...

FOLHA - O sr. acha que há abuso?
PIQUET CARNEIRO
- Claramente. Abuso na forma. Você vai se defender porque se sentiu pessoalmente ofendido. É evidente um abuso da forma, do recurso judiciário que tem uma grande nobreza, que é servir ao pobre e não servir como escudo para atacar o jornal porque os autores ou dono não tem coragem de entrar com a ação. Do ponto de vista jurídico, há duas observações: o direito de recorrer ao Judiciário é absoluto, garantido pela Constituição, e o direito à liberdade de imprensa também é um direito constitucional. Um caso como este, mesmo começando no Juizado Especial, pode acabar no STF, por conciliação de normas constitucionais. A Folha está sujeita a ter 5.000 ações. Não consigo pensar em como impedir que isso aconteça.

FOLHA - Os fiéis dizem que passaram a ser alvo de escárnio a partir das acusações contra a igreja.
PIQUET CARNEIRO
- [A ofensa] pode ser à igreja, aos diretores, ao bispo chefe, mas onde está a legitimidade ativa dos fiéis? Dentro dessa teoria, se amanhã o jornal criticar a conduta moral do papa, todos os católicos vão fazer o mesmo. Isso não gera o direito. Precisa ser pessoal.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Record exibe reportagem de 14 minutos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.