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Juizado especial não pode servir como sistema de coerção, afirma advogado
DA SUCURSAL DO RIO
Autor do projeto de lei que
deu origem aos Juizados de Pequenas Causas, embrião dos
Juizados Especiais atuais, o advogado João Geraldo Piquet
Carneiro afirmou que as 56
ações de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus contra a
Folha configuram "uma típica
situação de uso abusivo dos recursos do Judiciário".
Ele foi presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República de 1999 a
2004 e hoje é presidente do
Instituto Hélio Beltrão e sócio
do escritório de advocacia Veirano & Piquet Carneiro.
FOLHA - Qual a sua opinião a respeito das 56 ações de fiéis da Igreja
Universal contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato?
JOÃO GERALDO PIQUET CARNEIRO - A
situação é típica do uso abusivo
de recursos judiciais. Nunca tinha visto o uso do Juizado Especial para uma finalidade obviamente estranha a ele. É para
matérias cíveis de pequena
monta, mas não para se tornar
sistema de coerção sobre a imprensa, numa ação obviamente
articulada. Ninguém propõe 56
ações espalhadas pelos mais
distante locais de boa-fé.
FOLHA - As ações são muito parecidas em seu texto.
PIQUET CARNEIRO - É muito difícil
deixar de plagiar. Isso às vezes
acontece em ações populares
em que aparece um laranja da
empresa funcionando como
autor da ação. Esse caso é lamentável. Não sei se os juízes
poderão fazer alguma coisa para impedir isso.
FOLHA - A Folha pediu para reunir
todas as ações no mesmo foro, onde
foi a primeira ação.
PIQUET CARNEIRO - Talvez a saída
seja política, dirigir-se ao Conselho Nacional de Justiça, [dizendo que] está havendo abuso
do sistema do juizado...
FOLHA - O sr. acha que há abuso?
PIQUET CARNEIRO - Claramente.
Abuso na forma. Você vai se defender porque se sentiu pessoalmente ofendido. É evidente um abuso da forma, do recurso judiciário que tem uma
grande nobreza, que é servir ao
pobre e não servir como escudo
para atacar o jornal porque os
autores ou dono não tem coragem de entrar com a ação.
Do ponto de vista jurídico, há
duas observações: o direito de
recorrer ao Judiciário é absoluto, garantido pela Constituição,
e o direito à liberdade de imprensa também é um direito
constitucional. Um caso como
este, mesmo começando no
Juizado Especial, pode acabar
no STF, por conciliação de normas constitucionais. A Folha
está sujeita a ter 5.000 ações.
Não consigo pensar em como
impedir que isso aconteça.
FOLHA - Os fiéis dizem que passaram a ser alvo de escárnio a partir
das acusações contra a igreja.
PIQUET CARNEIRO - [A ofensa] pode ser à igreja, aos diretores, ao
bispo chefe, mas onde está a legitimidade ativa dos fiéis? Dentro dessa teoria, se amanhã o
jornal criticar a conduta moral
do papa, todos os católicos vão
fazer o mesmo. Isso não gera o
direito. Precisa ser pessoal.
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